André Moraes
Objetivo é reconhecer problemas e ajudar a comunidade a implantar soluções
Sem depender de apoio ou ações do poder público, um grupo de 27 estudantes se reuniu para identificar e buscar soluções para problemas da comunidade do Jardim Novo Mundo, que fica na divisa entre as cidades de Sorocaba e Votorantim. A iniciativa é parte do projeto "Promus - Promovendo Mudanças", coordenado por professores do Departamento de Computação do câmpus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). A ação conta com o apoio da Organização Não-Governamental (Ong) Luar, que disponibilizou sua estrutura, no próprio bairro, para que os alunos possam dormir e realizar as mais diversas atividades até o dia 21 deste mês, data em que os projetos e alternativas serão apresentados e colocados em prática.
O objetivo dos alunos, que estudam na própria Ufscar e em outros locais - como a Universidade de São Paulo (USP) e um centro de estudos universitários americano, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) - é de, por meio dessa experiência, se deparar com uma realidade com a qual não estão acostumados e mobilizar a população para que essa possa, por conta própria, buscar uma melhor maneira de viver na região onde mora.
Ao andar pelo bairro e conversar com os moradores na última terça-feira, dia 10 - data em que chegaram ao local - os jovens destacaram três problemas principais encontrados por lá: um caminho, cheio de mato e escuro, que os estudantes do bairro utilizam para ir até uma escola no Jardim Tatiana, algumas casas que foram construídas muito perto de um córrego, que costuma transbordar em tempos de fortes chuvas e o despejo de lixo doméstico e esgoto nesse mesmo córrego.
Como estão no início das atividades, os estudantes revelam que ainda não conseguiram chegar a uma solução, que está sendo discutida juntamente com a comunidade, que participou de uma reunião com eles na tarde de ontem. "Eu acho essa ideia maravilhosa, pois os prefeitos (de Sorocaba e Votorantim) não estão nem aí para o bairro e, quando chega alguém querendo ajudar, nós temos mais é que nos envolver", diz Fernanda Leme, 23 anos, que mora no Jardim Novo Mundo desde que nasceu. "Se o projeto der certo - e tomara que dê -, vai ser uma ajuda de grande valia", completa.
Segundo o professor Fábio Verdi - coordenador do "Promus" ao lado da professora Yeda Regina Venturini - o principal objetivo do projeto, que está em sua segunda edição, é aplicar tecnologias sustentáveis na comunidade, que possam solucionar os seus agravos de uma forma hábil e sem custos muito elevados. "Não adianta propor uma solução cara para a comunidade e que ela não possa dar continuidade", explica. A primeira edição do "Promus", realizada no primeiro semestre do ano passado, aconteceu no mesmo bairro, quando um centro de lazer, com um campo de futebol, foi criado pelos integrantes do projeto. Mas, conforme relata o professor, não houve manutenção por parte dos moradores, portanto o centro não existe mais.
Culturas diferentes
Para os estudantes que participam do "Promus", o principal aprendizado é o de conhecer o modo de vida das pessoas que moram em regiões mais carentes, além de poder ajudá-las a minimizar os percalços que encontram pela frente. "O mais legal é chegar aqui e ver que muitas vezes reclamamos tanto da vida, mas perceber que existe gente que vive com muito menos e é feliz", sentencia a aluna do curso de Ciência da Computação da Ufscar, Camila Godoy Justo, de 21 anos. De acordo com ela, o mais importante é envolver a comunidade nas discussões. "Eu falo que não existe nós, os estudantes, e os moradores, pois nós somos todos um grande grupo", relata.
A jovem Karine Tiemi Yuki, de 20 anos, também acredita que a participação ativa da população pode fazer a diferença. "Esse projeto é totalmente diferente, pois no Brasil vemos bastante o assistencialismo. Mas aqui não, estamos criando juntos, podendo ficar um passo mais perto de resolver o problema de forma sustentável", conclui Karine, que é paulistana, porém há dois anos e meio estuda Física e Ciências Políticas no MIT.
Apesar das estudantes contarem que estão passando por novas experiências na comunidade, quem sentiu isso na pele certamente foi a americana Amelia Carver, 21 anos, que estuda Música e Desenvolvimento Internacional e Planejamento Urbano no MIT. Ela, que mora na cidade de Cambridge, diz que mesmo vivendo em meio a uma nova cultura, percebeu que alguns problemas enfrentados pelos moradores do Jardim Novo Mundo são encontrados em cidades dos Estados Unidos. "Tem problemas que são universais", afirma.
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