Leandro Nogueira
Por: Fábio Oliveira
Submersos há dois dias com ar suficiente para 40 minutos os jovens empresários já são considerados como mortos pelos familiares
Prosseguem a partir das 7 horas de hoje as buscas pelos dois mergulhadores desaparecidos desde a tarde do sábado, quando submergiram na desativada e alagada pedreira em Salto de Pirapora, também conhecida por antiga pedreira da Cominge. Ela fica próxima ao quilômetro 7 da rodovia SP-104, que liga aquele município com Votorantim ou Piedade e o acesso dá-se por uma estrada de terra. Os mergulhadores são Alessandro Varani, de São Bernardo do Campo e Rodrigo Garcia, de São Caetano do Sul, cidades da grande São Paulo. Ambos têm 29 anos de idade, cada um deles é empresário, casado e têm filha com cinco anos de idade. Com equipamentos que possibilitavam uma autonomia de cerca de 40 minutos de mergulho, eles são considerados como falecidos pelos familiares. O possível óbito é considerado incomum por envolver mergulhadores e ainda dois ao mesmo tempo. O ponto mais profundo é estimado em cerca de 90 metros, mas os homens do Corpo de Bombeiros têm condições de realizar as buscas em até 30 metros, já que a maior profundidade exige outro tipo de ar comprimido. Existe a previsão de mergulhares civis darem apoio ao Corpo de Bombeiros para fazer a varredura nas áreas mais profundas. Ontem os trabalhos seguiram até às 18 horas, quando começou a escurecer.
O tenente do Corpo de Bombeiros, Eduardo Casagrandi Mansoldo Filho, disse que a equipe de seis homens desceu aproximadamente 30 metros no ponto onde as vítimas deveriam estar mergulhando. Segundo ele, o local mais crítico encontrado foi uma área próxima ao paredão de pedras, com galhos e árvores submersas onde existe a possibilidade de um mergulhador recreacional enfrentar dificuldade e sofrer algum tipo de pane. "A morte de mergulhador neste local é inédita e de dois ainda mais", declarou o bombeiro. De acordo com Casagrandi, a visibilidade ontem era de cerca de dez metros - a movimentação dos sedimentos em suspensão a reduzia, mas isso não interferiu no trabalho porque a corporação está preparada para atuar em condições de visibilidade zero.
Eliseu de Oliveira, 55 anos, é sogro de Alessandro. Afirma que o genro tem uns três anos de mergulho e sempre costumava praticar naquele local, enquanto era a primeira vez de Rodrigo ali. Segundo Eliseu, também estavam com ar extra na "mamadeira", um cilindro de maior capacidade.
Henrique Tunes, 35 anos, é o terceiro mergulhador que acompanhava os outros dois, quando eles desapareceram. Tunes diz que tudo aconteceu por volta das 15 horas do sábado e havia vários mergulhadores no local. "Estávamos fazendo (o mergulho) em três, um deles perdeu a máscara que protege o nariz e os olhos; então eu emprestei a minha e fiquei na superfície", declarou. As duas vítimas foram para o segundo mergulho e após quarenta minutos sem retornar à tona Tunes passou a preocupar-se. Outros mergulhadores tentaram encontrá-los, mas sem sucesso. Ele considera uma incógnita o que pode ter ocorrido. "É uma coisa fora do comum, não é normal, isso só poderia acontecer com pessoas sem experiência", opinou. Tunes disse que onde desceram não é um ponto perigoso, não era a primeira vez que ele próprio e Alessandro mergulhavam ali e praticavam mergulho com profundidade de 25 metros. Alessandro tinha 57 mergulhos e Rodrigo, após o curso, tinha cerca de sete mergulhos.
Ontem eram seis os bombeiros que realizavam os trabalhos. As buscas iniciaram-se às 8 horas do domingo com previsão para prosseguir até o pôr do sol. O tenente Casagrandi explicou que como no sábado só foram comunicados próximo do início da noite, a equipe dirigiu-se ao local ontem. A pedreira desativada tem uma estrada submersa que se inicia na superfície e vai dando voltas pela margem em declive, até chegar ao centro mais profundo, como se fosse uma espiral, mas em forma retangular. "Fizemos a exploração por onde existe o que era uma estrada de operação da antiga pedreira", declarou o oficial bombeiro.
Existe também a possibilidade das vítimas terem se afastado da estrada rumo ao centro, na região onde a profundidade pode chegar a 90 metros. Caso isso tenha ocorrido, para dar continuidade às buscas será preciso um "segundo plano de operações", como disse o oficial, com provável auxílio de mergulhares civis.
O bombeiro Casagrandi disse que não consegue precisar o que pode ter motivado o acidente. "Basicamente o afogamento se dá pela falta de ar, mas a gente não sabe em decorrência do que isso pode ter acontecido", afirmou. Disse que existe a possibilidade dos corpos virem naturalmente à superfície a partir de hoje, mas isso também pode levar até uma semana. Considerou que o fato das vítimas vestirem borracha neoprene e os cilindros de ar estarem vazio favorecem a flutuablidade, mas observou que eles usavam um lastro, espécie de cinto, com aproximadamente seis quilos. Explicou que se a temperatura da água onde estiverem for gelada vai retardar um pouco o processo de decomposição e formação de gases, consequentemetne demandando mais tempo para flutuar. Sobre a possibilidade de enroscarem em algum obstáculo, crê que isso só poderia ocorrer próximo às margens, onde os bombeiros realizam as buscas, já que a parte profunda, ao centro, tem espaço livre.
Familiares falam sobre o drama da perda
A presença de adultos com ar de apreensão e viaturas do Corpo de Bombeiros destoava com o perfil dos costumeiros jovens banhistas que chegavam ao local na tarde de ontem com som alto e sacolas com comes e bebes. Pela manhã, as esposas dos dois empresários estiveram no local, passaram mal por conta do nervosismo e mesmo medicadas não suportaram acompanhar as buscas e retornaram para a grande São Paulo. Entre outras pessoas, passaram o dia acompanhando de longe as atividades dos bombeiros, o pai e a madrasta de Rodrigo Garcia, o sogro de Alessandro Varani e o terceiro mergulhador, Henrique Tunes, que também faz parte da família.
Muito abatido, o aposentado Mateus Garcia Cordeiro, 60 anos, pai de Rodrigo, em alguns momentos chorava ao falar com a reportagem. "É o pior momento que eu passo na minha vida, Deus me tirou uma das duas coisas mais importantes que tinha, não dá para imaginar o que vai ser daqui para frente", assumiu. O pai de Mateus chegou à pedreira na manhã de ontem e acompanhado da atual esposa, disse que pediu que fossem avisados o irmão de Rodrigo, que mora no Japão e a mãe dele. "Aqui não funciona o telefone, imagino que devem estar sofrendo muito também. É um pedaço que vai faltar, nada vai cobrir a perda, nada", declarava.
O sogro da outra vítima, Eliseu de Oliveira, 55 anos, pensava muito nas esposas e nas filhas de ambos. Citou que Alessandro é empresário da área de segurança em informática e Rodrigo no setor de transportes, ambos, segundo ele, muito bem sucedidos. Rodrigo, inclusive, acabava de voltar dos Estados Unidos, onde passou um mês em viagem de negócios e turismo. Foi de lá que trouxe a nova roupa de mergulho que estreiava na tarde do sábado. "É preciso uma proibição aqui porque isso não pode continuar não", disse Eliseu a respeito da pedreira desativada.
Contou que veio para Sorocaba ainda na noite de sábado porque Henrique, o terceiro mergulhador, ficou apenas vestido com roupa de neopreme e sem documentos, já que a chave do carro trancado ficou com Alessandro, submersa. Recebeu a notícia na noite do sábado e chovia, ele não sabia como chegar. Dormiu algumas horas em um hotel em Sorocaba e às 6 horas foi para a pedreira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.