quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Evangélicos: o problema não é a Dilma, somos nós!

 

Manoel Peres Sobrinho

 

É preciso redescobrir o realismo bíblico que engloba a totalidade da existência. É necessário refazer, para cada época, a descoberta que fez a Reforma Calvinista. Discernia ela que a Palavra de Deus concerne ao todo da atividade humana e aceitara resolutamente deixar-se por ela guiar. A cada nova geração impõe-se tornar a fazer esta descoberta, levando em conta a mudança das situações históricas sempre em evolução – André Biéler.
 

    É emblemático que no mês em que comemoramos a Reforma do século XVI, 31 de outubro de 1517, tenhamos que decidir entre dois candidatos à presidência que para todos os efeitos, não representam, no todo, nossos mais acalentados anseios políticos.

    A expressiva votação recebida pela Sra. Marina deixa bem claro isso. Porém, a pergunta que eu faria, seria esta: votamos na Marina porque ela era a melhor dos três ou por que não sabendo muito bem o que fazer, votamos nela porque tem um perfil meramente evangélico? Isto é, a menina bem comportada?

    A política se define, para todos os efeitos, por um governar do todo e não de partes estanques. Ficamos preocupados com o aborto, que segundo alguns, Dilma seria favorável? Votamos na Marina por que, segundo outros, o vice da Dilma é satanista? Não votamos no Serra por que representa uma política democrática de fachada e um continuísmo cansado de incompetência prática, adornado por um discurso do faz de conta, com que ideologicamente pretere os pobres e abençoa os ricos? Mas, nós, o quê fizemos até agora para colaborar com o Brasil?

    Gastamos milhões para embelezar os nossos templos e aí fechá-los para uso somente de um minúsculo e ridículo tempo. Organizamos trabalhos que somente privilegiam os evangélicos ou tem um fim exclusivamente proselitista. Ignoramos, por completo, minorias de risco e nem queremos saber do quê nosso bairro precisa ou como poderíamos exercer maior influência sadia e real. Nossa ética é exclusivamente sexista. Nosso comportamento traz de volta o pensamento e a prática da igreja na Idade Média, e assim nos refugiamos intramuros, observando o mundo como terra do diabo e do pecado. Por enquanto que olhamos com desdém os não eleitos como malditos de Deus e irreconciliáveis com a graça divina e com certa petulância bíblica nos regozijamos por sermos os exclusivos filhos de Deus.

    Por enquanto isso, nos amaldiçoamos num processo devastador e fratricida sem fim de divisão interna e denominacional, fazendo ver uma ironia: estamos divididos pelo mesmo Evangelho. Recusamos acintosamente a participar do processo político, dando à política uma noção de coisa suja, indigna, coisa de gente sem caráter e sem crédito. Esquecemos-nos de José do Egito que era Ministro; de Daniel que esteve entre os maiorais na corte dos reis da Babilônia e outros que estiveram abençoando toda a sua nação com a sua postura verdadeiramente cristã. Talvez pudéssemos aplicar aí a máxima de Jesus, quando disse: "a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus".

    No fundo, falta-nos, a fibra da competência de uma visão holística entre a visão cristã das coisas e o comportamento cosmopolita do cristão. Fechamo-nos em zonas de conforto em nosso trato com a realidade. Estabelecemos compromissos demais com a nossa proteção pessoal e familiar e não jogamos nem um pouco com o risco de avançar nossa influência para distribuir aquilo que Deus nos facilitou por sua graça e misericórdia. Conformamo-nos com as profecias de que os pobres sempre ali estariam, que o mundo iria se perder mesmo numa devastação total e apocalíptica, e por fim, só a vinda do Senhor seria a salvação. Esquecemos por completo de nossas responsabilidades como atalaias, nossa influência como sal, e nossa participação como luz. Rapidamente nos esquecemos dos sofrimentos de Jesus por todos os homens, e de que Deus faz chover sobre justos e injustos. Tomamos, por abuso de nossas atitudes, a decisão de escolher quem pode e deve ser abençoado com aquilo que Deus nos legou como mordomos e não donos.

    O fracasso do Cristianismo em salvar o mundo não pode ser creditado ou medido por ele mesmo e por sua essência, mas pela péssima qualidade de cristãos que temos hoje. O verdadeiro Cristianismo ainda não foi vivido em sua totalidade.

    Precisamos de uma nova Reforma e urgente!

    

    

 

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