domingo, 15 de agosto de 2010

Essa visita ninguém quer ter que fazer

A desgastante rotina de gente comum que tem que
entrar nos presídios da região para
 ficar mais perto de pais, filhas, namoradas

Mayco Geretti

Agência BOM DIA



Raimunda observa fila em porta de cadeia enquanto
 espera para visitar a filha: ‘Quando saio da visita,
me sinto pior do que quando entrei para vê-la’
Assis Cavalcante/Agência BOM DIA


Na sacola de feira, pacotes de bolacha, caixas de ovos, macarrão instantâneo, sagu caseiro. A torta de frango colocada em um pote é o carro chefe entre os agrados que a dona-de-casa Sandra, 43, leva para o Centro de Detenção Provisória de Sorocaba para agradar o filho preso.
Como ela, todas as semanas milhares de mulheres, homens e crianças transpõe as muralhas das unidades prisionais da região para ficar mais perto de quem amam. Apesar de sofrida, a rotina é colocada como prioridade.
A cozinheira Raimunda, 44, ainda está se adaptando à nova vida. Há um mês, desde que a filha foi presa por tráfico, ela perde as quartas-feiras de trabalho para visitá-la. É triste, e é desgastante física e psicologicamente, define. “Saio pior do que entrei. Acalmo a saudade, mas me sinto arrasada de vê-la nesse lugar”.
A cozinheira quer que o episódio seja uma lição para ambas. “Ela vai repensar sua vida, assim como eu. Sei que falhei como mãe, que não fui participativa.”

Também novata, a comerciante Rosana, 29, foi surpreendida ao ver o bolo de doce de leite que levava em celebração atrasada para o aniversário do marido ser cortado em fatias por um agente penitenciário que fazia a revista. “Mas precisar cortar, moço?”, indagou Rosana, que ainda está aprendendo as regras do jogo.
Para evitar que armas, drogas ou qualquer objeto ilícito entre nos presídios, todos alimentos são fiscalização. Doces em compota são mexidos com colher e melancias são averiguadas à procura de algum fundo falso. Os visitantes também não escapam ao pente fino. Homens e mulheres são obrigados a ficar nus para uma revista minuciosa.
Mulheres têm de afastar as pernas e abaixar três vezes para mostrar que não transportam drogas ou armas na vagina. “A maior apreensão que já fiz foi a de uma mulher que levava meio quilo de maconha dentro dela”, gabas-se uma carcereira.
A revista é encarada como a parte mais constrangedora da visita pelo casal Marcos, 64 e Mônica, 60. “Para um senhor de cabeça branca como eu ficar nu diante de quem não conhece e saber que em outra sala minha mulher passa pelo mesmo é algo vergonhoso, mas são as regras necessárias para ver meu filho”, diz Marcos.
Normalmente cada preso tem direito a uma visita semanal a qual podem estar presentes três pessoas. Não é necessário vínculo de sangue ou civil, mas amigos só entram se não tiverem antecedentes criminais.
Um mês após deixar a cadeia pública de Votorantim, Edicleusa Gomes, 30, retornou à unidade, desta vez para uma visita. Apesar de traumáticos, os três anos que ela passou atrás das grades não a fazem esquecer dos laços de amizade criados. Agora em liberdade, ela quer passar força às amigas que ainda têm pena para cumprir.
“Só quem já esteve lá dentro sabe o quanto uma visita ajuda. Sentir-se querido por alguém ameniza temporariamente a dor. É o dia mais esperado da semana e aquele que nos ajuda a pensar em mudar de vida para que não precisemos mais ficar longe de quem amamos. Venho aqui para rever pessoas que gosto e para me lembrar que por aqui, só quero passar novamente como visitante.”

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