terça-feira, 10 de novembro de 2015

Trilhos urbanos

Jornal Cruzeiro do Sul

Editorial


Os sorocabanos que residem ou trabalham em bairros que margeiam os trilhos da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, motivo de orgulho no século passado, hoje vivem preocupados com o mau uso que é feito da via férrea em seu trecho urbano. São desocupados e pessoas sem moradia que se misturam com marginais e traficantes que usam o corredor que corta a cidade para venda de drogas, rota de fuga ou esconderijo, entre outros atos ilícitos. O mesmo acontece com aqueles que residem nas imediações do trajeto da antiga estrada de ferro que liga Sorocaba a Votorantim, há tempos desativada, e que estando completamente abandonada, serve de esconderijo para todo tipo de delinquente. Essa antiga ferrovia, que transportou funcionários e parte da produção das indústrias Votorantim, ao ser abandonada transformou-se em um transtorno para a cidade, pois corta uma região densamente povoada e tem inúmeras passagens de nível, a começar pela existente no início da rua 15 de Novembro.

Como mostrou a reportagem publicada por este jornal no último domingo (Ferrovia Moradores reclamam de falta de segurança pág. A7, 8/11) da repórter Larissa Pessoa, a linha férrea hoje é um local que traz muitos problemas, sendo a falta de segurança o principal deles. Como essa situação é antiga e vinha se repetindo ao longo do tempo, há três anos foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a empresa concessionária, a Rumo-ALL e o Ministério Público, para que a empresa isolasse os trilhos com alambrados numa extensão de 9 quilômetros, correspondente ao trecho urbano da estrada de ferro. As cercas foram implantadas pela Rumo-ALL, mas logo em seguida começaram a ser rompidas em diversos pontos com os mais diversos objetivos. Na região do bairro da Árvore Grande, por exemplo, no início da avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes, um trecho do alambrado foi destruído dias depois de sua instalação porque muitos moradores e trabalhadores têm o costume de atravessar os trilhos, apesar de todos os perigos, para alcançar a região da Vila Rica e um ponto de ônibus ali existente. O alambrado foi refeito inúmeras vezes, mas sempre volta a ser rompido. Na região central, nas proximidades da praça Lions e do viaduto Jânio Quadros, há outra fonte de problemas. Pessoas sem teto aproveitam que a ALL deixa parados antigos vagões de carga e os transformam em moradia ou refúgio. Na região do bairro Trujillo, encontra-se outra fonte de problemas. Ali os alambrados são constantemente cortados para que a via férrea seja utilizada como local de venda e tráfico de drogas. Marginais também conhecem o local e o usam como rota de fuga após praticar furtos e assaltos, uma vez que as viaturas de polícia não conseguem acompanhar o traçado da ferrovia. Nas proximidades do Jardim Zulmira, mais precisamente sob o viaduto da rua Humberto de Campos, existe uma espécie de cracolândia, um território livre para refúgio de dependentes químicos. Um antigo viaduto que existia no local, não foi destruído para a construção do novo, em nível mais elevado. Esse antigo viaduto, protegido dos olhares dos transeuntes, é ponto de encontro e território livre para consumo de drogas.

Sabe-se que a Rumo-ALL tem estudos para alterar o traçado da ferrovia retirando-o do centro da cidade, mas não se sabe quando esse investimento acontecerá. A empresa informou à reportagem que tem feito a parte dela. Construiu os alambrados e os repara, periodicamente, mas lembrou que seus funcionários não têm poder de polícia para intimidar aqueles que rompem a cerca por motivos diversos. Ela informa que está à disposição das autoridades para dialogar sobre a questão. Causa estranheza, entretanto, a posição do Ministério Público em não querer se manifestar sobre o assunto. Com essa posição, chega-se a um impasse, pois de um lado temos a concessionária que cumpriu sua parte e encontra dificuldades em manter o isolamento da via férrea devido à ação de marginais ou pessoas que simplesmente querem cortar caminho e atravessar os trilhos, e de outro o Ministério Público que precisa cobrar o cumprimento satisfatório do termo de ajustamento de conduta. Fato é que as vias férreas que cortam Sorocaba -- tanto a antiga Sorocabana como a ferrovia do Grupo Votorantim -- são fontes de vários problemas para a segurança da cidade e para quem mora nas imediações. E alguma medida precisa ser tomada.

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