sexta-feira, 30 de março de 2012

Coletivo Cê: de portas abertas para a comunidade

  Notícia publicada na edição de 30/03/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 1 do caderno C 
Maíra Fernandes


Grupo de jovens artistas da cidade transforma local abandonado em sede para atividades artísticas; festa de inauguração ocorre amanhã



Enquanto comemoram a ocupação do espaço, o coletivo com vocação ao teatro já está em fase de preparação de um novo espetáculo, que deverá estrear no fim do ano - Por: Erick Pinheiro


 Após quatro anos de atividades sem contar com uma sede, o Coletivo Cê faz uma grande festa amanhã para comemorar e inaugurar o recém-ocupado Espaço Coletivo Cê, em Votorantim. Com o tema "Le Monde Bizarre", a festa terá atrações que vão de futebol a esquetes teatrais, com direito a bazar e muita música, a partir das 16h. A casa fica na rua Carlos Alberto Rodrigues, s/nº, no bairro da Chave (próximo à cachoeira). Inspirado na linguagem do circo bizarro, o evento terá toda verba obtida (vendas do bazar e do bar) revertida para a manutenção do local. A entrada é franca.

Antes um salão abandonado no bairro da Chave, o lugar foi devidamente reparado, pintado e ilustrado e já está recebendo crianças do bairro, que participam de oficinas de teatro oferecidas gratuitamente pelos integrantes. Aliás, essa é a intenção com o espaço: desenvolver ações com à comunidade. O diretor dos espetáculos realizados pelo coletivo, Júlio Mello, reforça que a ação nada mais é do que uma devolução daquilo que receberam; já que a maioria teve a iniciação artística através de programas sociais na cidade.

O local ocupado, onde funcionava uma espécie de Associação de Bairro, estava abandonado e sem uso e foi cedida ao coletivo, que tem história no local, que é bastante próximo ao Centro da cidade e também bairro onde mora um dos integrantes, Hércules Soares. Na última semana, artistas, membros e comunidade uniram esforços para preparar o espaço, que ganhou desenhos, temas, e poema de Manoel de Barros pela parede.

Além disso, o grupo se prepara para desenvolver o jardim e uma horta, levando em consideração questões de sustentabilidade ecológica. "Só não colocamos os vidros nas janelas ainda", fala Júlio. E não se trata de falta de verba ou má vontade. A ideia é que as crianças do projeto e a comunidade comecem a criar um identidade com o local, um sentimento de pertencimento antes da colocação dos vidros, já que os antigos foram quebrados. "Não vamos colocar vidros antes de estabelecer com eles uma questão de pertencimento com o lugar", reforça.

Atualmente, cerca de 20 crianças, entre 8 e 12 anos, participam do projeto que não é, necessariamente, voltado à comunidade da Chave mas aberto a interessados. E a partir da chegada do grupo e as primeiras ações, a reação foi acontecendo em cadeia. Como conta Hércules, os próprios moradores do bairro chegam se oferecendo para dividir suas habilidades em oficinas como capoeira, bonecos, costura e reciclagem. "Só de transformar, a gente vê as coisas acontecendo", reflete Hércules, lembrando que o coletivo formado por 11 pessoas e mais um "tanto de agregados", ainda oferece vagas para a oficina de teatro para crianças.

Com memória

Enquanto comemoram a ocupação do espaço, o coletivo com vocação ao teatro já está em fase de preparação de um novo espetáculo, que deverá estrear no fim do ano. Com responsabilidade de manter o mesmo sucesso obtido com "Desterro", resultado de um projeto de estudos voltados à memória, o novo espetáculo versará também sobre um assunto bastante complexo e filosófico: o homem no presente. "Começamos a discutir a relação com a morte. Fizemos algumas instalações com o tema e da morte rumamos para discussão do homem no presente, a desmedida social: vaidade extrema, religião, capitalismo... . estamos em trabalho de criação", adianta Júlio.

Primorosos na execução, mas ainda muito mais focados no exaustivo estudo sobre o tema, seus desdobramentos e suas possibilidades, o Coletivo Cê entende o espetáculo como um resultado, mas sempre em vias de sofrer transformação. E como base para essa nova pesquisa, se debruçaram em documentários como "Estamira", teóricos como Brecht, George Orwell e o geógrafo brasileiro Milton Santos. Mas não é apenas o novo espetáculo e as atividades com o espaço e a comunidade que constam na agenda do coletivo para este ano. Para exercitar a memória daqueles que viram e provocar a daqueles que não tiveram a oportunidade, a boa notícia é que eles voltarão com a montagem da peça "Desterro", depois de quase um ano da última apresentação.

"Decidimos parar com a peça, achamos que tinha acabado. Demos uma pausa e, aos poucos, fomos voltando", explica Júlio. A "parada" deve-se a um processo de luto dos integrantes, que entraram o segundo semestre com a notícia da morte da atriz Mariana Alves, integrante do grupo. "A questão era a substituição da Mariana, mas já estamos em um processo novo, que começamos a construir", explica. Para conhecer o coletivo, acesse: http://coletivoce.blogspot.com ou http://www.wix.com/coletivoce/br.






 Finalizando os últimos detalhes. Manoel de Barros estampa uma das paredes: as coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis. Elas desejam ser olhadas de azul - Por: Erick Pinheiro

 No local, também serão desenvolvidas atividades com crianças - Por: Erick Pinheiro

 Hércules Soares - Por: Erick Pinheiro

 Júlio Mello - Por: Erick Pinheiro



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