Manoel Peres Sobrinho
Nada é mais difícil de realizar do que iniciar a introdução de uma nova ordem, pois a inovação tem como inimigos todos aqueles que prosperam sob as condições antigas e como amigos aqueles que podem se beneficiar com as mudanças. Maquiavel.
Longe de querer misturar água e óleo, a idéia de aproximar República e Natal, seria observar que, no fundo, ambos os assuntos têm uma mesma preocupação: instituir uma nova ordem porém, a partir de instrumentos diferentes. No entanto, é preciso ordenar os fatos para que se possa entender o resultado de cada um.
Descontentes com o Império, os republicanos colocaram mãos à obra para fazer acontecer a criação de uma república. Temas extremamente problemáticos já faziam água na nau do Imperador D. Pedro II.
A situação política do Brasil em 1889, a crise econômica, a questão do abolicionismo, a questão religiosa, a questão militar e a atuação dos positivistas, deram vazão ao golpe militar que culminou em 15 de novembro de 1889. Não fora bem por amor ao Brasil que tudo isso era feito. Mas porque já haviam esquartejado o Império em porções que atendiam bem ao anseio político de cada um dos participantes diretos do evento.
O povo, como sempre, estava à margem, sem entender bem ou quase nada do que estava acontecendo. Os primeiros anos já demonstraram que a República, na verdade, era só uma pífia ficção política para prover de poder aqueles que estavam descontentes com o seu quinhão no Império. E o problema do Brasil não foi resolvido, postergado sim, para as futuras gerações, Vindo a sofrer crises e mais crises em governos posteriores. Vindo nos alcançar aqui no século XXI.
Quanto ao Natal, já são mais de 2.000 anos de celebrações da vinda do Senhor Jesus. Ocasião em que todos aqueles que crêem no Salvador, comemoram Sua vinda como Aquele que nasceu para salvar o pecador e resgatá-lo de sua vida fútil e sem sentido.
Numa comparação entre os eventos podemos perceber sinais de aproximação e contundências.
A República é um movimento político; o Natal é um acontecimento espiritual, vindo de certa maneira, tingir de compreensões políticas seus matizes espirituais. A República almejava destituir o Império e estabelecer um governo de muitos; o Natal estabelecia um governo de um só, o Senhor Jesus; portanto, um Império espiritual. A República mudava o estilo de governo político; a fé cristã mudava o interior dos homens. A República deixou margem para que poucos fossem se locupletando à medida que seu poder aumentava; o Natal foi um convite para que a riqueza fosse repartida entre muitos.
Mas como desgraça de alguma coisa que se corrompe em longo prazo, o Cristianismo foi tomando forma política e gosto pelas decisões de Estado, a ponto de se constituir Estado também e gerir e gerenciar a vida dos homens tanto por dentro como por fora. A República não conseguindo dar solução em seus entraves, tanto com os seus pares por diferenças ideológicas como com problemas reais de natureza física, por vezes, lançou mão de figuras carismáticas, com alto poder populista, quase religiosa, para aglutinar quantos pudesse fazê-lo. No entanto, tanto um como outra não obtiveram êxito, transferindo o saldo negativo e ônus de sua improbidade administrativa para o povo, objeto de desejo e bode expiatório, para onde recaem todas as culpas de malditos políticos e religiosos nefandos mal intencionados.
Destituídos, ambos, de sua lúgubre herança pelos desmandos e incompetências, podem ainda ser inspiração para aqueles que têm a alma simples e o coração nobre. A República como “res publica” (coisa pública) onde todos participam de uma mesma simpatia, e o Natal aonde a vinda do Salvador pode ser comemorada como solução espiritual de situações mal resolvidas. A utopia ainda faz gerar o futuro. É preciso sonhar sonhos possíveis para que realidades possam ser exeqüíveis.
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