quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Leishmaniose já fez nove vítimas na cidade este ano

Regina Helena Santos

Notícia publicada na edição de 16/09/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 1 do caderno B
 
 
Mosquito palha é o transmissor da doença


Foto: Luiz Setti



Nove moradores do Jardim Tatiana, em Votorantim, já foram contaminados pela leishmaniose tegumentar este ano e passam por tratamento para a cura da doença. O número de casos - 4,5 vezes maior que os dois de 2009 - chama a atenção por se concentrarem entre moradores da mesma região, uma área rural do bairro. “Nos anos anteriores as pessoas se contaminaram em outras cidades”, comentou o médico Marcus Eider Marson, do Departamento de Saúde Coletiva do município, para quem, apesar do aumento nos registros, não há motivo para alarde. “O mosquito palha, que transmite a leishmaniose, é do mato. Ele vive onde há restos de folhas, no fundo das matas. Voa pouco e não vai sair de lá para a área urbana. Não há rsico de que estes casos possam se espalhar pela cidade”.
Apesar da aparente tranquilidade da equipe de saúde, a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), do governo do Estado de São Paulo, realizou borrifação de veneno nas paredes de 120 residências do bairro, que estão próximas às restingas de mata. “A doença foi registrada na área rural. Não há nenhum tipo de preocupação em relação às pessoas que moram nesta região, porém na área urbana”, confirmou Sueli Yasumaro Diaz, diretora técnica de Serviço de Saúde da Sucen na região, que esclarece que a doença está atrelada à presença de vetores e reservatórios - que são os hospedeiros, principalmente mamíferos silvestres. “As pessoas só têm risco de serem contaminadas se as residências começam a invadir as áreas de mata ou se entrarem na mata por algum motivo”, disse Sueli. E é por isso que a Prefeitura de Votorantim acredita que os doentes não foram picados pelo mosquito em suas casas, mas sim no matagal que fica aos fundos do Jardim Tatiana. “Estamos tendo dificuldades até para saber de que modo essas pessoas foram contaminadas. Os doentes se recusam a nos contar detalhes, confirmar se frequentam ou não a mata”, disse Marcus Eider. A região possui lagoas e quedas d’água, além de uma trilha, bastante usada pelos moradores do bairro para acessar outras regiões da cidade.
Para evitar o aumento do número de doentes, a Secretaria de Saúde de Votorantim investe na informação. “Nossa maior preocupação é com a educação. Se os nove casos forem curados, mesmo assim as pessoas continuarão frequentando a mata”. Sueli Yasumaro confirma que a região de Sorocaba é propícia ao desenvolvimento da doença, por conta da existência de resquícios de Mata Atlântica.
Contaminação

A contaminação pela leishmaniose acontece quando o ser humano é picado pelo mosquito palha - porém somente depois que este já picou algum transmissor da doença, chamado reservatório, entre eles mamíferos silvestres, como cachorros, gambás e porco-espinhos. Para evitar a picada, a orientação das equipes de saúde é que as pessoas, se precisarem entrar em qualquer tipo de mata, usem camisas de manga longa, calças compridas e galochas. O repelente também ajuda a evitar o contato com o mosquito, que tem como hábito atacar o ser humano nas primeiras horas da manhã e no pôr-do-sol. “A leishmaniose não é uma doença grave, mas é crônica, precisa de tratamento contínuo, que pode durar até seis meses. Se bem tratada, pode ser curada e não deixa sequelas”, explicou Marcus Eider.
O principal sintoma de quem está infectado pela leishmaniose é a formação de uma úlcera (ferida) no local onde ocorreu a picada pelo mosquito palha. O tratamento, oferecido gratuitamente pela rede de saúde, consiste em uso de antibióticos injetáveis. Todas as nove pessoas que contraíram a doença este ano em Votorantim estão sendo acompanhadas pelo serviço de saúde e algumas já foram curadas. “Quem tiver algum sintoma deve procurar uma unidade de saúde”. A leishmaniose não se transmite no contato com uma pessoa doente.
Cachorros

Apesar dos cachorros serem considerados um dos principais hospedeiros da leishmaniose do tipo visceral - a responsável por surtos em cidades paulistas como Bauru, por exemplo - a mesma situação não se aplica ao tipo tegumentar, registrado em Votorantim. “Neste caso, os cachorros ficam doentes e podem ser tratados com os mesmos medicamentos”. Sueli destaca que as equipes de saúde realizaram buscas e não encontraram, na região do Jardim Tatiana, nenhum cão com lesões. Por conta disso, não foram necessárias ações específicas de controle destes animais. Na maioria dos casos, quando um cachorro é diagnosticado com leishmaniose, a recomendação é de que este seja sacrificado.

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