COCAÍNA 'BATIZADA' - Região é usada como laboratório do tráfico

Notícia publicada na edição de 19/06/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 5 do caderno A

Marcelo Roma

Em um mês, polícia localizou três laboratórios de preparo da droga na região de Sorocaba: em Itu, Salto de Pirapora e Votorantim

No laboratório, cocaína pura é misturada com outros produtos - Por: Arquivo JCS/Erick Pinheiro

 

Traficantes que movimentam grande quantidade de cocaína e abastecem cidades da região metropolitana de São Paulo mantêm laboratórios na região de Sorocaba. Os lugares escolhidos são geralmente chácaras cercadas por muros altos. No interior e em cidades menores, acreditam que ficam menos visados pela polícia. Em menos de um mês, três laboratórios de preparação de cocaína foram descobertos em Itu, Salto de Pirapora e Votorantim. Nos três lugares, a polícia recolheu 207 quilos da droga.

O delegado Alexandre Banietti, da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Sorocaba, explica que no laboratório a cocaína pura é manipulada, misturando-a com outros produtos químicos, depois prensada e embalada. Esses produtos podem ser cafeína, xilocaína, bicarbonato de sódio e até fermento em pó. Intermediários garantem a distribuição para traficantes menores, geralmente nas periferias das cidades, onde a droga é vendida nas "bocas".

 

O traficante que vende diretamente ao comprador quase sempre torna a misturar a cocaína com outra substância, para fazê-la render ainda mais. Pode ainda transformá-la em crack, que é um subproduto da cocaína. Algumas amostras chegam a ter 5% ou menos de cocaína, de tão misturada. Por essa razão, segundo o delegado, testes para detecção da droga no Instituto de Criminalística (IC) têm que ser feitos com tipos diferentes de reagentes.

 

Infraestrutura do crime

Os traficantes que trabalham na preparação da cocaína utilizam liquidificadores, prensas e balanças. Para a secagem, forno micro-ondas ou estufa. Eles permanecem normalmente alguns dias, o tempo para enviar nova remessa, e evitam circular pela cidade para não despertar suspeita de moradores, observa Banietti.

A cocaína produzida numa chácara do bairro Cubatão, em Votorantim, ia para cidades da Grande São Paulo, conforme investigação realizada pela Polícia Civil de Cajamar. Quatro homens e uma mulher foram presas na propriedade alugada - que tinha piscina, mesa de sinuca e churrasqueira - no dia 25 de maio. No dia 10 de junho, a Dise de Sorocaba achou outro laboratório numa casa do Parque São Camilo, em Itu. Não havia ninguém na casa. E na última quinta-feira, policiais militares de Salto de Pirapora prenderam um casal que os levou ao laboratório numa chácara do bairro da Barra. A cocaína iria para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Mais laboratórios

 

O delegado acredita que mais propriedades alugadas na região de Sorocaba sejam utilizadas com a mesma finalidade. Municípios como Itu e Araçoiaba da Serra têm grande quantidade de chácaras de lazer. A desconfiança de vizinhos sobre algo ilegal é um dos pontos de partida para a ação da polícia, por meio de denúncias, lembra Banietti. O chefe do tráfico, que é quem mais lucra, não costuma dar as caras nos laboratórios. As pessoas presas nesses lugares evitam falar e às vezes nem sabem para quem trabalham.