sábado, 11 de junho de 2022

Irmãs com deficiência visual de nascença aprendem a andar de patins sozinhas: 'Gosto da adrenalina'

Por Talissa Medeiros, g1 Sorocaba e Jundiaí

Maria Lúcia e a Júlia Sanches, de 11 e 13 anos, são irmãs e têm deficiência visual. Mesmo com as dificuldades, as duas aprenderam a andar de patins sozinhas quando eram pequenas.




Irmãs com deficiência visual de nascença aprendem andar de patins sozinhas — Foto: Arquivo Pessoal

Um passo de cada vez. Foi assim que duas adolescentes de Sorocaba (SP), com deficiência visual, começaram a andar de patins. A Maria Lúcia e a Júlia Sanches, de 11 e 13 anos, são irmãs e aprenderam a andar de patins sozinhas ainda pequenas.
A mãe das meninas, Juliana Ribeiro Sanches, contou ao g1 que elas começaram a se interessar pelo patins após ela comprar um par para a filha mais nova.
"A Maria Lúcia começou a andar sozinha em casa. Na época, tinha uns 7 anos. Já a Júlia não gostava, tinha medo. Só andava de patinete. Até que um dia comprei para ela, que também aprendeu sozinha. Como já andei um dia quando mais nova, começamos a ir na praça de Votorantim praticar", conta a mãe.




Irmãs com deficiência visual de nascença aprendem a andar de patins sozinhas

O incentivo a andar no parque foi maior com o encontro de grupos que usam patins. A mãe conta que elas começaram a se entrosar com as pessoas e cada vez andavam mais. Com a pandemia, as idas ao parque diminuíram. A volta mesmo foi agora neste ano.
"Encontramos até uma van que aluga patins e até voltei a andar para incentivar elas também. Damos voltas juntas. Dou a mão porque sozinhas é perigoso. Às vezes, a Júlia quer andar sozinha, aí eu vou na frente guiando ela, falando a direção e ela acompanha. A minha filha mais velha também anda, ela fica com uma e eu com outra", explica a mãe, se referindo aos cuidados com as filhas de 11 e 13 anos.

Parque de diversões




Família vai ao parque de diversões da Festa Junina de Votorantim — Foto: Arquivo Pessoal

De mãos dadas, as meninas passearam pelo parque da Praça de Eventos “Lecy de Campos”, onde nessa época do ano, é realizada a Festa Junina. Elas contam que se sentem muito bem e felizes andando de patins.
"Eu ando nessa praça aqui, só que agora está tendo a festa. Eu gosto de andar porque é bem radical, gosto de adrenalina", conta Maria Lúcia.
Nesta quarta-feira (8), foi a primeira vez que as irmãs foram até o parque de diversões da Festa Junina de Votorantim (SP), após a pandemia. Elas puderam aproveitar os brinquedos em uma ação voltada especialmente às pessoas com deficiência, chamada “Quarta da Inclusão”.
A mãe das meninas contou que por causa da deficiência, elas têm o ouvido muito aguçado e muito barulho as irrita. Com isso, ela se sentiu segura em levar as filhas em um dia que é especialmente voltado a elas.


Irmãs se divertem na Festa Junina de Votorantim — Foto: Arquivo Pessoal

"A gente fica mais tranquila em ser uma ação só para PCD, porque é uma atenção maior para elas nos brinquedos. As pessoas também olham com outra visão. Essa é a primeira vez que estou trazendo elas aqui”, diz.
A ação aconteceu nesta quarta-feira, das 18h até as 20h ,na Praça de Eventos “Lecy de Campos”. O objetivo era proporcionar diversão às pessoas com deficiência em um ambiente mais tranquilo, sem música nos brinquedos e no local.
Os participantes da ação apresentaram um documento comprobatório da deficiência na entrada do recinto. Cada pessoa nestas condições e um acompanhante tiveram acesso gratuito ao recinto e também aos brinquedos durante o período da ação.

Dia especial



Irmãs se divertem na Festa Junina de Votorantim — Foto: Arquivo Pessoal

Com o som mais baixo e alguns brinquedos que possuíam estímulos sensoriais sem funcionamento, as meninas puderam se aventurar e aproveitar o dia delas.
“É uma felicidade enorme. Eu estava indo nos brinquedos e pensei que este ano não iria vir. Aí, minha mãe fez essa surpresa. Eu fiquei emocionada quando soube que era na Festa Junina”, conta Júlia.
A Maria Lúcia enfrentou o medo de altura e foi em um brinquedo chamado ‘centopeia’, uma mini montanha-russa. Ela relata a sensação de andar no brinquedo pela primeira vez.
“Eu gostei de sentir o vento. Foi muito radical. Eu gostei muito do carrinho de bate-bate também. Estou muito feliz”, conta Maria Lúcia.


Parque diversões da Festa Junina de Votorantim — Foto: Talissa Medeiros/g1


As meninas seguiram pelo parque todo com a mãe e a irmã mais velha para outras atrações. Juliana se sente grata por conseguir levar as filhas ao parque.
“Eu acho que as pessoas têm que olhar para as nossas crianças especiais com uma visão especial, porque muita gente tem muita dificuldade quando eu estou com elas, muitos não olham, tropeçam. Isso é um pouco complicado. O sentimento de hoje é gratidão”, finaliza.
“Esse dia vai ser lembrado para sempre como uma felicidade enorme do meu coração. Sempre vou agradecer minha mãe”, conta Júlia.
O público PCD também tem entrada gratuita no recinto da festa todos os dias e acesso a um espaço exclusivo na Área VIP da arena de shows.

De nascença


Irmãs com deficiência visual de nascença na época de Páscoa — Foto: Arquivo Pessoal

Juliana explica que a deficiência das meninas é de nascença. A mãe teve rubéola nas duas gestações. por não ter sido diagnosticada e isso acabou afetando a visão delas.
“Eu fui saber que tive rubéola só depois que a Júlia nasceu. Aí constatou que ela tinha microftalmia. Foi uma surpresa. Achei que ela não tinha globo ocular. Nisso os médicos já me avisaram que ela não ia enxergar", conta a mãe.
Quando a Júlia tinha dois anos, Juliana ficou grávida da Maria Lúcia. Os médicos garantiram a ela que não seria possível ter rubéola duas vezes. Ela conta que um dia começou a ter os mesmos sintomas que teve na gravidez da primeira filha.
"Passei com o clínico e disse que estava com rubéola de novo. Ele me disse que não seria possível. Quando a Maria Lúcia nasceu, percebi que ela tinha o mesmo problema. No começo é difícil, muitos exames, médicos, terapias. Hoje, as duas usam olho de vidro”, explica a mãe.


Irmãs brincando juntas de desenhar — Foto: Arquivo Pessoal

Hoje em dia, mesmo com as dificuldades da deficiência física, as duas meninas não deixam de realizar as atividades diárias. A mãe conta que as duas fazem aula de mobilidade, música, informática e alfabetização em braile.
A mãe ainda conta que as filhas estudam em uma escola municipal em Sorocaba e a unidade fornece uma auxiliar na mobilidade e assistência para elas. Na final do mês, as meninas vão participar da festa junina da escola e Maria Lúcia vai dançar quadrilha com os colegas de classe.
"Elas sempre estão inteiradas com as atividades. Eu não trabalho, fico com elas o tempo todo. Elas são muito inteligentes, se viram bem. São muito espertas”, finaliza.

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