quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Eleições 2010 - Nos bastidores da Cultura

Uniso Notícias em parceria com o Site Ipanema On Line
Cultura é um bem imaterial, que pode alterar a realidade de uma comunidade. Mesmo assim, continua sendo desvalorizada no Brasil. Segundo o secretário de Cultura de Votorantim, Clayton Leme, a média de investimentos dos municípios na área é inferior a 1% de seus orçamentos.
Se o governo não faz, alguém tem que fazer. A lógica é a mesma que move diversas ONGs e entidades sem fins lucrativos. A comunidade, quando quer, pode, sim, transformar a sua própria realidade. Os seres humanos, ainda que sejam poucos, separados, quase que cada um por si, podem e devem lutar por suas crenças, por seus sonhos, por seus ideais.
É o que Werinton Kermes faz. Do poder público, onde atuou como secretário de Cultura de Votorantim por sete anos, ele agora dedica seu tempo à produção cultural fora da esfera política. “Faço cultura porque acredito que ela pode trazer qualidade de vida às pessoas. A cultura transforma as pessoas em seres para a vida, e não para a violência”, discursa Kermes, que atualmente preside a Associação Cultura Votorantim, desenvolve projetos culturais na Cadeia Feminina da mesma cidade e coordena o projeto regional Vozes Periféricas, contemplado com uma ajuda de custo pelo projeto “Ponto de Cultura”, do Governo Federal.

Sem o “Ponto de Cultura”, no entanto, as vozes periféricas a quem Kermes dá voz talvez não tivessem vez. E quem acha que é fácil conseguir tal recurso se engana. Robinson Martins, chefe da Seção de Oficinas Culturais de Ibiúna, lembra que a burocracia para a captação de recursos dos programas culturais oferecidos pelo governo é muito grande. “É o mesmo que estar em uma festa e não ganhar um pedaço do bolo, é gritar e não ser ouvido, passar e não ser visto”, desabafa Martins, que mesmo no poder público, encontra dificuldades.
Cultura é coisa séria!
Kermes sabe bem o que é isso. Depois de tanto tempo como secretário de Cultura, fazê-la agora, para ele, se tornou bem mais viável: “No poder público, o tempo é sempre maior para tudo, como se a cultura e as pessoas pudessem esperar. Um dos maiores desafios que eu enfrentava como secretário era ter que convencer os gestores que trabalhavam comigo que a cultura poderia, sim, fazer parte das prioridades do governo. Hoje não tenho que convencer mais ninguém da importância da cultura. Eu vou e faço.”
“É coisa séria!”, exclama o professor Paulo Schettino, cineasta, produtor cultural e doutor em Ciências da Comunicação. Docente no Programa de Mestrado em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba (Uniso), ele alerta que quando se transita pela produção e disseminação de fatos culturais, mexe-se com algo intangível e precioso para o universo interior das pessoas, e nem sempre os gestores de governo, dos quais Kermes fala, estão preparados para isso.

 
“Creio que a coisa pública deva sempre prevalecer sobre as necessidades pessoais de quem é chamado a exercê-la. É preciso ter amor por cultura para se fazer cultura”, afirma Schettino, que é engajado em diversos projetos culturais, mesmo na esfera acadêmica, propagando, principalmente, o cinema para os mais diversos públicos. Junto com o grupo da Universidade da Terceira Idade da Uniso, ele criou o Cineclube, que funciona no Campus Seminário.

 
“Quem se deixa tocar pela cultura é um ser mais gentil, mais tolerante, menos preconceituoso, mais consciente, mais feliz e, sobretudo, mais humano. É assim que se constrói um mundo melhor”, afirma Kermes, convicto. Todavia, sabe que a cultura está longe de ser entendida como essencial pelos gestores públicos e que esse descaso começa na própria sociedade, pois, para ele, o cidadão não foi educado para entender ou cobrar políticas públicas de cultura mais atuantes e eficientes. “Isso só vai mudar quando entenderem que cultura é saúde, é transporte, é meio ambiente, é saneamento, é segurança”, esclarece Kermes.

 

“Os empecilhos sempre aparecem quando se propõe a promover qualquer atividade cultural no país. No entanto, cremos que, mesmo diante deles, o empenho, a vontade e uma dose de criatividade devem sempre falar mais alto. A perseverança é uma virtude quando se acredita no que se faz”, discorre o professor Schettino, resumindo o espírito e a fé de quem luta por cultura, de quem batalha por recursos e por prioridade de gestão para a área cultural no Brasil. “Trabalhamos no que acreditamos e mais ainda naquilo que nos traz satisfação em executar. Fora disso qualquer ação se transforma em castigo”, conclui o cineasta.

 
Por Thiago Ribeiro e Isabella Reis

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