Namorado da vítima também foi ouvido e disse à Polícia Civil, em Votorantim (SP), que os dois compraram remédios pela internet; ele chegou a ser preso. Defesa diz que jovem colabora com a investigação.

Imagens mostram grávida e namorado em pousada para aplicar 'kit aborto'
Câmeras de segurança de uma pousada em Sorocaba (SP) registraram o momento em que a jovem Ana Carolina Pereira, de 20 anos, e o namorado dela, Kevin Willians, de 22 anos, foram ao local para aplicarem o chamado 'kit aborto', que compraram pela internet por R$ 1,4 mil.
As imagens obtidas pelo g1 mostram que, por volta de meio-dia de domingo (24), o casal deu entrada no quarto. Horas depois, às 14h40 os dois saíram. O rapaz, que é investigado em liberdade por crime contra a vida, confessou à Polícia Civil que foram injetadas as substâncias durante a estadia.
Horas depois de ter aplicado injeções na barriga, a jovem, que estava grávida de 27 semanas, passou a reclamar de dor. Ela foi achada morta após a família perceber que ela não tinha acordado para ir trabalhar (leia mais abaixo).
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Jovem de 20 anos e o namorado chegando em pousada em Sorocaba para aplicar o 'kit aborto' — Foto: Reprodução
Segundo apurado pelo g1, o IML apontou causa indeterminada para a morte, e o laudo complementar toxicológico irá identificar as substâncias no corpo da jovem e as dosagens aplicadas. Juntos, os exames podem esclarecer a causa do óbito.
A defesa de Kevin disse que ele está colaborando com a investigação e que irá se pronunciar sobre o caso, o que ainda não havia ocorrido até a última atualização desta reportagem
A polícia tenta identificar quem vendeu do "kit aborto". De acordo com o delegado José Antônio Proença Martins de Melo, a pessoa pode ser responsabilizada por crime de aborto com o consentimento da gestante.
Ana Carolina morava com os pais, que não sabiam da gestação. Ela e o namorado descobriram a gravidez um mês antes do aborto.
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Jovem morreu após usar medicação para abortar aos 7 meses de gravidez em Votorantim; namorado foi preso — Foto: Reprodução/Facebook
'Kit aborto'
Segundo o relato do pai da jovem à polícia, a família estava em casa quando decidiu pedir um lanche. A filha aparentava estar bem e disse que estava estudando para uma prova online da faculdade no quarto – a porta estava fechada. A mulher não chegou a jantar.
Por volta de 4h30, os pais acordaram para levar a filha para pegar o ônibus que a levaria ao trabalho. Nesse momento, notaram que a jovem não tinha acordado. Ela foi encontrada caída no quarto.
O Samu foi chamado, mas a mulher já estava sem vida. Em seguida, o namorado foi chamado e, ao chegar ao local, afirmou que ele e a jovem tinham feito um procedimento, mas não revelou, até então, que seria uma tentativa de aborto.
À polícia, o pai confirmou que não sabia da gravidez e disse que imaginou que a vítima tinha apenas engordado. Perguntado sobre o comportamento da jovem, citou que ela não aparentava sentir dores.
Investigação
“A substância ainda é desconhecida e, com o resultado do aborto, o vendedor pode ser responsabilizado pelo mesmo crime de aborto com o consentimento da gestante. No caso, foi procurada a clandestinidade e havia o medo, porque o caso viria à tona", afirmou delegado Martins de Melo.
Não se sabe ainda exatamente como o casal comprou o produto. Ainda segundo a polícia, podem existir outros crimes contra o fornecedor, se for constatado medicamento estrangeiro e não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Interrogatório
O namorado detalhou o ocorrido em um interrogatório à Polícia Civil. Segundo o registro, o casal não estava brigado e mantinha um relacionamento havia cerca de 2 anos. Contudo, um mês atrás a jovem relatou que estava com sintomas de gravidez. Os dois decidiram fazer um teste de farmácia, que confirmou a gestação.
Na época, Ana marcou uma ultrassonografia. Foi constatada a gravidez de 27 semanas de um menino. Durante uma conversa entre os dois, ela citou receio de prosseguir com a gestação e como contaria à família sobre o filho.
Ambos chegaram ao consenso de não seguir com a gestação, ainda com base no relato, por conta da idade e “pouca e experiência”.
Segundo o namorado afirmou, a vítima teria feito pesquisas sobre métodos abortivos. O rapaz relatou que chegou a falar sobre risco, mas que ambos concordaram com a compra da substância abortiva, que foi realizada pela vítima, no valor de R$1.400, via PIX.
A encomenda foi entregue na casa de Kevin. Os dois, então, combinaram de achar um local para aplicarem o produto. O lugar escolhido foi uma pousada no bairro Campolim, na Zona Sul de Sorocaba.
O investigado detalhou que a vítima pegou as injeções e disse que tinha medo de aplicar. Em seguida, pediu ajuda ao namorado. Ainda de acordo com o relato, foram quatro aplicações na barriga. A "técnica" de como injetar o medicamento, segundo o rapaz, foi explicada pela pessoa que vendeu o produto à vítima.
'Minha barriga parece que vai explodir'
No dia seguinte, os dois foram trabalhar e, perto do fim do turno, a jovem contou que sentia dores de cabeça e cólicas. Ainda segundo o registro, os sintomas pioraram com o passar das horas e surgiram dores no estômago e vômitos.
Em determinando momento, Ana contou a ele: "minha barriga parece que vai explodir".
Segundo o relato do namorado à polícia, a vítima o questionou sobre pedir ajuda aos seus pais, e ele disse para manter a calma por achar que a situação não era grave. Assim, a orientou para não contar sobre o caso.
De acordo com o documento, a vítima insistiu em falar sobre o problema com a família e o namorado continuou pedindo para que não o fizesse. Os dois estavam preocupados com o dia seguinte de trabalho.
Como eles entenderam que ela estava entrando em trabalho de parto, o investigado afirmou à polícia que sugeriu que a namorada entrasse em contato com a pessoa que vendeu o kit em vez de ir ao hospital. Durante a conversa, sentindo dores, a vítima lhe disse que a bolsa havia estourado, mas que não teve resposta da pessoa.
Questionado sobre o momento que a vítima manifestou que queria falar com os pais, Kevin disse que estava nervoso. Ao fim da noite, conforme ele, os dois conversaram rapidamente, mas a vítima disse que não poderia falar e que tentava dormir.
Por volta das 4h de terça-feira (26), o namorado de Ana recebeu uma ligação da sogra sobre a morte.
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