sábado, 23 de outubro de 2010

CHACINA DE VOTORANTIM - "Minha liberdade ficou privada, se a gente sai na rua, recebe provocação"

Wilson Gonçalves Júnior

Notícia publicada na edição de 23/10/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 9 do caderno A
 
 
Jair Martins, o Punk: inocentado pela Justiça, condenado pela comunidade
Luiz Setti







 
No dia que ouviu a sentença do juiz Fábio Calheiros Nascimento, que posteriormente expediu o alvará de soltura, Jair Martins não comemorou no plenário do júri. Segundo ele, naquele momento, conseguiu não deixar transparecer o sentimento de alegria, tendo em vista que muitas pessoas poderiam julgar seu estado de euforia. Entretanto, outras preocupações, admitiu, também passaram por sua cabeça naquele momento. Foi muito sério o que fizeram comigo. Se eu pulasse de alegria na hora de absolvição, iam dizer: olha lá, ele tá alegre demais. Fiquei alegre por dentro, mas ao mesmo tempo, fiquei com medo, sabia que ia sair na rua e não ia estar protegido.
Por causa disso, após sua liberdade, demorou uns três meses para entender que estava em liberdade. Ainda na cadeia, Jair Martins, o Punk, se apegou a Deus e disse ter clamado por Justiça, já que era inocente e não tinha envolvimento com a morte dos cinco jovens. Para ocupar seu tempo de reclusão, ele fez inúmeras amizades e procurou ocupar seu tempo com coisas que gosta, como desenhar e ajudar as pessoas.
Jantar

A informação de que teria sido convidado a participar da chacina e teria se recusado, tese defendida pela Polícia e pelo Ministério Público, é rebatida por Punk. Assim como afirmou ao júri popular, garante que só disse isso por uma orientação do seu primeiro advogado, que teria dito que Maninho estaria acusando-o.
Punk alega que nem esteve no morro - localizado acima da sua casa - naquela noite e que ouviu o barulho dos tiros quando jantava com sua mãe. Eu tava jantando com minha mãe e ouvimos os disparos. Minha mãe falou que eram disparos e eu falei que às vezes era rojão. Fui dormir e no outro dia cedo meu irmão falou que mataram não sei quantos lá em cima.
Sobre outras provas, como o fato de um dos envolvidos estar de coturno e uma camisa do Raul Seixas encontrada na mata, Punk citou que não é o único a usar este tipo de calçado, como também sua camisa do roqueiro baiano está guardada na sua casa.
Direitos

Absolvido pela Justiça, Jair Martins disse ter largado na mão de Deus o fato de ter ficado na prisão por 1 ano e 10 meses, o que considera injustamente. Entretanto, alegou que não vai se desfazer de qualquer ajuda de quem possa auxiliá-lo, caso alguém o assessore numa eventual ação contra o Estado.
Punk indicou que apesar de tudo, segue sua vida e continua, como antigamente, fazendo seus bicos na limpeza de terrenos e é muito querido no bairro Jardim Bandeirantes, onde mora. Já perdi a minha liberdade mesmo. Não vou ter medo de mostrar minha cara em lugar nenhum. Foi mostrada minha cara na hora pior e não vou ter mais medo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Ouça a Rádio Votorantim