Giuliano Bonamim
A erosão tem atingido uma área verde localizada no Jardim Archilla, em Votorantim. Basta chover para a terra e os resíduos situados no terreno se deslocarem em direção das residências construídas ao pé do morro. O pintor Antônio Francisco Dias, 56 anos, mora ao lado do terreno há 30 anos. Segundo ele, a água da chuva faz com que toda a sujeira desça do barranco e se acumule em frente à sua residência. "Forma praticamente um rio e fica até difícil sair de casa", diz.
Parte dessa área de 24 mil metros quadrados, pertencente ao município, não possui vegetação. Há dois anos, a Prefeitura de Votorantim concluiu o processo de retirada de aproximadamente 80 famílias do local. Todas viviam irregularmente no terreno, a maioria em barracos sem sistema de água, luz e esgoto. A administração municipal afirmou em nota que realiza em parceria com a Caixa Econômica Federal, um projeto de recuperação da área degradada.
As famílias deixaram o morro e, em junho do ano passado, a Prefeitura promoveu o plantio de mil mudas de cabreúva, cedro-rosa, urucum, pitanga, paineira, jequitibá, pipoqueiro, canela, angico-branco, capororocu, guarita, aroeira-mansa, pau-ferro, jacarandá-mimoso e conguinla-branca em parte do terreno. Dias diz que a Prefeitura não retirou do local as madeiras e telhas utilizadas na construção dos barracos, logo após a desapropriação. "Passaram uma máquina e cobriram tudo com terra. Isso todo mundo que mora aqui viu", diz.
A mesma afirmação é compartilhada pelo seu filho, o técnico em manufatura Waldemir Dias, 34, que também mora na região -- mais especificamente na avenida Carmen Galan Burgos. "A Prefeitura até tampou umas nascentes de água que existiam aqui quando foram limpar o terreno", comenta. Outra moradora, que não quis se identificar, diz que a Prefeitura "não dá bola" para a região. "Eu mesma preciso cortar o mato que cresce perto de casa para evitar a presença de bichos", comenta.
O técnico em manufatura chegou a registrar em vídeo o movimento da água durante uma chuva. As imagens estão postadas no Youtube com os títulos "Tsunami em Votorantim" e mostram o lixo e o barro que caem do morro. "Chega a formar até um redemoinho em frente de casa", relata Waldemir Dias. Atualmente, o morro possui uma parte sem qualquer vegetação. Há um amontoado de terra misturada com resíduos e, perto de uma corrente de água, é possível observar restos de plástico e de tecido enterrados no morro. O encanamento de água fluvial também está quebrado na parte baixa do terreno e cercado de lixo.
Monitoramento
A Prefeitura informou na nota que conhece a situação do local e corrobora que a área sofreu ocupações irregulares, as quais foram solucionadas no ano de 2010 através de um programa de habitação, o qual previa a recuperação ambiental da área desocupada. A área caracteriza-se de proteção permanente, pois além da declividade do terreno, existem no local duas nascentes de água. a nota informa ainda que "a área, na medida do possível, foi tratada com o maior cuidado possível, sendo que a retirada de boa parte do lixo do local, mais de 150 caminhões de entulho, limpeza das nascentes, plantio de árvores, desassoreamento das nascentes, colocação de pedras para conter o grande fluxo de água, plantio de grama no entorno das nascentes, são atividades que visam à recuperação ambiental da área, e, portanto, não prejudicam o local."
A Secretaria de Meio Ambiente informou que uma das medidas a ser adotada é a colocação de pedras para diminuir o fluxo de água, sendo que esta atividade é uma entre tantas outras que não estavam estipuladas no projeto de recuperação ambiental da área e que foram acrescentadas para tentar solucionar a situação do local.
Sobre o acúmulo de lixo no terreno, a Prefeitura diz que foi contratada a empresa para remover a sujeira, porém não foi retirada completamente, fato que dificulta o andamento das obras do local. A nota informa que uma nova limpeza será realizada assim que o tempo se firmar e a situação do solo se normalizar. A Secretaria explicou que antes mesmo da área ser ocupada pelas moradias há mais de 30 anos, o local recebia lixo e entulhos e com as chuvas, a terra foi cedendo e esse material começou a surgir.
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