29 Maio 2017 | 03h00
Atualizado 29 Maio 2017 | 15h45
Correções: 29/05/2017 | 15h45
Em 193 municípios do interior, nível de problemas é muito alto, conforme a Confederação Nacional de Municípios
Há preocupação até em municípios menores Foto: Epitácio Pessoa/Estadão
SOROCABA - O crack não para de avançar por São Paulo. Dos 645 municípios do Estado, pelo menos 558, incluindo a capital, enfrentam problemas relacionados à droga, conforme mapeamento do Observatório do Crack, da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Em 193 cidades do interior, o nível desses problemas é muito alto, segundo o ranking, atualizado em tempo real com informações de prefeituras. Em outras 259, o alerta é médio; e, em 105, baixo.
Apenas 20 cidades disseram não ter problemas com o crack. Outras 67 não responderam oficialmente o levantamento (mais informações abaixo). De 608 municípios paulistas ouvidos este mês (incluindo dados parciais), 92% afirmaram enfrentar problemas com a circulação de drogas, enquanto 95% confirmaram problemas com o consumo delas. As prefeituras informaram ainda que as principais áreas afetadas são Saúde (67,1%), Assistência Social (57,5%) e Segurança (49,1%).
O Observatório do Crack inclui grandes cidades do interior na “lista vermelha” da droga, entre elas Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Bauru e Marília. O avanço das drogas pelo interior, mostrado pelo Estado em reportagem especial em 2014, não teve melhora com o passar do tempo, segundo Eduardo Stranz, consultor da CNM. E a droga continua avançando em municípios menores e rurais, como Campos Novos Paulista, Planalto e Colômbia, com menos de 7 mil moradores.
Segundo ele, o fato de a maioria dos municípios responder espontaneamente ao questionário indica a gravidade do problema. “São prefeituras que têm a coragem de se expor porque é algo que afeta muito a população. É como um grito de socorro”, disse. Apesar disso, praticamente nada mudou na política de governo. “Não houve investimento e o recurso que estava previsto em alguns programas sofreu contingenciamento.”
Número de usuários. Procurada, a Secretaria da Saúde do Estado informou ter ampliado em seis vezes o número de vagas para dependentes químicos, de 500 em 2011 para 3,3 mil atualmente, em serviços próprios ou conveniados. Desse total, 2 mil vagas, ou 60%, estão no interior (integralmente custeadas pelo Estado). O encaminhamento é feito pelos municípios. A pasta destacou que a internação só é indicada para casos graves. O Estado ainda mantém o Serviço de Atenção e Referência em Álcool e Drogas (Sarad) em Botucatu, onde foram realizados 13 mil atendimentos desde 2014. Das cerca de 2 mil internações na unidade, 77% aconteceram de forma voluntária, 13% involuntária e 10% compulsória.
O Observatório trabalha agora em uma nova metodologia para estimar a população envolvida com o crack no Estado, já que não há dados precisos. A Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) estima o usuário regular em 0,5% da população - o equivalente a cerca de 164 mil pessoas no Estado, desconsiderando a capital.
Só 20 municípios não têm relatos; dramas familiares se acumulam
Apenas 20 cidades disseram não ter problemas com o crack. Outras 67 não responderam oficialmente o levantamento. Mas entre elas está, por exemplo, Sorocaba. A cidade, de 652 mil habitantes, tem 49 pontos de consumo identificados em levantamento feito pela Câmara dos Vereadores.
Outras cidades que não responderam à consulta são Campinas, Piracicaba, Jundiaí e Franca, mas em todas há relatos de pontos de consumo coletivo de crack. Em Votorantim, que já aparece no ranking oficial com nível médio de problemas, a reportagem levantou cinco minicracolândias apenas na região central. Foi numa delas que I., de 23 anos, se enfurnou com o filho de 3 meses, após fugir de casa.
O marido, o pedreiro José Diniz de Oliveira, de 47, a encontrou às 5 horas, em um local conhecido como “bosteiro”, no meio de uma dezena de usuários e a levou para casa. “Não deixei mais ela sair com a criança, mas ela chamou a polícia. Quando vi, a viatura estava na frente de casa. Expliquei aos policiais, mas eles disseram que era um direito dela e, se eu a retivesse, eles me prenderiam.”
A jovem mãe desapareceu outra vez com o filho. Oliveira recorreu à Justiça e conseguiu a guarda do bebê. A mãe continuou no crack.
Na quinta-feira, ele havia rodado pelas “biqueiras” (pontos de venda) e minicracolândias sem encontrar a mulher. Sua mãe o ajuda a cuidar do bebê.
Sem desistência. Ele conta que I. era usuária, mas tinha abandonado o crack quando a conheceu. “Ela ficou dois anos sem usar, achei que estava livre e nos casamos. Um dia, já grávida, fugiu e foi parar em uma biqueira. Consegui internação em uma clínica, mas ela ficou só 30 dias, saiu e voltou a usar. Aí descambou. Dei uns 20 celulares e ela perdeu todos para a droga. E está assim, sai, fica três dias fora e volta arrebentada. Não vou abandoná-la, sei que é uma doença e precisa de ajuda.”
Com a ajuda de um vereador de Sorocaba, ele conseguiu na sexta uma vaga para que ela seja internada.
Correções
29/05/2017 | 15h45
O texto acima foi atualizado às 15h45 para correção do nome do consultor da Conferederação Nacional de Municípios (CNM). Ao contrário da versão original, ele se chama Eduardo Stranz, não Ernesto Stranz.
http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,crack-ameaca-558-das-645-cidades-de-sao-paulo,70001817172

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