domingo, 2 de dezembro de 2012

QUINTAL - Espaço pode fazer bem ao meio ambiente e à alma



Notícia publicada na edição de 02/12/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 001 do caderno Casa e Acabamento -
Leila Gapy 


Cajueiro, pitangueira, limoeiro, amoreira. O quintal de seu Geraldo Barcellos Coutinho, um carioca de 75 anos residente em Sorocaba, é colorido. Cheio de cheiros e sabores, temperos e frutas. Tudo plantado, organizado e cuidado com carinho. Seu Geraldo gosta das coisas certas. Mas mais do que tudo, valoriza o tempo e a natureza. "Ver uma árvore dar fruto doce é uma dádiva. É muito lindo. Dá um prazer danado", afirma ele que se dedica atualmente ao quintal-jardim-horta, cerca de cinco horas ou mais por dia.

A rotina do oficial de Justiça aposentado é intensa, embora tranquila. Bem cedo ele levanta-se, faz exercícios, corre no Parque das Águas, no Abaeté - onde aproveita para verificar, secretamente, como anda o crescimento de duas árvores que plantou por lá, há algum tempo -, retorna para casa e cuida das plantas do canteiro central do condomínio onde vive - em frente sua casa ele plantou árvores frutíferas -, do jardim frontal, com plantas ornamentais, e do quintal da casa dele - onde ele realmente tem de tudo, tudo que ele desejava.

"Eu queria uma casa plana e idealizei o jardim e o quintal. Queria um gramado com uma horta e muitas árvores. Passo horas cuidando, olhando, observando a manifestação natural da vida", diz ele, que começou a gostar de plantas ainda menino, quando morava em Quissamã (RJ). Foi lá que ele aprendeu a pegar caju no pé. "Que sabor tinha! Começávamos a comer pela ponta e íamos até a castanha, o filé mignon", detalha.

Lembranças que ele trouxe à Sorocaba, para onde mudou-se aos 15 anos. "Logo que cheguei encontrei um cajueiro lá na rua Padre Luiz. Me deu uma saudade da infância. Comecei a passar lá com frequência, só para ver o cajueiro da saudade, como apelidei-o. Então, quando construí minha casa, não pensei duas vezes, tratei logo de plantá-los", garante ele que se deslumbra ao falar dos sabores da terra. "Plantei na horta hortelã carioca. Só lá no Rio tem. É uma delícia", avisa.

A história de seu Geraldo é semelhante a de outros sorocabanos e está descrita num estudo realizado no ano passado pelos estudantes de Engenharia Florestal da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), quando orientados pela professora Fátima Piña Rodrigues, especialista em sementes florestais. Em 2011, cerca de 40 alunos se empenharam para mapear aproximadamente 80 casas localizadas na região do Cerrado, a maioria com quintais floridos, árvores e plantas nativas.

Na ocasião da divulgação do estudo, conforme publicado no caderno especial de meio ambiente do jornal Cruzeiro do Sul de 5 de junho daquele ano, a docente já verificava a carência sorocabana de área verde. Mas ela também assumiu que pessoas como seu Geraldo colaboravam para a biologia local sem mesmo saber, fomentando, por exemplo, a manutenção de pássaros na área urbana. Sabiás, bem-te-vis, rolinhas, gaviões, beija-flores e até morcegos são possíveis ser avistados na maior parte dos quintais, principalmente nos que têm plantas frutíferas.






"Foi observando as plantas que percebi o que elas gostavam"




                                        Por:   EMÍDIO MARQUES


É com orgulho também que o comerciante Jefferson Carlos Duarte, de 35 anos, residente em Votorantim, mantém seu jardim e seu quintal. Apaixonado pela natureza, curioso e observador nato, ele planejou ter uma vida tranquila junto das plantas. Junto da esposa, Márcia Rodrigues Lobo Duarte, de 28 anos, ele cultiva no jardim plantas ornamentais como pata de elefante, dracena tricolor, trepadeira, flor de pau, buchinho.

Já no quintal ele tem palmeiras, a medicinal umbaúba, e orquídeas como chuva de ouro e laelia purpurata. "Eu passo bastante tempo no quintal. Quando construí a minha casa, vi um galho seco no vizinho. Tratei de colocá-lo no quintal para ajudar outras plantas a crescer. As orquídeas estão indo bem. Todos os dias coloco frutas num comedouro que fiz. Muitos pássaros vêm até aqui, rolinha, sabiá, beija-flor e sanhaço. Até um ninho já foi feito por tico-tico", comemora ele que cuida dos espaços a cada 15 dias.

Márcia, por sua vez, motiva o marido no cultivo. E registra, sempre que possível, a chegada dos pássaros no quintal. "Ouvir o canto dos pássaros é uma bênção. Acordar com esse som não tem preço", garante. O mesmo acontece com a aposentada Cecília de Almeida, de 60 anos, residente do jardim Abaeté, de Sorocaba. Além de plantas ornamentais e medicinais, como boldo, ela tem uma goiabeira. "Todo dia acordo com o canto dos pássaros. Não os conheço, mas sei que são raros. Tem preto, vermelho e amarelo que aparecem aqui", orgulha-se.

Seu Geraldo Barcellos Coutinho, de 75 anos, mantém o quintal e a frente da casa floridos e perfumados, um gosto adquirido na infância, quando morava no Rio de Janeiro. "Depois que o cajueiro cresceu em frente minha casa, vejo engravatados pararem o carro para pegar frutas. E no fim de tarde, operários fazem a festa. Pra mim é uma conquista", avalia. Mas é no quintal, sozinho, que ele descobre, diariamente, que para cultivar a natureza é preciso paciência.

"Não contrato jardineiro. Faço tudo sozinho. E não tenho formação alguma. Foi observando as plantas que percebi o que elas gostavam. Como o caju me lembra meu tempo de menino, procurei saber como plantá-lo. É muito fácil e tem a vantagem de durar 400 anos, sem manutenção dificultosa", garante. Segundo o aposentado, a castanha do caju deve ser plantada com os "biquinhos" para cima, a cinco dedos do chão, em terra fofa, arenosa. Depois de grande, diz ele, é possível moldá-lo conforme o espaço disponível. "A raíz é profunda, não cresce para os lados", afirma.

A iniciativa destes apaixonados pela natureza sinalizam uma necessidade e tendência para manutenção do verde. E para motivar a população, a Prefeitura sorocabana e votorantinense, distribuem mudas de plantas ornamentais e frutíferas gratuitamente. Em Votorantim o Viveiro Municipal fica na avenida Santo Antonio, s/nº, ao lado do Centro de Zoonoses, telefone (15) 3353.8664. Em Sorocaba a distribuição de mudas acontece no viveiro que fica no Parque Natural Chico Mendes, na avenida 3 de março, nº 1025, Alto da Boa Vista, telefone: (15) 3228.1256





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