sábado, 9 de maio de 2020

Voluntários brasileiros se adaptam para manter ajuda humanitária na África: 'Comida precisa chegar'

Por Carlos Dias, G1 Sorocaba e Jundiaí


Segundo a OMS, 190 mil pessoas na África podem morrer de Covid-19 se as medidas de contenção falharem.

Brasileiros mantêm o trabalho em meio ao coronavírus na África — Foto: Arquivo pessoal/Missão África
A pandemia de coronavírus não afastou parte de missionários e voluntários brasileiros da África. Talita Galero Barbosa, missionária em Moçambique, voltou para Votorantim, interior paulista, para tratar a saúde e não conseguiu retornar em março, com os aeroportos fechados. De longe, passou a ajudar a arrecadar fundos para manter o projeto que ensina e alimenta crianças carentes em Beira.
A mesma região foi atingida pelo ciclone em 14 de março de 2019 e deixou ao menos 600 mortos. Desde então, os esforços para a reconstrução tiveram que ser redobrados também para a prevenção da Covid-19.
"Nosso foco é prestar assistência a crianças órfãs, portadoras de HIV e em situação de vulnerabilidade social. Também apoiamos financeiramente jovens universitários, além um curso de costura com o objetivo de gerar renda para viúvas e mães solteiras", disse ao G1.


Brasileiros ajudam população na África — Foto: Arquivo pessoal/Missão África

Na região da cidade do Dondo, em Moçambique, o voluntário Luiz Carlos Mendes trabalha pela ONG Missão África, que cuida da educação de 680 crianças de 4 a 6 anos, em combate à quantidade de crianças com desnutrição crônica.
Com as medidas impostas na pandemia, o grupo teve que se readaptar. Segundo o brasileiro, a ação está focada na orientação, no suporte de materiais, como as máscaras. Além disso, instalaram nas comunidades equipamentos para as pessoas lavarem as mãos e o fornecimento de álcool em gel.
"De uma forma ou de outra essa comida precisa chegar na casa das crianças. Nós entendemos, com muita convicção, que para o momento como esse que a gente precisa estar aqui. São momentos como esse que a gente tem que fortalecer nossos pés, coração, fé", disse.

Grupo de brasileiros tenta manter ação e levar alimentos — Foto: Missão África/Arquivo

Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), 190 mil pessoas na África podem morrer de Covid-19 e 44 milhões de pessoas podem ser infectadas no primeiro ano da pandemia se as medidas de contenção falharem.
A pesquisa foi baseada em previsões em 47 países, com uma população de cerca de um bilhão. Segundo a OMS, os dados baseiam-se no risco de transmissão e as variáveis cada país. Medidas de contenção, que incluem rastreamento de contato, isolamento, práticas de higiene pessoal e distanciamento físico podem retardar a transmissão do vírus.
No entanto, o distanciamento sociais é, segundo o voluntário brasileiro, um dos maiores desafios em algumas regiões, com a que a Missão África atua.
"Dificilmente você acha uma casa com menos de cinco pessoas. Não são nem casas, são lonas. A maioria dessas casas é feita de lonas e um espaço muito pequeno e eles entram praticamente pra dormir", detalha.

Rotina adaptada
Na Angola, há 8 anos o projeto Aldeia Nissi atende mais de 1.100 crianças e gera cerca de 50 empregos diretos, leva ajuda a viúvas e famílias da região. Segundo dados do grupo, há 705 crianças matriculadas no ensino infantil, 365 jovens no ensino fundamental e 110 no ensino médico.
Os missionários de Nissi estão na Província de Bié, que serviu como campo de refugiados durante a guerra na região. A missionária Weilla Marta é um dos brasileiros na causa e que decidiram não retornar ao Brasil.
"A gente tem saudade da nossa família, dos nossos amigos e eu também sou casada e meu marido é daqui, é angolano. O governo deu liberação para qualquer estrangeiro que quisesse sair e cumprir a quarentena no seu país. Mas esse é o momento que as pessoas mais precisam."


Aldeia Nissi adaptou distribuição de comida em Angola — Foto: Arquivo pessoal/Aldeia Nissi

Para evitar o contágio, todos mudaram a rotina. As crianças assistidas ficaram sem aula, que é a maior atividade do grupo. Contudo, o fator que preocupa os missionários é a colaboração que mantém o projeto ativo e grande parte era arrecada no Brasil com apresentações de teatro em igrejas e vendas de produtos.
"No Brasil, a pandemia está muito pior do que aqui. Querendo ou não a vida das pessoas lá mudou, as igrejas fecharam, os teatros fecharam. Boa parte do mantimento vinha do teatro. No início foi bem complicado manter o comprometimento que nós já temos com essas pessoas aqui, mas as coisas têm sido encaminhadas e a gente recebeu ofertas de comida. Nesse momento acho que todo mundo virou um pouco missionário", afirmou.
Até sexta-feira (8), o país registrou de 36 casos positivos, com dois óbitos, 11 recuperados e 23 internados. O epicentro da doença é a província de Luanda, com 85% dos infectados entre bebês e 49 anos, com predominância do sexo masculino.

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