Por Fernando Grecco
“Enquanto
houver miséria e opressão, ser comunista é nossa opção.” (Oscar Niemeyer)
A queda dos países socialistas, no início dos anos de
1990, contribuiu sobremodo para que os teóricos e defensores da economia
capitalista alardeassem, em diversas teses acadêmicas e nos principais jornais
do mundo, que a dicotomia direita-esquerda, no espectro político, era
ultrapassada. Assim, as posições políticas mais radicais passaram a ser
estigmatizadas e a credibilidade da esquerda foi, aos poucos, sendo maculada
por uma publicidade intensa patrocinada pelos meios de comunicação em massa. No
Brasil, evidentemente, onde impera um atraso cultural expressivo por parte da
população, a nossa elite, talvez uma das mais retrógradas do mundo, encontrou
terreno fértil para aniquilar (de modo literal em alguns momentos) à esquerda e
seus representantes.
Mas a reflexão, aliada à paixão ideológica, de tempos
em tempos renasce com determinados expoentes da vida pública. Oscar Niemeyer
impressionou não somente pela sua genialidade artística a que o mundo se
rendeu, mas pelo seu comunismo saudosista, pela crença em uma sociedade
superior, onde a miséria e a exploração não compusessem o cotidiano dos homens.
Ateu, para o arrepio de uma sociedade religiosamente hipócrita, sua obra de
arte era a manifestação genuína do engajamento político, do resgate de um
pensamento de esquerda que defende a liberdade, a igualdade econômico-social e
a fraternidade entre os seres humanos.
Dessa maneira é que o pensamento de esquerda permanece
vivo, para a cólera de capitalistas senis. Através de personagens históricos do
porte de Niemeyer é que se mantém acesa uma chama idealista libertária que
completa a essência de alguns homens. Sua obra, expressão de uma genialidade
ímpar, é largamente discorrida e apontada pelos críticos do mundo todo. No
entanto, sua sensibilidade humana e o compromisso com os ideais comunistas nem
sempre mereceram a mesma atenção por parte dos editoriais conservadores dos
principais jornais do planeta.
Niemeyer simboliza uma arquitetura poética de caráter
flexível, maleável, criativo, simples e comovente. O arquiteto ofereceu ao
mundo uma arte livre, de caráter socialista, totalmente desapegada da alienação
capitalista que induz a sociedade para uma concorrência canibal. A essência
artística de Niemeyer, sem dúvida, é a sua opção ideológica comunista, pois é
justamente o ideário de liberdade que pode conduzir para uma obra de arte
impecável, rica e inovadora. Nas palavras de Eduardo Galeano, “Oscar amava as
curvas, mas odiava as linhas retas e o capitalismo”.
A leveza e o espetáculo de uma obra extraordinária
provêm essencialmente de um pensamento humanista raro. Na revolução das “curvas
livres e sensuais” encontramos a filosofia da liberdade, do desprendimento e do
regozijo. Por isso, além da estética incomum da obra, a ideologia nela diluída
tem muito a oferecer se analisarmos holisticamente todo o conjunto da arte
legada por Niemeyer. O gigantismo da produção de um arquiteto centenário certamente
é uma herança legítima para toda a humanidade.
Oxalá
faça sentido a frase do antropólogo Darcy Ribeiro: “Oscar Niemeyer (será) o único brasileiro a ser lembrado, no mundo todo,
daqui a mil anos”. Ou, por fim, façamos
nossas as palavras do presidente venezuelano Hugo Chávez: “Eterno camarada, na
curva que desenhaste sempre poderemos encontrar a retidão de teus propósitos e
lembraremos teus simples, mas gigantescos anseios: ser simples, criar um mundo
igualitário para todos".
Fernando Grecco
é articulista político.
www.fergrecco.blogspot.com
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