Manoel Peres Sobrinho*
Tentaram me mandar pra reabilitação/ Eu disse "não, não, não"/ É, eu estive meio caída, mas quando eu voltar/ Vocês vão saber, saber, saber/ Eu não tenho tempo/ E mesmo meu pai pensando que eu estou bem;/ Ele tentou me mandar pra reabilitação/ Mas eu não vou, vou, vou// Prefiro ficar em casa com Ray (Charles)/ Não posso ficar 70 dias internada/ Por que não há nada/ Não há nada que possam me ensinar lá/ Que eu não possa aprender com o Sr. (Donny) Hathaway// Não aprendi muito na escola/ Mas sei as respostas não estão no fundo de um copo – Reabilitação, Amy Winehouse.
Amy não quis ir para a reabilitação, por isso não voltará mais, contrariando o seu desejo expresso na letra da música acima. Difícil imaginar que uma pessoa extremamente talentosa, com tanta vida, inteligência e brilho pessoal, pudesse deixar-se consumir pelas drogas, matando-se. Mas aconteceu. Amy Winehouse, 27 anos, a mais talentosa estrela da música pop britânica na atualidade, foi vista comprando substâncias que poderiam ser ecstasy, heroína, cocaína e ketamina (um medicamento veterinário alucinógeno) com um traficante em Camdem, na última sexta-feira, dia 22, véspera de sua morte, por volta das 22 horas. Para a família restaram somente a dor e o desabafo: "Nossa família está desolada com a perda de uma filha, irmã e sobrinha maravilhosa. Ela vai deixar um buraco em nossas vidas", lamentaram os familiares.
Curioso é que esse fato não é um acontecimento isolado, mas parece imperar sobre a cabeça das grandes estrelas uma espécie de maldição congênita que as leva a um destino trágico e fatal de morte súbita e violenta, vítimas de drogas ou de algo parecido.
Judy Garland, em 1959, uma das mais célebres cantoras e atrizes de Hollywood, quase morreu de doença hepática causada pelo uso excessivo de remédios e álcool. Dez anos depois morreu vítima de overdose de barbitúricos. Marilyn Monroe morreu por causa de uma overdose de calmantes e barbitúricos. Elvis Presley odiava drogas ilegais, como cocaína, maconha e heroína, em compensação vivia abusando de drogas medicamentosas que o levou a morte. O escritor Tennessee Williams abusava demais de tranqüilizantes e consumia álcool além da conta. Janis Joplin morreu dia 4 de outubro de 1970, a maior estrela na época do rock psicodélico, vitima de drogas e álcool, morreu de overdose de heroína. Ironicamente, escreveu: "Posso não durar tanto quanto as outras cantoras, mas sei que posso destruir-me agora se me preocupar demais com o amanhã". Um mês, antes, morreria em Londres, Jimi Hendrix, o maior guitarrista da história do rock. Tomou nove comprimidos para dormir, asfixiando-se (afogando-se) no próprio vômito composto principalmente de vinho tinto. Michael Jackson, reconhecido como o "King of Pop" autor de belíssimas canções como "We are the world", divulgador do passo moonwalk, também chamado backslide, é um passo de dança, popularizado por ele que se tornou sua marca registrada. De parada cardíaca, após coma profundo, morreu vítima de overdose de fármacos, sendo o último o anestésico Propofol.
Considerando que vivem numa realidade além da mera experiência dos pobres mortais, seu comportamento parece fazer acreditar nessa rara utopia. Assim, abusam do corpo consumindo todo tipo de droga para proporcionar sensações mirabolantes. Além do que, muitos sofrem de profunda depressão pelo fato de imaginarem fracasso de público, e, ainda, a timidez de terem de enfrentar sempre um público cada vez mais ávido de novidades e exigente de performance. Não tendo alternativa segura e saudável, entregam-se a soluções imediatas, porém, perigosas. É o caso das drogas.
Janis Winehouse, mãe da cantora, chorou muito enquanto observava os presentes deixados para sua filha. Como uma família qualquer, chora, agora, a perda da filha. Desabado o pedestal, do qual se utilizava Amy, para se engajar ao convívio dos semideuses, desnuda-se a frágil e delicada pessoa humana. Com lágrimas e consolações de momentos felizes, viverá a família agora, como numa espécie de recompensa e catarsis para tão pouco tempo de convivência. Serão valorizados seus objetos pessoais, seus trejeitos e pertences. Tudo que lembrá-la, será motivo para comentários e lágrimas. Na vida há um grande mistério: o valor real e verdadeiro que dedicamos às pessoas à nossa volta só pode ser percebido quando sentimos que elas estão realmente perdidas. Não deixe de abraçar sua filha hoje e de lhe dizer que a ama. Não deixe de falar com alguém de sua família por causa de alguma briguinha corriqueira e idiota. Não deixe pra amanhã. Quem sabe, amanhã, você só poderá chorar as lágrimas que eles jamais verão.
(*o autor é membro da Academia Votorantinense de Letras, Artes e História)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.