Jornal Cruzeiro do Sul
Não é necessário ter bola de cristal para saber que nos próximos meses (ou quem sabe semanas) mais pessoas perderão suas vidas no local
Em pouco mais de um mês e meio,
oito mortes. Essa foi a informação trazida na última sexta-feira por
este jornal, após contabilizadas mais duas vítimas fatais de acidentes
na SP-264, a rodovia João Leme dos Santos, que liga Sorocaba a Salto de
Pirapora, cujo trecho crítico está localizado entre os quilômetros 102,5
ao 119,2.
O principal inimigo dessa batalha travada diariamente por muitos
motoristas de Sorocaba e região tem nome: se chama morosidade
governamental, também conhecida como falta de vontade política. Apesar
do governador Geraldo Alckmin ter anunciado que até o final do ano as
obras para a duplicação seriam iniciadas, essa é a típica situação que
exige uma solução para ontem. Na verdade, ontem já seria tarde. Neste
mesmo jornal, há mais de um ano (em novembro de 2010), o jornalista
Wilson Gonçalves Júnior fez uma reportagem detalhada sobre o assunto,
onde apontava que os usuários da rodovia já clamavam por solução há mais
de dez anos. As soluções não vieram e, por outro lado, os problemas só
aumentaram ao longo do tempo devido ao crescimento do fluxo no local com
a chegada de novos empreendimentos imobiliários, com a instalação do
câmpus da Ufscar e também com muitos caminhões que, proibidos de
circular pelo centro de Votorantim, transformaram a SP-264 em rota
alternativa. A lentidão dos caminhões, aliás, faz com que muitos
motoristas dêem vazão à impaciência e se arrisquem em perigosas
ultrapassagens.
Não é necessário ter bola de cristal para saber que nos próximos meses
(ou quem sabe semanas) mais pessoas perderão suas vidas no local. E como
conviver com isso?
Levando em consideração os dados dos últimos 47 dias, quando morreram
oito pessoas, pode-se chegar à seguinte estimativa aproximada: a cada
seis dias, uma pessoa morre na SP-264. Sendo assim, caro governador, o
final do ano pode parecer um tanto quanto distante, certo? Sem contar
que a partir do início das obras até a sua conclusão, longos meses
continuarão por aterrorizar aqueles que precisam enfrentar esse caminho,
que se revelou sem volta a tantas pessoas nos últimos anos. Falta de
acostamento, péssima sinalização e má conservação do asfalto deixam a
pista de mão dupla ainda mais perigosa. Sem contar que os pedestres
também não têm alternativa, a não ser a sorte, quando o objetivo é
atravessar a pista, já que não há passarelas no local.
A questão foi levantada por este jornal à exaustão. Mas é impossível se
cansar - e calar - diante da situação. Assim também pensam muitos dos
estudantes do câmpus da Ufscar, que enfrentam o medo todos os dias para
continuar a frequentar as aulas. Os universitários chegaram a fazer uma
intervenção no local, quando levaram velas, cruzes e cartazes em mais um
protesto. Na ocasião, também homenagearam as vítimas que muitas vezes
eles viram estentidas no chão quando chegavam ou saíam das aulas.
Abaixo-assinados, os moradores, que têm a SP-264 como o caminho da roça,
já perderam a conta de quantos foram feitos. Aliás, até a quantidade
exata de vidas perdidas no local durante os últimos anos já se perderam
na memória. Mas, com certeza, a memória não trai a mãe que perdeu um
filho no local, o amigo que viu a vida de um companheiro de trabalho ser
levada em mais um acidente ou da esposa que voltou para casa sem
marido. A estatística pode até maquiar a dimensão humana do problema:
oito morreram nos últimos 47 dias. São números. A dor é infinita.
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