domingo, 8 de maio de 2011

TROCADOS NA MATERNIDADE - Apesar dos problemas financeiros, crianças estão bem e felizes

Notícia publicada na edição de 08/05/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 004 do caderno E

Leila Gapy


Morando na casa da sogra, Rita vive com seus cinco filhos, custeados pela pensão de R$ 300 - Por: ERICK PINHEIRO




"Os heróis são aqueles que tornam magnífica uma vida que já não podem suportar", já dizia no início do século passado, o escritor francês, Jean Giraudoux. A frase tem quase cem anos, mas ainda cabe aos dias de hoje. Pelo menos na vida da dona de casa e ex-catadora de material reciclável, Rita Ribeiro da Silva, de 34 anos, a frase faz sentido. Na contramão de mães que abandonaram seus filhos - como o caso de Rosineide de Salles Lins, de 39 anos, que virou notícia no país após ser filmada deixando sua filha num contêiner de lixo, em Praia Grande, na semana passada -, Rita resume em sua vida que a capacidade de amar e ser mãe não tem relação com vida financeira, grau de instrução, raça ou religião.

Em 2004, a dona de casa, que já era mãe de duas meninas, teve um menino que foi trocado na maternidade; foi acusada de adultério e abandonada pelo marido. Na sequência, descobriu a troca e foi obrigada a destrocar os bebês, então com um ano de vida. Ela vivenciou a constatação de maus tratos às crianças por parte da outra família envolvida. Por fim, como os maus tratos foram constatados, mesmo pertencendo a classe de baixa renda votorantinense, adotou seu filho de criação. Quando a troca dos bebês foi descoberta, Rita se reconciliou com o marido, Cláudio Gonçalves Machado, falecido há seis meses, com quem teve mais uma filha.

Hoje, viúva e mãe de cinco filhos (quatro biológicos e um adotivo), todos crianças, Rita se supera diariamente na arte de sobreviver em condições precárias e manter a família unida. "Tudo que tenho são eles. Meus amores. Faço tudo por eles. Pois não movi terras por eles? Sou mãe mesmo, com todas as letras", diz ela, que não terminou o ensino fundamental, vive de favor na casa da sogra e se mantém com a pensão de R$ 300 do marido. "O dinheiro é pouco, mas dá para comer. Tem bastante gente que ajuda também, com roupas e alimentos", fala ela, que é moradora do parque Bela Vista. A dona de casa assume que sua condição não é fácil.

Segundo Rita, a mãe dela tem um terreno no bairro, onde ela tinha um barraco de madeira e papelão. "Tivemos que sair de lá porque corríamos riscos de acidente. A Prefeitura nos autorizou a construção de casa de alvenaria, mas não tenho condições", explica. Por isso, ela e as crianças estão num salão improvisado na casa da sogra. Os móveis fazem a divisão dos cômodos. As roupas, alimentos e brinquedos são empilhados, devido a falta de espaço. As crianças vestem roupas doadas e, por vezes, em más condições.

Mas apesar disso, todas elas (Giovana, de 10 anos, Giulia, de 9 anos, Giuliano e Vitor, de 6 anos, e Valentina, de 3 anos) estão, visivelmente, bem cuidadas. São sorridentes, brincam o tempo todo como crianças, chamam a atenção com os sorrisos e beleza. "Quando estão todos juntos, a casa vira uma bagunça. Eu dividi a criançada em períodos na escola, metade vai pela manhã, outra à tarde. Tudo para eu conseguir dar conta deles mesmos e da casa. À noite, a casa é uma bagunça só. Mas é alegria, alegria da minha vida", afirma ela.


O dente é igual


Quanto aos meninos, Vitor (biológico) e Giuliano (adotivo), eles se acham gêmeos. Nasceram no mesmo dia e mesma hora. "Só que ele é branco e eu sou negro", avisa Vitor. Questionado sobre quais as outras diferenças físicas, ele acrescenta: "O dente." Giuliano interrompe então e garante: "Não são não, são iguais, brancos. O seu está meio amarelo, mas é branco também." Já Vitor prossegue: "Eu ia falar que você está com janela e eu ainda tenho todos, ó", e abre o sorriso. As crianças garantem que se amam e brincam o tempo todo. Giuliano sabe que é filho "do coração" de Rita.

Segundo ela, há pouco tempo ele começou a questionar sobre a diferença racial. "Optei por não mentir nunca. Falei outro dia que a mãe biológica dele achou melhor ele ficar comigo", detalha ela. E acrescenta: a outra família não se faz presente, raramente vai à sua casa para ver a criança. Segundo ela, é o melhor para todos. "Eu sou louca por esse menino, desde sempre. Acho que mãe é quem cria e eu sou a mãe dele. Não há mais o que conversar ou questionar", diz ela, que espera somente conseguir criá-los diante da honestidade e da bondade. "Quero que estudem e sejam felizes", finaliza.

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