Jornal Cruzeiro do Sul
Carolina Santana
Prefeitura diz que evento está legalizado, mas nada diz sobre os produtos
Os organizadores da feira já haviam tentado outras vezes realizar o evento na cidade - Por: Adival B. Pinto
Hoje é o último dia da "Feira na
Cidade" em Votorantim. O evento, realizado desde sexta na praça "Lecy de
Campos", gerou descontentamento entre os lojistas da cidade que fizeram
um abaixo-assinado entregue à Prefeitura na sexta-feira pedindo a não
realização da feira. Os comerciantes reclamam da concorrência desleal e
afirmam que a procedência dos produtos comercializados é duvidosa. No
local não havia pessoas da organização. Um representante do evento
atendeu a reportagem pelo telefone e afirmou estar cumprindo todas as
exigências do município. Procurada, a Prefeitura, por nota, também
reafirmou a legalidade da feira mas não fez comentários sobre os
produtos comercializados.
Apesar de logo na entrada da feira
uma faixa informar aos visitantes: "Feira do Brás", a organização do
evento afirmou que trata-se de uma feira itinerante que nada tem ligação
com a realizada na Capital paulista, famosa por comercializar produtos
mais baratos mas sem nota fiscal. Francisco Almeida, da empresa MKT
Brasil, responsável pela organização dessas feiras, informa que em
Votorantim estão 200 expositores, todos enquadrados dentro do programa
de formalização Micro Empreendedor Individual (MEI). São vendidos
roupas, acessórios e bijuterias. Almeida afirma que a dinâmica de vendas
é definida pelos próprios comerciantes. Assim, diz ele, não há como a
organização controlar a emissão ou não de notas fiscais.
Segundo ele a iniciativa existe há mais de um ano e uma associação está
sendo formalizada para levar orientação aos lojistas e defesa de seus
interesses. "É uma ação para fomentar a economia, melhorar a renda
desses comerciantes. Pagamos todas as taxas para o município e cumprimos
todas as exigências", comentou. Um ambulância e seguranças particulares
estavam no local do evento. De acordo com Almeida, também foi seguido
um plano de prevenção e combate a incêndio. "Estamos aperfeiçoando o
evento. Como todo o processo, o aperfeiçoamento vem com o tempo",
garantiu.
Sobre as dúvidas levantadas por alguns lojistas
votorantinense sobre a procedência dos produtos, Almeida - que chegou a
dizer que são peças artesanais e, por isso, não precisariam de nota
fiscal - afirma ser uma questão cultural. "Mas são pais e mães de
família que precisam tirar o sustento e estão fazendo isso com trabalho.
Não há nenhuma irregularidade", comenta. Para ele é natural que os
lojistas da cidade se sintam ameaçados com a presença de um evento
oferecendo produtos com preços inferiores.
Insatisfação
Insatisfeito com a realização da feira, o comerciante Felipe Silveira,
afirma que a Prefeitura levou a concorrência ilegal para a cidade. "Essa
semana recebi uma vistoria da Prefeitura. Eles não pagam impostos na
cidade e não sabemos sobre a procedência dos produtos vendidos. Trabalho
com roupas e sei que é impossível uma blusa por R$ 10", afirma. Ele
afirma que os organizadores da feira já haviam tentado outras vezes
realizar o evento na cidade, mas não conseguiram.
"Agora que
mudou a administração eles conseguiram. A organização foi feita na
surdina pois ninguém estava sabendo do evento", afirma. O comerciante
conta ter ido à feira para fazer compras, pediu nota fiscal dos produtos
e não foi atendido. Silveira destaca que as regiões do Brás, Bom Retiro
e José Paulino, em São Paulo, são famosas por venderem produtos
fabricados com o uso de mão de obra escrava e com sonegação fiscal. "Vou
procurar o Ministério Público pois o município acaba sendo conivente
com essas situações", assegurou.
Orildo David de Oliveira,
presidente da Associação Comercial e Empresarial de Votorantim (ACEV),
não foi encontrado pela reportagem para comentar o assunto. Em
entrevista ao site do Jornal Ipanema, veiculada na sexta-feira, Oliveira
posicionou-se contrário à manifestação da feira. "Nós que trabalhamos
no comércio sabemos o quanto é difícil o mês de janeiro e fevereiro para
vendas, daí vem a feira com produtos baratos e de má qualidade só para
ouriçar os consumidores", teria dito o presidente.
Nota da Prefeitura
A prefeitura de Votorantim foi procurada pela reportagem para comentar o
assunto e se manifestou por meio de nota afirmando que "toda a
documentação exigida, bem como o recolhimento de taxas foi devidamente
realizado pelos organizadores da feira que ocorre na praça de eventos
"Lecy de Campos". A organização mantém também ambulância no local. O
setor de fiscalização de posturas da Prefeitura também tem acompanhado o
evento".
Ainda segundo a nota, o prefeito Erinaldo Alves da
Silva recebeu uma comissão de comerciantes na última sexta-feira em seu
gabinete. "Durante o encontro o prefeito ressaltou que após as eleições
para a escolha da nova diretoria (para a Associação Comercial de
Votorantim) o que deverá acontecer nos próximos dois meses, a proposta
do governo municipal será de manter uma forma de incentivo e parceria
entre Prefeitura e comércio local", continua o documento.
Para revender
As irmãs Valéria e Claudineia Aparecida de Almeida, aproveitaram os
preços baixos para reforçar o estoque de mercadorias de Valéria. Ela
conta que trabalha com artesanato e também vende cosméticos.
"Normalmente eu vou uma ou duas vezes por ano na Feirinha da Madrugada
em São Paulo. Como eles vieram aqui, aproveitamos", conta Valéria.
Claudineia, além de ajudar a irmã, também comprou produtos para seu
próprio uso. "Os preços estão muito bons. São os mesmos preços de lá
(Feirinha da Madrugada"), disse. Além dos preços abaixo do mercado
local, as irmãs não tiveram os custos e o cansaço da viagem.

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