sábado, 23 de outubro de 2010

Pelé 70 anos - O afilhado de Pelé em Votorantim

Rodrigo Gasparini

Notícia publicada na edição de 23/10/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 1 do caderno
 
 
Pelé e D. Iolanda, esposa de Fioti, seguram o
 pequeno Otaviano; à direita, os nomes na
 folha 148 do livro 6 da Igreja Matriz de São João Batista
Foto: Fábio Rogério (reprodução)

  

Otaviano ouve a declaração de Pelé ao Cruzeiro,
contando a história do batizado: o Rei se lembra
Foto: Fábio Rogério


As ruas da Barra Funda, em Votorantim, viveram momentos agitados no dia 21 de dezembro de 1959. Alvoroço causado pela presença de um jovem de apenas 19 anos de idade, mas já naquela época mundialmente famoso. Pouco mais de um ano antes, ele havia feito proezas em gramados suecos, levando o Brasil a conquistar sua primeira Copa do Mundo.
A notícia de que Edson Arantes do Nascimento estava no bairro espalhou-se rapidamente e fez muita gente enfrentar a chuva para conhecê-lo. O menino Pelé viera de Santos, acompanhado pelo amigo Fioti, então lateral direito do clube praiano -- falecido em 1997. Fioti seria, com a esposa Iolanda, padrinho de batismo do primo nascido três meses antes.
A viagem daquele que viria a ser o maior jogador de futebol de todos os tempos a Votorantim foi motivada por um pedido dele próprio a Fioti. O que o lateral revelado pelo São Bento não imaginava, porém, era que o desejo de Pelé ia um pouco além. E mudaria para sempre a vida do então recém-nascido.
Meu primo disse que vinha aqui e o Pelé falou: ‘Posso ir com você para Votorantim? Ele respondeu: ‘Vamos, vou batizar o meu primo, vamos lá comigo. Quando chegaram aqui, o Pelé pediu: ‘Você não deixa eu batizar? Aí, ele pegou e me batizou. Quem conta a história é Otaviano Dias Filho, hoje com 51 anos, e naquele dia o bebê batizado na Igreja Matriz.
E se uma das funções do batizado é perpetuar o nome escolhido pelos pais para a criança (daí a expressão nome de batismo), a presença do craque fez os papéis serem invertidos. Daquele dia em diante, Otaviano -- por motivos óbvios -- passou a ser chamado simplesmente de Pelé.
Ele se lembra
Pelé, o original, completa hoje 70 anos de idade. Na sexta-feira da semana passada, ele revelou ao Cruzeiro do Sul que se lembra do ocorrido em 1959, embora tenha confundido o grau de parentesco de Otaviano com Fioti. Tinha o Fioti, lateral direito, que depois eu fui padrinho de batismo do filho dele. Acho que a família dele até hoje mora em Sorocaba, ele foi jogar no Santos uma época, disse o Rei, ao ser questionado sobre quais lembranças guardava de Sorocaba. A declaração ocorreu em São Paulo, durante entrevista coletiva para o lançamento do Programa Esportivo Lúdico Escolar, idealizado por ele.

Pelé, o de Votorantim, nunca conheceu o padrinho famoso. Ao ouvir a gravação do trecho da entrevista em que o Atleta do Século fala sobre o batizado, a expressão facial de Otaviano muda e denuncia sua emoção. Ele quase fica sem palavras. É gostoso, legal para caramba. Opa! Primeira vez... quantos anos. Fico contente... legal mesmo, é o que consegue dizer, lentamente.

 
A última -- e até então única -- notícia que o votorantinense tinha sobre o padrinho saber de sua existência vinha de longe, 1991. Uma conhecida da gente era aeromoça e o marido dela era comissário de bordo. Aí ele encontrou com o Pelé e falou que conhecia uma pessoa que achava que ele nem se lembrava, disse que era o Pelé de Votorantim, que ele batizou, conta.

 
O Rei teria se recordado (pelo menos o rapaz falou para mim que ele lembrou) e mandou duas lembranças ao afilhado: um calendário personalizado e um cartão em formato de bola, com os telefones de seus escritórios em Santos e em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

 
Otaviano, que é fresador mecânico, carrega os presentes na carteira. Na casa em que mora na Barra Funda, com a esposa Sueli e o filho Caio, uma foto e um quadro são os únicos objetos que remetem ao batizado.
A fotografia foi tirada na cerimônia: Pelé veste paletó e gravata e segura o nenê com Iolanda, esposa de Fioti e madrinha. Ao lado, um homem observa a cena, mas sua identidade é desconhecida. O quadro apresenta um Pelé bem jovem, ao lado de um recém-nascido. Deve ser imagem captada no próprio dia 21 de dezembro de 1959, embora a origem do quadro seja desconhecida de Otaviano.

 
Vida longe do Rei
O Pelé de Votorantim vive de maneira quase alheia ao fato de seu padrinho ser um mito. Raramente fala sobre o assunto, por temer ser taxado de mentiroso. Sou batizado pelo Pelé. Mas é aquele negócio. Será que acreditam?, argumenta.
Além da foto, a prova está na folha 148 do livro 6 da Igreja Matriz de São João Batista e Imaculada Conceição, em Votorantim. A linha reservada ao batismo de número 484 traz o nome de Edson Arantes do Nascimento e o apelido Pelé entre parênteses no espaço reservado à identificação do padrinho.
Otaviano só tentou se aproximar do padrinho uma vez. Foi logo depois que recebeu o cartão com os telefones dos escritórios do ex-jogador e resolveu ligar para Santos. Chamou, chamou e não atendeu. Aí eu não tentei mais. Vão perguntar quem é. O afilhado do Pelé? Vão dizer ‘está louco, rapaz, argumenta aos risos.

E se pudesse encontrá-lo hoje, mais de 50 anos depois, com a certeza de que o Rei se lembra da história? Sei lá se chamaria de senhor ou você. Senhor, você, Pelé, padrinho... fica até esquisito.

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