Embora continue na fase laranja do plano São Paulo de reabertura das atividades econômicas, na prática a cidade regrediu à fase vermelha
SOROCABA - Com todos os leitos de UTI da rede pública para a covid-19 ocupados e três pacientes à espera de internação, Sorocaba voltou a fechar o comércio nesta segunda-feira (22). Embora continue na fase laranja do plano São Paulo de reabertura das atividades econômicas, na prática a cidade regrediu à fase vermelha, de maior restrição. Na região central, equipes da fiscalização com apoio da Guarda Civil Municipal percorriam as ruas para garantir o cumprimento da medida.
Na manhã desta segunda, a rede privada também estava com os leitos de UTI para covid lotados. "Esses pacientes estão sendo assistidos na UPH (Unidade Pré-Hospitalar) da zona leste, até que haja possibilidade de transferi-los para a UTI de um hospital", disse o médico Fernando Brum, do comitê de combate ao vírus. Ele afirmou que o momento não é de pensar em fases, mas de salvar vidas. "Estamos em vias de aumentar a disponibilidade de leitos em dois hospitais, mas até lá a população precisa colaborar. Com a flexibilização anterior do comércio, houve muito abuso, um desleixo muito grande por parte da população", disse.
Com o decreto publicado no sábado (20), apenas o comércio essencial voltou a funcionar. A medida vale até sexta-feira (26), quando será feita uma reavaliação. As lojas de shoppings amanheceram fechadas, mas muitos consumidores se deslocaram para Votorantim, cidade vizinha, onde o comércio ainda funciona. Um grande shopping, localizado sobre a divisa entre as duas cidades, abriu parte das lojas que estão no território vizinho, enquanto as de Sorocaba permaneciam fechadas. A cidade chegou a 3.278 casos e 92 mortes pelo coronavírus.
O comerciante João Amaral, dono de uma loja de armarinhos, lamentou o fechamento. "Esse vai-e-vem só prejudica, pois ficamos impedidos de planejar o trabalho dos funcionários e fazer estoques. Os prejuízos vão se avolumando a cada dia." Gerente de uma loja de calçados, Reginaldo Alves criticou a mudança de fase. "Tínhamos começado a engrenar as vendas, com a clientela voltando, agora vem essa nova ordem. Acho que a prefeitura deveria seguir na faixa laranja e aumentar a fiscalização, pois estava tendo abuso."
Restrições
Em Campinas, que na manhã desta segunda confirmou mais quatro mortes e 350 casos, totalizando 213 óbitos, e 5.751 doentes, o comércio amanheceu fechado. O decreto do prefeito Jonas Donizette (PPS) suspendeu também as cirurgias eletivas para desafogar a rede hospitalar, próxima da saturação. A cidade está na fase laranja, mas adotou restrições da fase vermelha. Na rede pública municipal, a lotação dos leitos de UTI atingiu 100%.
De manhã, consumidores desavisados foram aos shoppings e às ruas do comércio central, causando aglomeração. Algumas lojas estavam atendendo em sistema drive-thru. A prefeitura informou que toda fiscalização estava mobilizada. Os shoppings da cidade amanheceram com as lojas fechadas, mantendo o funcionamento de drogarias, supermercados e clínicas médicas. Mesmo com o fechamento no comércio, a frota de ônibus do transporte público circulava sem alteração no número de veículos.
Tudo aberto
A prefeitura de Marília não seguiu as determinações do Plano São Paulo e manteve o comércio aberto, nesta segunda. A cidade foi rebaixada da fase laranja para a vermelha e o comércio não poderia abrir. Lojas de rua e dos shoppings foram autorizadas a funcionar durante quatro horas. O prefeito Daniel Alonso (PSDB) disse que uma liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo deu autonomia para deliberar localmente sobre as medidas contra o coronavírus. "Marília está na faixa verde em quatro dos quesitos do Plano São Paulo. Em apenas um fica na laranja, portanto, poderíamos estar até numa faixa melhor, mas, por prudência, vamos ficar na laranja."
A cidade, com 262 casos e 7 óbitos, tinha 18 dos 34 leitos UTI ocupados com pacientes da covid-19. "Recebemos mais respiradores e estamos habilitando para chegarmos a 56 leitos", disse o secretário da Saúde, Cassio Luis Pinto Junior. Conforme o prefeito, o problema não está no comércio e ou nos shoppings, pois há fiscalização. "O problema está nos fins de semana, nas chácaras particulares, onde se veem filas quilométricas de carros, onde muito provavelmente há pessoas se aglomerando, se abraçando. Não estamos em época de Carnaval ou Copa do Mundo e as pessoas precisam ter consciência", disse.
Uma liminar da justiça autorizou uma festa de casamento com um grande número de convidados, neste sábado (20), em Marília. O juiz Walmir Idalêncio dos Santos Cruz, da Vara da Fazenda Pública, invocou a liminar do Tribunal de Justiça que deu autonomia ao município para as medidas em relação à pandemia. "Trata-se de local aberto, amplo e que não favorece a aglomeração de pessoas (conforme as fotografias constantes da inicial), de modo que, desde que tomadas as medidas de cautela necessárias, não se verifica, ao menos em sede de cognição sumária, o risco de propagação da Covid-19 em razão do evento", escreveu o magistrado. A festa foi realizada em uma chácara da cidade.
Justiça
Em Registro, no Vale do Ribeira, o prefeito Gilson Fantin (PSDB) entrou na justiça com pedido de liminar para se manter na faixa laranja e manteve o comércio aberto. A região foi reclassificada para a vermelha, o que obrigaria o fechamento do comércio. Ele alega que os leitos de UTI têm apenas 20% de ocupação, enquanto 30% das vagas de enfermaria estão em uso. Até o fim da tarde, o pedido da prefeitura não tinha sido julgado.
A cidade tem tem 249 casos positivos e sete óbitos por coronavírus. Associação Comercial, Industrial e Agropecuária (Aciar) informou ter orientado os comerciantes a seguirem as determinações da prefeitura. O comércio funcionou durante quatro horas. Conforme a entidade, os estabelecimentos seguem à risca as medidas de higiene e os protocolos de segurança, inclusive os que exigem o uso de máscaras pelos consumidores, conforme decreto municipal.
O secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, disse que as prefeituras de Registro e Marília já foram notificadas sobre o descumprimento do Plano São Paulo. As duas cidades devem seguir as restrições recomendadas para a fase vermelha, que inclui o fechamento do comércio não essencial. Segundo ele, é preciso que os gestores estejam cientes de que o objetivo é resguardar a saúde da população.
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