segunda-feira, 21 de novembro de 2011

NATAL, LIXÃO E URUBUS

MANOEL PERES SOBRINHO*

Só o homem pode ser inimigo do homem; só ele pode roubá-lo do significado dos seus atos e de sua vida, porque somente a ele cabe confirmá-lo em sua existência, reconhecê-lo no fato real como uma liberdade... minha liberdade, a fim de se  realizar... requer que esta surja num futuro aberto; são os outros homens que abrem o futuro para mim, são eles que, estabelecendo o mundo de amanhã, definem o meu futuro; mas, se em vez de me permitirem que eu participe desse movimento construtivo obrigarem-me  a consumir em vão minha transcendência se me conservarem abaixo do nível que conquistaram e em cuja base, novas conquistas serão alcançadas, então eles estarão cortando-me o futuro, estarão transformando numa coisa – Simone de Beauvoir, Para uma Moral da Ambigüidade.


Em noticia veiculada pelo Blog “Notícias da Cidade de Votorantim” ficamos sabendo que o aterro sanitário de Votorantim tem 19 pessoas trabalhando como catadores de lixo. Cada trabalhador coleta uma média de mil quilos de plástico e vidro por dia e vende o material a um atravessador. Com 46 anos, Tânia, uma das catadoras, vive sozinha em um barraco de madeira coberto por uma lona preta. Não há energia elétrica e nem água encanada na residência. A cama não tem colchão e a base é de tijolos. 

Tânia trabalha há 30 anos em lixões e aterros sanitários de Votorantim. "Minha vida, diz ela, é praticamente dormir e tirar o meu sustento no lixão". Ela tem duas filhas. O expediente termina por volta das 18h. O contato com o lixo, aliado ao mau cheiro, não incomoda tanto o grupo. Todos dizem que nunca ficaram doentes por mexer nos dejetos.  Nem mesmo a presença dos urubus é motivo de reclamação. "Pelo contrário! Os urubus nos ajudam bastante. Quando eles enfiam a cabeça no monte de lixo é porque ali tem um pedaço de frango. E onde há frango tem o plástico que embrulha a carne. Daí a gente vai e pega a embalagem para vender", comenta Elisabete, outra catadora. "Aqui a gente não atrapalha ninguém, só queremos trabalhar", diz. (G.B.)

     Sinceramente, com um nó na garganta de ódio e repulsa do sistema que rói as pessoas, como peças de uma engrenagem, e as troca quando estão gastas, fiquei pensando: Em breve essas mesmas pessoas do lixão ouvirão de outras pessoas: “Feliz natal, próspero ano novo!”.
     Será mesmo isso possível.

     É incrível como o papai Noel “pode” entregar presentes, mas não consegue mudar o destino das pessoas. É incrível que ele se embriague com os vinhos, se entupa com as carnes, delire com as luzes, e se entusiasme com as festas. Mas, é impotente para mudar o destino dos desgraçados, desvalidos. Um dia após o Natal, as coisas virão a ser como sempre foram. E o sofrimento que se quis espremer até expulsá-lo, saltando bem longe, lá estará novamente, como um companheiro maldito e indesejável. Essa é a grande tragédia da enorme mentira que é o natal. Uma farsa que inebria e contagia, entorpece e faz cair na cilada do “faz de conta”. Há muito colorido, e tudo parece brilhar, onde o sentimentalismo barato toma conta de tudo. 

     Mas é uma grande mentira. Que nos corrompe por dentro. Porque estamos demasiadamente desejos de acreditar que isso poderia ser verdade. É uma tragédia de infinitas conseqüências. Isso tudo não tem sentido. É uma enorme insanidade e uma doença contagiante, uma epidemia que parece que a humanidade não deseja se curar. Rejeita terminantemente, como quem num torpor jamais quisesse acordar. 

     Que pena! A mais sublime das histórias. A maior demonstração de amor. O maior feito que jamais ocorreu em toda história da humanidade. O que  deveria ser elevado, transformou-se numa atitude grotesca, o que era inefável, se tornou patético, tudo porque, mais uma vez o ser humano não entendeu o recado dos Céus.

*Querendo ler textos do autor, literatura em geral, teologia, espiritualidade, notícias atuais e curiosidades sobre a História de Israel, acesse: http://mpfragmentos.blogspot.com  A partir de 1 de dezembro estaremos postando todos os dias uma mensagem de nossa autoria sobre o Natal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Ouça a Rádio Votorantim