sexta-feira, 14 de julho de 2017

Coletivo Cê estreia espetáculo '1989' neste sábado

Jornal Cruzeiro do Sul

Eliane Ribeiro, Giuliana Boa e Hércules Soares ccompõem o elenco de intérpretes-criadores - CAU PERACIO/DIVULGAÇÃO


Imagine entrar em uma máquina do tempo e viajar de volta para o ano de 1989. É essa sensação que o Coletivo Cê propõe ao público no espetáculo 1989, que estreia neste sàbado (15), às 20h, no Teatro Municipal Francisco Beranger, em Votorantim. A entrada funciona no sistema "pague quanto puder" e os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência no saguão do teatro (av. Ver. Newton Vieira Soares, 291).

Realizado com fomento do Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria de Estado da Cultura, a peça de 60 minutos de duração combina nostalgia com reflexão acerca dos fatos marcantes que fizeram de 1989 um ano histórico na política brasileira.

A temporada no Beranger prossegue nos dias 15, 16, 19, 20, 22, e 23 de julho, sempre às 20h. O espetáculo tem acessibilidade para pessoas com deficiência ou dificuldade de locomoção e deficientes auditivos (uma tradutora e intérprete de Libras acompanhará todas as apresentações).

Com direção de Júlio Mello e dramaturgia criada coletivamente, a peça acompanha o cotidiano de uma típica família interiorana -- pai, mãe, filha adolescente e avô -- no ano de 1989 em frente ao televisor. A programação televisiva "zapeada", com fragmentos de fatos marcantes, conduz a dramaturgia, que sugere um mergulho lúdico no tempo para reflexão de temas atuais como relacionamento interpessoal, alienação e pós-verdadade.

Mello também integra o elenco de intérpretes-criadores ao lado de Eliane Ribeiro, Giuliana Bona e Hércules Soares. O espetáculo contou com o olhar do bailarino e crítico de dança Thiago Alixandre, integrante do Coletivo O12, que assinou a "gramática gestual", como ele mesmo escolheu nomear, e destaca o trabalho do jovem maquiador Sam Alex, de apenas 16 anos. Já o figurino ficou por conta de Felipe Cruz, figurinista e carnavalesco sorocabano, e foi todo construído com peças de brechó escolhidas a dedo pelo próprio para retratar a época.

A pesquisa para o novo espetáculo teve início em outubro de 2016, e o ponto de partida mais uma vez foi o bairro da Chave, em Votorantim, vila industrial construída em 1892 que, além de ser abrigar a sede do grupo por cinco anos, foi fonte de pesquisa para os espetáculos Desmedida (2013) e Cunhãntã (2014).

Júlio Mello comenta que o espetáculo surgiu a partir de um "mapeamento afetivo" da rua Willian Snapp, chamada pelos próprios moradores de "Rua do Meio". Durante a pesquisa in loco, a princípio para tomada de depoimentos dos moradores mais populares da rua, o grupo constatou que as janelas das casas, todas pequenas e geminadas, com as portas para a rua, eram iluminadas pela luz dos televisores onipresentes. "Percebemos que esse era o único objeto presente em todas as casas. Essas luzes [da televisão] refletiam as subjetividades daqueles sujeitos", comenta. "Chegamos, então, ao enredo do espetáculo: uma televisão que conta os principais acontecimentos de 1989 a partir de recortes da sua própria programação" complementa.

A dramaturgia ditada pela televisão, comenta o diretor, foi inspirada no documentário Um dia na vida, do cineasta Eduardo Coutinho. O filme, uma colagem de trechos de comerciais e programas de televisão aberta gravados pelo cineasta em um único dia, jamais estreou em circuito comercial porque seu conteúdo inclui trechos de obras cujos direitos não foram liberados. "Com base em depoimentos e também nas nossas referências pessoais [da década de 1980], a gente percebeu que o que mantinha as pessoas muito próximas, mas, ao mesmo tempo, distantes nos afetos, era a televisão. É ela que narra a história e os personagens são influenciados", complementa Júlio.

Para a atriz Eliane Ribeiro, um dos maiores desafios desse espetáculo foi a construção física das personagens, que partiu de um estudo sobre máscaras teatrais e manipulação de bonecos. "Queríamos que as figuras em cena parecessem grandes bonecos sendo manipulados por fios invisíveis", revela.

A exemplo dos demais espetáculos do grupo, todos criados com o desejo de revisitar as memórias de capítulos históricos importantes -- ora do bairro da Chave, ora da vidas das mulheres operárias --, a nova montagem foi desenvolvida a partir de uma profunda pesquisa sobre a história recente do Brasil, tendo como fonte primária as entrevistas com moradores do Bairro da Chave e as memórias da infância do próprio elenco.

Júlio Mello assinala que o ano de 1989 foi escolhido pelo fato de ser pontuado com o sentimento de esperança de um futuro melhor, já que após 21 anos de ditadura e 8 anos de voto indireto, o País voltaria a escolher seu presidente da República. "Foi um ano muito marcante, difícil de passar despercebido por nossos olhos", comenta, citando que a peça, entre outros fragmentos, exibe a polêmica cobertura jornalística do debate entre os candidatos à Presidência da República, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, às vésperas das eleições. "De certa forma, acaba sendo um teatro documental, porque a televisão nos deu um material muito sólido, baseado no real, para construírmos uma narrativa com o nosso olhar", complementa.

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