quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Cem anos depois, primeira vez entre Corinthians e Palmeiras ainda 'vive'

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Rafael Bullara

Primeiro Dérbi entre os clubes no ano do centenário acontece nesta quarta-feira na Arena. Encontro que deu início a uma das maiores rivalidades do futebol continua presente

Grimaldi e Amílcar ainda fazem o primeiro Dérbi 'viver'
Foto: Lance! / LANCE

Corinthians e Palmeiras se encontram pela primeira vez nesta quarta-feira no ano em que é celebrado o centenário do clássico, a ser completado em 6 de maio. Quase cem anos depois do primeiro jogo, o Dérbi que abriu caminho para uma das maiores rivalidades do futebol mundial ainda vive na cidade de São Paulo com nomes como Amílcar Barbuy Filho, de 92 anos, e Marcelo Grimaldi, de 29 anos de idade. 

Seu Amílcar é filho de Amílcar Barbuy, responsável por jogar no ataque e comandar o Corinthians no dia 6 de maio de 1917 no campo da Antarctica. Do lado verde, Marcelo é bisneto de Attilio Grimaldi, zagueiro do Palestra Itália naquela tarde de domingo e que saiu vencedor pelo placar de 3 a 0, graças aos três gols de Caetano. 

- Meu pai era um sujeito reservado. Falava pouco, mas tinha firmeza e autoridade. Como não existia a função de técnico e ele exercia essa liderança, também era o responsável por comandar o Corinthians. Foi assim no primeiro jogo contra o Palestra. Em casa ele era igual, firme e líder. Quando era criança eu podia fazer tudo, menos o impossível - recorda Amílcar, com um largo sorriso no rosto ao falar da personalidade do pai dentro e fora de campo. 

Por mais que tenha defendido o Corinthians no encontro inicial contra o rival, Amílcar também teve ligação com o Palestra desde o início. Por ser "oriundi", descendente de italianos, ele participou da fundação do Palestra Itália e esteve em campo no primeiro jogo do novo clube, na vitória sobre o Savóia, em janeiro de 1915 em Votorantim. A ligação voltaria a ser maior oito anos mais tarde por conta de uma situação inusitada.

Um dos primeiros ídolos do Corinthians, Amílcar conseguiu com que o pai, Giovanni Barbuy, assumisse o bar da sede social do clube. Mas em 1923 a sede corintiana mudou de local e Giovanni perdeu o espaço. Inconformado, Amílcar deixou o Corinthians e se transferiu para o Palestra, onde ficou até 1930. Sempre líder, foi capitão da equipe verde e branca enquanto esteve lá. 

- Eu sou corintiano, mas tenho grande simpatia pelo Palestra. O que eles fizeram pelo pai foi importante. Na verdade, quando teve o problema com o bar lá no Corinthians e meu pai decidiu sair, ele achava que o clube iria chamar ele de volta, mas não aconteceu. Daí ele foi para o Palestra e acabou enterrado com a bandeira do Palmeiras quando morreu em 1965 - lembra Amílcar, que tem filhos e netos palmeirenses apesar da ligação com o rival. 

Chamado por Benito Mussolini para jogar e comandar a Lazio, Amílcar viveu na Itália com a família entre 1930 e 1932. O período só não foi maior porque a esposa sentiu saudade da família e não se adaptou ao frio europeu. Amílcar também defendeu a Seleção Brasileira e foi campeão Sul-Americano de 1919 e 1922. O filho guarda a camisa usada na competição de 1919 como uma das principais lembranças deixadas pelo pai. 

Se do lado preto da rivalidade a lembrança é da primeira geração, do lado verde é da terceira. Marcelo Grimaldi, aos 29 anos, é bisneto de Attilio Grimaldi. Zagueiro, ele formou dupla com Bianco no Palestra Itália. 

- Desde garoto eu ia na casa da minha avó e via um quadro do meu bisavô com o uniforme. Meu pai sempre falava da história dele e quando cresci entendi o que aquela imagem representava - diz Marcelo, sócio do clube e também sócio-torcedor do Palmeiras. 

- Sempre fui palmeirense e procuro ir nos jogos com o meu pai. Palmeiras e Corinthians é outro campeonato para mim. Na vitória do ano passado com o gol do Cleiton Xavier eu já havia comprado ingresso e ele não pôde ir. Fui com a minha esposa e pedi para ela não usar nenhuma peça de roupa preta. Na hora de sair para o estádio, estava vestida de verde e com meia branca porque na manhã daquele dia vimos uma matéria na TV que contava a história da final de 1993. Pura superstição. Ainda bem que deu certo e vencemos - conta Marcelo.



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Cheio de recortes do bisavô, o palmeirense lamenta não ter nenhuma camisa usada por Grimaldi nos tempos do Palestra Itália e invariavelmente questiona a avó para saber se não há nada em meio aos registros guardados: 

- Sempre tive coleção de camisas do Palmeiras, mas nenhuma dele. Quando vou até a casa da minha avó eu pergunto se ela não tem nenhuma lá. 

Depois de encerrar a carreira, Grimaldi ainda tornou-se árbitro de futebol. 

Quem são eles:

Amílcar pelo Corinthians em 1914 (Foto: Eduardo Viana)

Amílcar 
Nome: Amílcar Barbuy 
Nascimento: 29/4/1893 (Rio das Pedras-SP - hoje é Piracicaba) 
Falecimento: 24/8/1965 
Jogos e gols pelo Corinthians: 210 jogos / 89 gols 
Anos no Corinthians: Entre 1913/1923 
Jogos e gols pelo Palestra Itália: 100 jogos / 11 gols 
Anos no Palestra Itália: 1915 e 1924/1930

Imagem de Grimaldi pelo Palestra Itália (Foto: Arquivo Pessoal)

Grimaldi 
Nome: Attilio Grimaldi 
Nascimento: 15/8/1896 ( São Paulo) 
Falecimento: 6/9/1958 
Jogos pelo Palestra Itália: 114 / não marcou gol 
Anos no Palestra Itália: 1916/1924
Amílcar Barbuy Filho, 92 anos
Foto: Eduardo Viana / LANCE!
Amílcar com a camisa do pai, usada no Sul-Americano de 1919

Amílcar com o livro do Dérbi
Foto com o time do Corinthians em 1914
Figurinha de Grimaldi em marca de cigarro
Marcelo Grimaldi, é bisneto do zagueiro Grimaldi
Foto: Vanessa Ramos Grimaldi / LANCE!
Registro do fim da zaga entre Bianco e Grimaldi
foto: Arquivo Pessoal / LANCE!
Registro de Grimaldi, no fim de carreira
Foto: Arquivo Pessoal / LANCE!

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