domingo, 8 de maio de 2011

'Tive um filho e na verdade ganhei dois'

Notícia publicada na edição de 08/05/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 5 do caderno E -
 
Conheça a história da dona de casa e ex-catadora de recicláveis, Rita Ribeiro da Silva, de 34 anos. Em 2004, ela conviveu com o drama de ter os filhos trocados na maternidade, situação que lhe rendeu inúmeros problemas. Por obra do destino, "virou" mãe das duas crianças: Vitor e Giuliano
Vitor e Juliano, que nasceram no mesmo dia e na mesma hora, viraram irmãos gemeos - Por: Erick Pinheiro
 
A história da dona de casa Rita Ribeiro da Silva, de 34 anos, saiu do roteiro comum, de mãe e filhos, quando, no dia 19 de julho de 2004, uma companheira de quarto da maternidade da Santa Casa de Votorantim perguntou se o nome dela era outro, conforme estava escrito no berço do então filho recém nascido. "Ali, percebi que havia coisa errada", recorda. E havia mesmo. O bebê que estava no berço ganhou o nome de Giuliano, conforme ela planejava. Mas não era seu filho biológico. Era filho de outra moça, residente em Piedade e que havia dado à luz um menino também no mesmo dia e horário que ela havia tido o seu.

No entanto, Rita o levou para casa, apesar da desconfiança. "Sou negra e o bebê era branco. Conforme isso foi se definindo, ele ficando clarinho, loirinho, meu marido começou a desconfiar da paternidade e como achou que eu o havia traído, me abandonou", lamenta. Porém, consciente de que não havia feito nada de errado, Rita ressalta que foi atrás do hospital para descobrir o que aconteceu. Depois dos primeiros contatos, o caso veio à tona. Outra família, de Piedade, estava com seu filho, então chamado de Vitor. A entidade confirmou a troca por meio de testes de DNA e a Justiça foi avisada.

Um ano depois, ela e a outra família tiveram que destrocar os bebês por ordem judicial. Mas isso não acalmou o coração de Rita. "Desde o início, eu sabia que a criança que estava comigo não era meu filho. Me questionava onde estava o meu filho. E depois, quando descobri, não me aquietei. Não queria devolver o bebê que tinha criado. Queria os dois pra mim. Fui teimosa, pedi à Justiça tempo para a destroca. Eu tinha que acostumar com a situação e as crianças também", detalha ela, que, enquanto queria os dois, vivenciou a rejeição da outra mãe com o filho biológico.

"Desde o início eu queria os dois e ela disse que preferia o que ela criava e, se fosse para destrocar, então ela preferia não ficar com nenhum", lamenta. Houve um período de adaptação por parte das famílias mas, em poucos meses, a Justiça decretou que Rita ficasse com as duas crianças. "Devolvi o Giuliano para a família, mas meu coração vivia angustiado. Mãe sente as coisas. Mas eu achava que jamais me dariam ele, pois sou pobre. Por fim, me deram e eu chorei como nunca", diz ela. Giuliano foi retirado dos pais biológicos por maus tratos e negligência, pois não era cuidado como prevê a lei.

Apesar de ter ficado com os dois bebês, Rita lamenta o que ocorreu com o filho de criação. "Adoro esse menino, mas fico triste por ele, por hoje ter que explicar o inexplicável, o abandono, a rejeição". Porém, apesar disso, ela se diz feliz. "Eu já era pobre e continuo pobre. Tive um filho e na verdade ganhei dois. Depois, tive mais uma criança. Passamos dificuldades, mas, apesar disso, me considero uma mãe sortuda", avalia.

Processos
O caso de Rita se transformou em três processos judiciais encabeçados pelo advogado José Roberto Galvão Certo. As três ações são por danos morais contra a Prefeitura de Votorantim/Hospital Santa Casa, pois o hospital é municipal. Um deles tem como vítima a própria dona de casa, explica o advogado, que foi lesada pela troca, sofreu como mãe, foi acusada de traição, sofreu abandono, teve que destrocar as crianças, desmamando com urgência o filho de criação e verificando maus tratos a ambos e, posteriormente, assumindo a maternidade dos dois, sem condições financeiras para criá-los.

As outras duas ações têm como vítimas as crianças que, segundo Galvão, sofreram danos psicológicos com o erro. De acordo com Galvão, diante da precariedade com que Rita cuida das crianças, a sugestão de indenização é de cerca de R$ 600 mil por processo. No entanto, segundo o advogado, apesar das ações terem sido abertas entre 2009 (Rita) e 2010 (crianças) e as partes já terem sido citadas, nenhuma audiência ainda foi marcada. "Lamento porque acredito que a Rita é um grande exemplo de mãe e mulher vencedora, que apesar de tudo, lutou e luta por seus filhos", afirma. Procurada, a Prefeitura de Votorantim informou apenas que o caso está na Justiça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Ouça a Rádio Votorantim