quinta-feira, 29 de abril de 2010

Rapaz preso por tráfico é espancado e morre no CDP

Fonte: Folha de Votorantim



No mesmo dia em que foi preso em flagrante acusado de traficar entorpecentes na região central da cidade, Luiz Cássio Lourenço do Prado, de 21 anos, morreu, vítima de hemorragia interna causada por espancamento. Chamou a atenção de vários leitores, na edição passada da Folha de Votorantim, a menção do nome de “Fininho” (alcunha pela qual ele era conhecido nos meios policiais) tanto na notícia de sua prisão em flagrante quanto na parte de necrologia.

A morte de Luiz Cássio aconteceu na noite de sábado, depois de ele ter sido encaminhado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Sorocaba, no bairro de Aparecidinha. O diretor da unidade, Márcio Coutinho, não pôde conceder entrevista, por determinação de seus superiores (quaisquer informações deveriam ser fornecidas pela assessoria de imprensa do governo do Estado), mas, conforme apurado pela reportagem da Folha, “Fininho” foi espancado por seus companheiros de cela, num acerto de dívidas de rua, não necessariamente financeiras. Seriam três agressores e um mandante. O último estaria preso numa unidade prisional de outra cidade e teria dado a ordem por telefone. Todos seriam indiciados ainda ontem pelo 6º Distrito Policial de Sorocaba.

“Fininho” já havia, entre 2007 e 2008, cumprido um ano e oito meses de detenção, no mesmo CDP, por tráfico de entorpecentes. Nas apurações feitas pela equipe de reportagem constam também que o rapaz não havia sido colocado junto a membros de facções criminosas rivais.

O laudo do Instituto Médico Legal de Sorocaba aponta que a causa da morte foi uma hemorragia interna causada pela ruptura do fígado e baço; as pancadas causaram também múltiplos traumatismos e fraturas nas costelas, à direita, e na coluna cervical. Aparentemente, a intenção não era matar o rapaz, e sim que a ação não passasse de um “corretivo”.

Há pelo menos 10 anos, o CDP de Sorocaba não registrava um caso de morte, fuga ou rebelião. Com capacidade para 576 presos, a unidade comporta hoje aproximadamente 1.300.

Tais informações descartam a hipótese de que o rapaz teria morrido em decorrência de agressões sofridas pelos policiais militares que o prenderam, embora, no depoimento que prestou à delegada Maria Sílvia Fonseca Joly na ocasião da elaboração do auto de flagrante, o indiciado tivesse afirmado que apanhou durante a ação.

Pois conforme a lei exige em todos os casos de prisão, antes de ser encaminhado à unidade prisional (e passar à tutela do Estado), o rapaz passou por um exame cautelar de corpo de delito, no mesmo IML de Sorocaba, no bairro Jardim América. “Antes de ir ao CDP, ele estava com lesões leves e inchaço no rosto”, garante, com uma cópia do laudo em mãos, o diretor da unidade, o médico-legista João Guilherme Gonçalves Martins.

De acordo com os registros da Secretaria da Segurança Pública do Estado, Luiz Cássio foi preso aproximadamente à 1 hora de sábado (24). A elaboração do auto de flagrante teve início perto das 7 horas, com a chegada da delegada Maria Sílvia. Seu encaminhamento ao CDP de Sorocaba se deu por volta das 16h30. Já na unidade prisional, a última contagem de presos foi realizada às 19h. O pedido por atendimento médico ao rapaz foi feito às 20h. Ele veio a óbito já no Hospital Regional de Sorocaba, alguns minutos depois.

Maria Sílvia, por sua vez, reforça que o rapaz passava bem antes de ser levado ao CDP. “Ele estava bem. Quando a pessoa está passando mal, eu não realizo a oitiva. Eu a mando para o hospital antes”, afirma a delegada.



Depoimentos prestados

Luiz Cássio disse, em depoimento prestado pelo menos seis horas depois de detido e junto de seu advogado, que os 45 papelotes contendo cocaína que foram apreendidos haviam sido implantados pelos policiais. Em sua própria versão, o indiciado disse que tinha ido à pista de caminhada do bairro Campolim, em Sorocaba, onde havia comprado dois papelotes de cocaína, para consumo próprio. Teria cheirado o primeiro deles no mesmo local; o segundo, antes de entrar em sua residência. Foi quando os policiais teriam aparecido, entrado em sua casa, lhe agredido e forjado o crime. Familiares de Luiz Cássio confirmam a versão.

Na versão apresentada pelos policiais, o soldado da PM Antonio Moreira de Souza Neto e o sargento José Carlos Bueno da Mota, a equipe passava pelo local (avenida Celso Miguel dos Santos, no centro) de posse da informação, fornecida por um popular que não se identificou, de que “Fininho” estaria traficando por aquela rua. Ele teria tentado fuga ao ver a viatura, sendo capturado dentro de sua residência, tentando se livrar da droga que carregava. Segundo os militares, foi necessário o uso de força física moderada para conter o rapaz, que reagiu à abordagem. A ação teria sido presenciada pela mãe dele.

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