Edgard Steffen
"Não largaria ela por mãe nenhuma no mundo.
Tenho paixão por ela. Amo de coração"
Giuliano Ribeiro, irmão de Vitor Hugo, por Amor e Justiça
Este ano estava decidido a não escrever sobre o Dia das Mães. Tantas vezes clamei contra a exploração comercial da efeméride criada para ser memória ou gratidão. Pretendia não cansar a paciência dos que me honram com sua atenção. Três inserções na mídia fizeram-me mudar de ideia.
No longínquo Nepal duas jovens brasileiras são localizadas após o terremoto e contam seu drama à repórter da TV. Na vizinha Votorantim mãe de dois garotos -- trocados no Hospital há dez anos -- ganha indenização por danos morais. Dentro deste jornal, na Seção "Viva com mais saúde", a jornalista Telma Silvério recolhe depoimentos sobre bebês que choram. Entrevistou mães e médico pediatra. Dr. Alvaro Augusto Mendes, pediatra generalista, ensina o que é consenso na especialidade: cólicas e gases são as principais causas do choro. Com experiência e segurança discorre sobre o tema. Quero destacar trechos de sua entrevista. "A criança sente-se segura dentro do útero, pois está alimentada e confortável". "O ambiente familiar, em especial o estado emocional da mãe, conta bastante nessa fase (...) a mãe pode transferir ansiedade e aflição (...) a família equilibrada pode transmitir maior tranquilidade." Nestas frases Dr. Álvaro matou a charada.
Exerci a pediatria e puericultura durante 50 anos. Como todo mundo observei que, salvo exceções de praxe e as ligadas a doenças de natureza cirúrgica, antiespasmódicos e/ou silicones antigases tem ação medíocre ou nula para fazer um bebê novinho aquietar-se e parar de chorar. Estou convencido de que recém-nascidos e bebês nos primeiros meses de vida -- entes muito longe do racional, muito perto do instintivo -- funcionam como antenas parabólicas a captar o ambiente conflituoso ou de insegurança dos adultos que o cercam. Principal emissor, a mãe.
No caso dos meninos de Votorantim, durante meses dona Rita Ribeiro da Silva amamentou o filho que não era seu; criou um vínculo que ela mesmo expressa "Eu me apaixonei por este gordinho". A mãe biológica do gordinho não criou o mesmo vínculo com o Vitor Hugo. Rita lutou e conseguiu ficar com as duas crianças. Hoje, viúva, pretende usar a indenização para comprar uma casa e dar melhor conforto à família.
Duas amigas brasileiras (Monique fisioterapeuta e Daniele médica) estavam curtindo férias no Nepal, quando foram surpreendidas pelo terremoto. A reportagem da televisão as encontrou sãs e salvas, mas assustadíssimas. Monique confessou, ao vivo e em cores, que no pavor do cataclismo, só pensava no conforto e na segurança que o distante lar e o carinho de sua mãe poderiam lhe oferecer. A memória da segurança, amor e conforto que só o colo (e o útero) materno pode oferecer foi capaz de reviver o "quero minha mãe!" contido no imo daquela cidadã.
Em 1908, em Crafton (West Virginia), uma jovem estava entrando em depressão. Sentia falta de sua mãe, mulher lutadora que fundara um clube de mulheres para ajudar feridos da Guerra de Secessão e doentes de tuberculose pulmonar.
Anna Jarvis sentia muita saudades de sua mãe. Jovens de sua comunidade religiosa resolveram ajudá-la. Jarvis propôs aos membros de sua igreja que, num domingo especial, filhos órfãos ostentassem cravos brancos (seriam levados aos túmulos) enquanto cravos vermelhos seriam portados pelos que usufruíssem a bênção de conviver com as genitoras. Deveriam entregar sua flor a estas, em sinal de amor e respeito. A exploração comercial da efeméride, começou aí, com as floriculturas. Em 1914, o Presidente Woodrow Wilson oficializou o segundo domingo de maio como Mother"s Day. Anna Jarvis, que tanto valorizou a maternidade, não teve filhos.
Com estas pequenas histórias da vida real, quero render minhas homenagens às mães que leem esta coluna. Dizia Coelho Neto "Ser Mãe é ter o mundo e não ter nada!/Ser Mãe é padecer no Paraíso!" Contrariando o poeta, ser mãe não é padecer num paraíso. É lutar para que seus filhos se sintam no paraíso do amor, segurança e conforto.
Edgard Steffen é médico pediatra e escreve aos sábados neste espaço (edgard.steffen@gmail.com)
"Não largaria ela por mãe nenhuma no mundo.
Tenho paixão por ela. Amo de coração"
Giuliano Ribeiro, irmão de Vitor Hugo, por Amor e Justiça
Este ano estava decidido a não escrever sobre o Dia das Mães. Tantas vezes clamei contra a exploração comercial da efeméride criada para ser memória ou gratidão. Pretendia não cansar a paciência dos que me honram com sua atenção. Três inserções na mídia fizeram-me mudar de ideia.
No longínquo Nepal duas jovens brasileiras são localizadas após o terremoto e contam seu drama à repórter da TV. Na vizinha Votorantim mãe de dois garotos -- trocados no Hospital há dez anos -- ganha indenização por danos morais. Dentro deste jornal, na Seção "Viva com mais saúde", a jornalista Telma Silvério recolhe depoimentos sobre bebês que choram. Entrevistou mães e médico pediatra. Dr. Alvaro Augusto Mendes, pediatra generalista, ensina o que é consenso na especialidade: cólicas e gases são as principais causas do choro. Com experiência e segurança discorre sobre o tema. Quero destacar trechos de sua entrevista. "A criança sente-se segura dentro do útero, pois está alimentada e confortável". "O ambiente familiar, em especial o estado emocional da mãe, conta bastante nessa fase (...) a mãe pode transferir ansiedade e aflição (...) a família equilibrada pode transmitir maior tranquilidade." Nestas frases Dr. Álvaro matou a charada.
Exerci a pediatria e puericultura durante 50 anos. Como todo mundo observei que, salvo exceções de praxe e as ligadas a doenças de natureza cirúrgica, antiespasmódicos e/ou silicones antigases tem ação medíocre ou nula para fazer um bebê novinho aquietar-se e parar de chorar. Estou convencido de que recém-nascidos e bebês nos primeiros meses de vida -- entes muito longe do racional, muito perto do instintivo -- funcionam como antenas parabólicas a captar o ambiente conflituoso ou de insegurança dos adultos que o cercam. Principal emissor, a mãe.
No caso dos meninos de Votorantim, durante meses dona Rita Ribeiro da Silva amamentou o filho que não era seu; criou um vínculo que ela mesmo expressa "Eu me apaixonei por este gordinho". A mãe biológica do gordinho não criou o mesmo vínculo com o Vitor Hugo. Rita lutou e conseguiu ficar com as duas crianças. Hoje, viúva, pretende usar a indenização para comprar uma casa e dar melhor conforto à família.
Duas amigas brasileiras (Monique fisioterapeuta e Daniele médica) estavam curtindo férias no Nepal, quando foram surpreendidas pelo terremoto. A reportagem da televisão as encontrou sãs e salvas, mas assustadíssimas. Monique confessou, ao vivo e em cores, que no pavor do cataclismo, só pensava no conforto e na segurança que o distante lar e o carinho de sua mãe poderiam lhe oferecer. A memória da segurança, amor e conforto que só o colo (e o útero) materno pode oferecer foi capaz de reviver o "quero minha mãe!" contido no imo daquela cidadã.
Em 1908, em Crafton (West Virginia), uma jovem estava entrando em depressão. Sentia falta de sua mãe, mulher lutadora que fundara um clube de mulheres para ajudar feridos da Guerra de Secessão e doentes de tuberculose pulmonar.
Anna Jarvis sentia muita saudades de sua mãe. Jovens de sua comunidade religiosa resolveram ajudá-la. Jarvis propôs aos membros de sua igreja que, num domingo especial, filhos órfãos ostentassem cravos brancos (seriam levados aos túmulos) enquanto cravos vermelhos seriam portados pelos que usufruíssem a bênção de conviver com as genitoras. Deveriam entregar sua flor a estas, em sinal de amor e respeito. A exploração comercial da efeméride, começou aí, com as floriculturas. Em 1914, o Presidente Woodrow Wilson oficializou o segundo domingo de maio como Mother"s Day. Anna Jarvis, que tanto valorizou a maternidade, não teve filhos.
Com estas pequenas histórias da vida real, quero render minhas homenagens às mães que leem esta coluna. Dizia Coelho Neto "Ser Mãe é ter o mundo e não ter nada!/Ser Mãe é padecer no Paraíso!" Contrariando o poeta, ser mãe não é padecer num paraíso. É lutar para que seus filhos se sintam no paraíso do amor, segurança e conforto.
Edgard Steffen é médico pediatra e escreve aos sábados neste espaço (edgard.steffen@gmail.com)
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