Werinton Kermes*
Cultura é memória. Talvez por isso tanto me indaguem sobre o que estou achando dos rumos da cultura da cidade de Votorantim. Tenho respondido que a Cultura vai bem, que o Secretário é uma pessoa do bem, que é da cidade, por isso conhece a nossa realidade, além de que já havia trabalhado na Secretaria de Cultura e entende cada segmento cultural deste processo complexo.
Assim, trata-se de alguém que foi indicado porque também entende que a cultura não se restringe a eventos isolados; um artista com sensibilidade e vivência para saber que cultura é formação, respeito às tradições, que é dar oportunidade e ajudar o artista a fazer. É alguém capaz de perceber que o gestor cultural necessita ser um elo entre artista e poder público. Além disto, a equipe formada por ele é composta por pessoas que vivem a cultura e sabem muito bem da importância de se dedicar e dar oportunidades.
Uma das características das transições de governo é a não continuidade de projetos realizados, mesmo daqueles que deram certo, que produziram cidadania. Ao contrário disto, a Secretaria de Cultura manteve parte do projeto iniciado em 2001, avançando em diversos aspectos. A prova disto são os Núcleos, que hoje se encontram muito mais organizados e que, sobretudo, têm o necessário respaldo financeiro, o que faz com que os coordenadores não corram o risco de, ao chegar o dia de seus pagamentos, terem a surpresa de não receber pelos serviços prestados.
Em algumas áreas se mantiveram os mesmos técnicos e artistas, como nos casos do Coral, do Audiovisual, do Violão, do Desenho, do Hip Hop, da Dança e da Viola.
Estar inserido em uma função pública não é nada fácil. Ser vidraça requer uma dose de tolerância. Ser pedra é criticar aquilo que se acredita que poderia ser feito melhor, e isto é muito fácil. Já estive na função de vidraça, portanto meu maior cuidado para não ser, injustamente, pedra. Daí a serenidade para entender e avaliar acertos e desacertos. Estar à frente de uma Secretaria de qualquer cidade do Brasil e do mundo é estar subordinado primeiro à autoridade máxima, que, neste caso, obviamente é o Prefeito, mas não o único: responde-se aos vereadores, a partidos políticos, à população, que, uma vez que decidiu quem governa, deve estar preparada para entender que é o governante quem decide, pois este recebeu uma procuração do povo para isto.
Como tratar de cultura é tratar de diversidade, não é possível descartar o fato de que os interesses envolvidos são muitos, as classes artísticas se organizam, e devem se organizar, e cada uma delas tenta convencer ao poder público e a todos de que a prioridade é a de sua classe.
O desafio é ponderar, entender, dialogar, fazer. No “Dia Nacional da Cultura”, a cidade de Votorantim tem muito do que se orgulhar. As culturas estão representadas em cada votorantinense, que é singular e múltiplo, já que não existe cultura pura, e cada qual se completa no outro, incompleto, diverso, mas único, seja no jeito de falar, na forma de se vestir, nas religiões que cada um professa, no bolinho de chuva da Dona Carmen do bairro da Chave ou no delicioso pão de abóbora de Dona Helena, mãe do Pedrão.
Somos um só povo, temos um só objetivo, sermos felizes, o que não significa necessariamente homogeneidade, pois cada um é feliz ao seu modo. O que desejamos é viver em uma sociedade justa. As rusgas não podem impedir o convívio com as diferenças para aqueles que acreditam no caminho da Cultura e da Educação como transformação social.
Somos seres passíveis de erros, mas também de acertos. Precisamos respeitar os limites de cada um de nós, por isso as comparações não fazem sentido, já que cada ser é único. Questionar, não aceitar, ir para o embate é característica de uns, de outros não, que certamente possuem outras qualidades.
O Governo Pivetta, no que diz respeito à Cultura, vem muito mais acertando do que errando, e isto se deve a pessoas que estão se dedicando a esta causa transformadora. Prova maior é o CineFest Votorantim, projeto iniciado em 2004 e que chega a sua 7º edição, fortalecido e referência entre os grandes eventos audiovisuais do país. Isto nos faz acreditar que a gestão anterior da Cultura também não foi composta só de erros ou só de holofotes. Foi também uma cultura preocupada em transformar, feita para a cidade, com a finalidade de sugerir alternativas. Note-se que neste texto misturam-se a primeira pessoa do singular, eu, a primeira do plural, nós, a terceira, singular e plural, ele e eles. Sei, sabemos, que, depois de muito tempo, o votorantinense pôde começar a se orgulhar ao entender que a sua cidade tornou-se referência de cultura, e assim deve continuar.
A gestão atual tem ainda 50% de tempo para colocar em prática muitos outros projetos. Mesmo com os orçamentos previstos, isto não significa que estes estarão disponíveis para os projetos. Ainda há tempo para outros avanços e para a construção de uma memória que nos possibilite olhar para nós mesmos com olhos críticos, com olhos de afeto, com as lentes da cultura à qual pertencemos e que nos distingue de todos os outros, ao mesmo tempo em que nos irmana e nos congrega. Que possamos reinventar continuamente novas formas de fazer a cultura acontecer com vigor e paixão. Este é meu sonho. Espero que seja o nosso sonho. Sonhar a cultura e ser sonhado por ela. É isto que me mantém em movimento.
Werinton Kermes é jornalista e produtor cultural.
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