sábado, 7 de janeiro de 2012

Em cinco dias, pipas deixam 8,6 mil pessoas sem energia elétrica

Notícia publicada na edição de 07/01/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 9 do caderno A 
 Leila Gapy
CPFL destaca os riscos de morte por descargas elétricas
 
Empinar pipas é uma brincadeira divertida, mas longe da fiação elétrica e sem uso de cerol - Por: Pedro Negrão


Somente nos primeiros cinco dias do ano, mais de 8.600 residências e/ou estabelecimentos comerciais de Votorantim ficaram sem energia elétrica. As interrupções ocorreram devido o corte dos cabos da rede elétrica, causados por linhas de pipas. Foram apenas duas ocorrências, sem feridos, mas que prejudicaram, por cerca de uma hora e meia, moradores e comerciantes de seis bairros da periferia. Em Sorocaba, no mesmo período, foram oito ocorrências e mil unidades sem energia, divididas em quatro bairros. As causas das ocorrências são as tentativas de resgates de pipas que enroscam na fiação com uso de cortantes, cada vez mais eficientes. Tanto que o número de casos cresceu em 30% comparado ao mesmo período do ano passado. A Companhia Piratininga de Força e Luz (CPFL) destaca os riscos, inclusive de morte, por conta das descargas elétricas, e convida a comunidade para fiscalizar as situações de risco.

O gerente da Central de Operações da empresa, Rodrigo de Vasconcelos Bianchi, disse ontem que a CPFL atendeu, entre dia 1º e dia 5 deste mês, duas ocorrências de interrupções de energia em Votorantim. Número suficiente para afetar 8.630 famílias dos bairros Capoavinha, Jardim Europa, São Lucas, Parque São João, Serrano e Vila Santo Antônio. Em Sorocaba foram mais ocorrências comparado a Votorantim, oito no total. Mas 1.072 clientes afetados, espalhados pela região do Sorocaba Park, Cajuru do Sul, Novo Cajuru e Parque Vitória Régia. "Em Votorantim foram mais clientes afetados, com menos ocorrências, devido ao circuito de distribuição. Ou seja, as redes atendem mais pessoas nas áreas afetadas pelos pipas", detalhou ele.

Além disso, o gerente explicou que há uma percepção comportamental dos casos, todos registrados em periferias. Segundo Bianchi, os meses de janeiro de cada ano são os que mais registram ocorrências devido às férias escolares. E quando o mês citado é ensolarado, os casos aumentam, principalmente no horário comercial. "Percebemos que as crianças e adolescentes da periferia brincam mais nas ruas. E quando as pipas se enroscam na fiação, eles brigam pelo brinquedo, tentam resgatá-los rompendo o material com outras linhas. Percebemos também que além das linhas de nylon com cerol, há um novo material no mercado chamado linha chilena, mais resistente, que não se rompe facilmente e, por vezes, atinge os cabos, tornando-se condutora de eletricidade, o que pode ser fatal", observou o gerente que solicitou empenho por parte da comunidade.

"Queremos que os pais, os familiares, as pessoas no geral, tomem conhecimento do perigo. Quando acontece uma interrupção ocorrem prejuízos materiais. Há estabelecimentos comerciais que ficam uma hora ou mais sem energia, tempo que levamos para restabelecer o fornecimento. Mais importante é que essas crianças e adolescentes estão correndo riscos reais de choque", pontuou. Embora o Corpo de Bombeiros local tenha informado que há muito tempo não atende ocorrências relacionadas ao tema, a corporação endossou a fala de Bianchi quanto os riscos à vida por conta da brincadeira. Já o Secretário de Segurança de Votorantim, Claudinei Fernando de Paula Ribeiro, assumiu que atualmente a Prefeitura não tem uma fiscalização efetiva relacionada à prática do uso de cortantes. Porém, ele destacou que a expectativa da municipalidade é que, com a formação da Guarda Civil Municipal, prevista para o final do mês, a situação mude. "Nós fazemos a fiscalização, porém, aquém do que desejamos. Esperamos que com a formação da GCM, o que deve ocorrer logo após o dia 24 deste mês (quando acabará o curso preparatório), a fiscalização seja mais eficaz."

Já em Sorocaba, além da fiscalização da Guarda Civil Municipal, a Polícia Militar e os Conselhos de Segurança mantém campanhas orientativas quanto a proibição do uso de materiais cortantes para brincar com pipas. As campanhas são baseadas nas leis municipais 5.531, de 1997, e na 8.471, de 2008.

A vida por 60 centavos

Em qualquer comércio de bairro, as pipas variam de R$ 0,50 a R$ 0,60 em média. Basta um papel de seda, seis varetas e ele está pronto. A rabiola pode ser feita de sacolas plásticas e as linhas são obtidas em casas de produtos agropecuários. O conjunto não passa de R$ 5. Mas aparentemente, a principal diversão dos adolescentes que soltam pipas é a disputa no céu. Quem vai mais longe, quem tem mais linha e quem "pega" a pipa alheia. Não é pelo valor, é pela aventura. Derrubá-la, mesmo sem conquistá-la, já é uma vitória. Foi o que a reportagem constatou ontem à tarde na Vila Santo Antônio e no Jardim Serrano, em Votorantim. Em ambas localidades, grupos de crianças e adolescentes, com idades entre 9 e 16 anos, brincavam de soltar pipas.

Nenhum dos abordados estava com materiais cortantes, mas assumiram que usam quase sempre, apoiados na maioria das vezes por irmãos ou primos mais velhos. Assumiram que disputam as pipas no ar e que tentam resgatá-las quando se enroscam nos cabos de energia. "A gente sabe que dá choque. Meu irmão já tomou vários", afirmou um menino de 10 anos do Jardim Serrano. Outro, na Vila Santo Antônio, apontou inclusive qual era o adolescente que comercializada o cerol. "Ele sempre vende pra gente", disse. O rapaz, com cerca de 17 anos, negou a venda. Porém, junto de outros adolescentes, demonstrou ser "status" a aventura de "caçar" os pipas nas redes elétricas. "Não tenho medo do choque, nem de morrer. É legal", deixou escapar em voz baixa.

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