Notícia publicada na edição de 19/06/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 4 do caderno E -
Júlio de Carvalho
O cinema brasileiro completa hoje 113 anos de existência, mas os produtores audiovisuais ainda enfrentam dificuldades para divulgar seus trabalhos. Os cinematógrafos da região falam que, apesar da produção crescente a cada ano de curtas e outras produções audiovisuais, não existe lugar para a divulgação. O produtor cultural Werinton Kermes fala que a falta de espaço é apenas um dos motivos pela qual a região não tem uma produção tão grande. Diz que as criações audiovisuais ainda são muito acanhadas, apesar de haver mais facilidade no contato com a tecnologia. "Eu venho de uma geração guerrilheira em fazer arte. Naquela época, fazer uma produção cinematográfica era praticamente impossível, os equipamentos eram escassos." Kermes conta que teve muita dificuldade para realizar a edição do primeiro documentário dele, pois não havia recursos tecnológicos o suficiente e saía caro uma edição profissional na época.
O acesso a câmera de celulares foi um divisor de águas para a produção independente, acredita Werinton Kermes, pois, a partir da posse dessa nova tecnologia, qualquer pessoa poderia realizar suas produções, apesar de isso não ter acontecido na opinião do produtor. Ele diz que o acesso à tecnologia não facilitou as coisas, apesar de qualquer um poder filmar e editar no próprio computador, o jovem se tornou acomodado, sem a militância da produção cultural. "Eu tenho esperança no jovem, não sou um velho que fica somente no passado, mas falta uma mobilização, uma vontade de mudar a situação."
Para o produtor também não existem incentivo, nem políticas públicas o suficiente para criar oficinas ou cursos de aprimoramento audiovisual, como forma de incentivar aqueles que querem começar carreira nas produções cinematográficas. Werinton Kermes se revela um apaixonado pelo cinema alternativo, pois vê neste estilo de produção uma forma das pessoas refletirem sobre o assunto.
Problema nacional
O doutor em teoria da comunicação Maurício Gonçalves fala que a falta de espaço não é um problema somente regional, mas nacional. Segundo ele, o cinema comercial, onde as pessoas têm mais acesso, se concentra na mão de poucos e o restante das produções consumidas pela população é de produção estadunidense. "Boa parte do que passa nas televisões e nas salas de cinema é lixo estrangeiro", fala. O professor também fala que mesmo essas produções massificadas acabam por se tornar de acesso mais difícil, pois nem todos têm condições de pagar quase R$ 20 para ir ao cinema.
Em contraponto, uma forma de contribuir para a produção regional, que tem ganhado destaque nacional, foi o Cine Fest Votorantim, segundo o produtor e um dos organizadores do festival, Marcelo Domingues. Ele conta que o evento traz oficinas e discussões sobre a sétima arte, além de um prêmio em dinheiro. Isso tudo contribuiu para que a produção tenha aumentado bastante. "Hoje, há muito mais ação dos jovens neste festival, eles ficam mais empolgados em produzir algo", conta Domingues. Além disso, o Cine Fest tem na programação um tempo reservado somente para a mostra de filmes produzidos na região, pois o festival recebe produções do Brasil e do mundo.
Para o produtor Marcelo Domingues, o curta brasileiro é um dos melhores do mundo, pois, além de servir como escola, é onde o produtor pode realizar experimentações. A fotógrafa Marina Hungria é uma entre esses jovens que a oportunidade de experimentar e a facilidade tecnológica a incentivam fazer curtas. Ela fala que seus vídeos partem do prazer que ela sente em observar as pessoas ou o cotidiano.
Marina já recebeu uma menção honrosa no festival do minuto com o curta "Tango Alegre", no qual pediu para sua avó tocar um tango que expressasse a alegria e após isso começou a filmar cenas da própria família. Ela fala que a produção audiovisual está sempre ocorrendo, na maioria das vezes entre amigos, como uma ideia que o grupo resolve filmar ou algum clipe de uma banda. Marina fala que as suas produções buscam a reflexão, pois fugir das ideas estereotipadas é fundamental para qualquer um. "Acredito que ir contra a correnteza do óbvio é muito mais sincero e interessante."
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