sábado, 20 de agosto de 2011

EDITORIAL: Solução existe; basta querer

Notícia publicada na edição de 20/08/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A 
Este é um serviço que não comporta improvisos ou imprecisão; que exige um planejamento criterioso, e no qual todas as eventualidades devem ser previstas

O problema da falta de remédios na Farmácia de Alto Custo do Hospital Regional de Sorocaba, responsável por fornecer medicamentos gratuitos a pacientes de Sorocaba e municípios da região, é perfeitamente solucionável com uma boa dose de vontade política e ferramentas básicas de gestão, como controle, informação e planejamento - além, é claro, de dinheiro em quantidade suficiente, sem o que mesmo a melhor gestão é incapaz de manter um fluxo normal de atendimento.

Reclamações sobre falta de remédios têm surgido na imprensa local com regularidade. Pacientes com doenças crônicas até deixam de comer para poder comprar os remédios. A situação é tão grave que representantes das secretarias de Saúde de 18 cidades da região, responsáveis pela assistência farmacêutica no âmbito de seus municípios, decidiram unir forças para cobrar soluções do diretor do Departamento Regional de Saúde (DRS-16), João Márcio Garcia ("Hospital Regional -Faltam medicamentos de alto custo", 19/8, pág. A6).

Conforme o médico e coordenador de programa de saúde em Votorantim, Adalberto Leme, alguns remédios estão em falta há três meses. "Queremos saber se o problema é de gestão, de planejamento, de repasse estadual ou federal", disse Leme, informando que são 22 os medicamentos em falta. Por seu turno, a Secretaria de Saúde do Estado contesta o número de itens faltantes, que seriam 16, e tenta minimizar o impacto negativo da notícia, com a informação de que irá remanejar alguns itens de outras farmácias para atender emergencialmente a região de Sorocaba. Conforme nota da secretaria, uma "grande reformulação" estaria sendo feita para "minimizar os transtornos" causados por "eventuais" faltas de medicamentos.

É difícil imaginar os motivos pelos quais a reformulação ainda não ocorreu. Ou por que os responsáveis por manter abastecidas as farmácias de alto custo permitem que os remédios acabem nas prateleiras para, só então, fazer remanejamentos, deixando os pacientes a descoberto por longos períodos, em que são obrigados a reduzir ou a parar com os tratamentos. Mais difícil ainda é compreender por que os medicamentos que sobram com o falecimento de pacientes ou alterações nos tratamentos precisam ser devolvidos à secretaria, quando há filas de espera para os mesmos.

Este é um serviço que não comporta improvisos ou imprecisão; que exige um planejamento criterioso, e no qual todas as eventualidades devem ser previstas, para que não se tenha surpresas no caminho. Mecanismos não faltam ao administrador para levantar as informações necessárias à elaboração de um planejamento eficiente. Sendo sempre as mesmas as drogas fornecidas, é perfeitamente factível um plano B, que permita ao sistema contar com um estoque preventivo para evitar que este ou aquele item se esgote a cada atraso ou pico de demanda. E, para as emergências verdadeiras, em que uma realidade completamente nova e surpreendente venha exigir soluções rápidas, há sempre a possibilidade de aquisições emergenciais, mediante a dispensa de licitação que, quando bem fundamentada, é perfeitamente legal.

Não se pode admitir que a escassez de medicamentos, sejam eles 16 ou 22, possa ser atribuída a fatos isolados ou - ainda pior para a imagem do administrador - a fatores imprevistos. Fosse apenas um remédio em falta, ainda assim seria uma falha gravíssima, pois há muitas vidas em jogo. Seja qual for a causa do desabastecimento, ela precisa ser resolvida de uma vez por todas, sem mais desculpas e evasivas.

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