Jornal Cruzeiro do Sul
Depois de esperar durante cinco dias por atendimento na Santa Casa de Sorocaba, a paciente Benedita da Silva Miranda, de 64 anos, teve alta médica antes mesmo de qualquer espécie de assistência na unidade. Ela é mais uma vítima do jogo de empurra que mantém pacientes na fila por vaga na rede pública hospitalar. Até ontem, segundo nota do Serviço de Comunicação (Secom) do Paço, havia 87 solicitações pendentes na Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross), inclusive de pacientes graves nas UPHs aguardando vaga na sala de emergência.
Acometida por um câncer, Benedita foi mantida na mesma UPA do Éden até a madrugada de terça-feira. Nessa oportunidade, seus familiares foram comunicados de que ela seria transferida ao hospital o que acabou acontecendo. Ao chegar à Santa Casa, porém, segundo relato de parentes, duas ginecologistas que estavam de plantão disseram que nada poderiam fazer e que a doente teria de voltar para casa.
De acordo com as médicas, ao contrário da informação dada, não existiria vaga; por outro lado, continuaram as especialistas, o setor de oncologia da instituição foi desativado e somente o Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) poderia receber o caso. "Ficamos indignados. Isso é crime de omissão de socorro. Ninguém merece passar por isso", protestou Jennifer Nascimento, sobrinha de Benedita.
Entre voltar à UPA do Éden, onde durante o tempo em que lá permaneceu tomou soro e dipirona para controlar a febre, providências que, ainda segundo a família, em nada ajudaram, e ficar em casa, esta segunda alternativa foi a escolhida. A paciente precisa, de acordo com pareceres médicos, submeter-se urgentemente a uma cirurgia.
Outros casos
Quem também aguarda para ser transferido é o aposentado Ademir Quintiliano da Costa. Mantido desde segunda-feira na UPH da zona leste, ele sofreu um infarto, mas por falta de vaga tem de ficar na fila de espera. A filha do paciente, Lílian, esteve ontem na Secretaria da Saúde do Município para pedir solução ao problema.
No Hospital Municipal de Votorantim, que não realiza cirurgias, dois pacientes também esperam pelo atendimento. Ambos sofreram fratura do fêmur e precisam passar por cirurgia. Um deles, Silvio Roberto Costa, de 56 anos, está há dois meses na unidade e até agora não recebeu assistência. O motivo é o mesmo: faltam vagas na rede conveniada, ou mais exatamente no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS).
O segundo paciente, Sebastião Luís Simão, também sofre com a demora. Seu filho, Ilton José Simão, disse que não sabe mais a quem recorrer para que o pai receba o tratamento. "Estamos perdidos. A saúde pública morreu. Ninguém mais dá valor à vida humana, ou tem o mínimo de consideração. Isso não se faz com o cidadão. Meu pai e muita gente contribuem para ter assistência médica, mas está entrevado numa cama esperando que cuidem dele".
Em nota, a Secretaria de Saúde daquele município informou que "não há demora para avaliação da necessidade da cirurgia pelo CHS. Em virtude da superlotação da clínica ortopédica do conjunto, o paciente após avaliado retorna à cidade de origem, onde fica em tratamento aguardando a informação da data da cirurgia no Conjunto Hospitalar para nova transferência. No momento, o CHS é o único serviço do SUS que está realizando procedimentos de alta complexidade em ortopedia na região".
Também por meio de sua assessoria, o CHS esclareceu que os pacientes Sebastião Luiz Simão e Silvio Roberto Costa passaram por avaliação na unidade e foi constatado que ambos os casos são eletivos (não urgentes); ou seja, eles teriam condições de aguardar pela programação da cirurgia na unidade de origem.
Já com relação aos pacientes Benedita da Silva Miranda e Ademir Quintiliano da Costa, ambos de Sorocaba, o CHS afirmou que a competência do atendimento é do município. Em resposta à reportagem, a Secretaria Municipal da Saúde informou que o paciente Ademir Quintiliano aguarda vaga na Santa Casa para ser avaliado pelo cardiologista. Ele já está como prioridade, encontra-se estável, mas aguarda pela disponibilização de leito.
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