Folha de Votorantim
Prefeitura informa que caso está sendo apurado em sindicância e que todas as medidas necessárias serão tomadas
César Augusto de Almeida, 40, tem certeza absoluta que foi negligência médica o motivo da morte de sua esposa, Idalina de Souza, 47, há uma semana. A mulher morreu em seus braços às 5h25 do dia 8 de maio, depois de oito horas de agonia, na busca por um atendimento adequado. O marido ainda não sabe o motivo da morte de sua esposa.
Apesar de o irremediável já ter acontecido, César não deixa a dor sufocar sua indignação. Chamou a Polícia Militar. Um boletim de ocorrência de “homicídio culposo” foi registrado na Delegacia Central. Além disso, César estuda meios de acionar o Poder Judiciário.
Segundo o marido, Idalina não era doente, nem fazia qualquer tratamento. Ela já chegou a reclamar de dor no peito outras vezes, mas jamais um exame chegou a apontar algum problema. “Era de noite, estávamos indo deitar, e ela reclamou de dor no peito. Resolvi levá-la ao médico. Parece que foi por Deus. Só pode ter sido...”, diz o agora viúvo.
Idalina deu entrada no PA às 21h30. O médico plantonista, cujo boletim de ocorrência cita apenas o primeiro nome, indicou que fosse ministrado soro à paciente. César ficou ao lado da mulher, até porque não havia ninguém para acompanhar. Quando a aplicação acabou, César foi procurar pelo médico e o encontrou dormindo. “Isso fui eu que vi, com esses meus olhos que a terra há de comer”, ele garante. “Além da falta de médico, não tinha um enfermeiro para dar assistência, de 20 em 20 minutos que fosse.”
Acordado pelo acompanhante da paciente, o plantonista disse que a mulher estava bem. Estava em vias de lhe dar alta e preparava um receituário médico, quando a mulher caiu nos braços do marido, atordoada, reclamando novamente de dor no peito.
Novamente, foi ministrado soro. Desta vez, foi feito também um eletrocardiograma e Raio-X do tórax. César diz que a esposa não era de reclamar. “Naquela noite, ela reclamou duas vezes. Na terceira, disse apenas: ‘Bem, me ajude’.” Antes que a aplicação do soro chegasse ao fim, Idalina deu um solavanco. “Minha mulher morreu nos meus braços por falta de atendimento médico.”
O relógio de César apontava 5h25. Desesperado, exaltado, ele saiu aos berros, em busca de ajuda. “Passava pelo corredor. Em nenhum quarto havia um médico ou enfermeiro.” Naquele momento, o plantão já havia trocado de turno. César encontrou outro médico, que estava discutindo com um paciente, e que nada sabia do caso de Idalina.
“Eu fico arrepiado de ver isso”, diz César, apavorado, ao passar em frente à sala de reanimação no corredor do PA Central. Foi para lá que levaram sua mulher, já sem vida. Foi em vão. Ele disse que ainda viu duas enfermeiras conversando entre si: “Será que demos a medicação correta?” César e Idalina foram casados por 20 anos.
O que revolta é a falta de interesse, a negligência. “É o tipo de coisa que a gente pede pra Deus que não aconteça com ninguém. O máximo que se pode fazer é lutar para isso não acontecer com outras pessoas.” O laudo do Instituto Médico Legal (IML) deve ficar pronto em 30 dias. Idalina foi sepultada no Cemitério São João Batista na manhã do dia seguinte.
Sindicância
A reportagem enviou um e-mail à Secretaria de Comunicação em que solicita um posicionamento da prefeitura. Na tarde da última quarta (11), a secretária municipal de Saúde, Gladys Barasnevícius, entrou em contato por telefone e informou que o caso está sendo apurado.
Ela já solicitou ao PA que lhe dê explicações sobre o ocorrido. Além disso, o caso foi encaminhado à assessoria jurídica da Secretaria de Saúde para abertura de sindicância. “Todas as providências serão tomadas”, enfatiza a médica, que se mostrou bastante sensibilizada com o ocorrido. “Entendo a aflição da família. [A vítima] era uma mulher jovem. Foi uma tragédia que aconteceu justo no Dia das Mães”, lamentou a secretária.
Na tarde de ontem, a reportagem foi ao PA, onde, em contato com a administração da unidade, se disponibilizou a ouvir o médico responsável pelo atendimento, naquele ou em qualquer outro horário. Até o fechamento desta reportagem (19h30), não houve retorno.
A reportagem achou por bem não divulgar o primeiro nome do médico citado no boletim de ocorrência até que o caso seja melhor esclarecido.
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