domingo, 24 de fevereiro de 2013

Comerciantes reclamam da "Feira na Cidade"

Jornal Cruzeiro do Sul
Carolina Santana

Prefeitura diz que evento está legalizado, mas nada diz sobre os produtos



Os organizadores da feira já haviam tentado outras vezes realizar o evento na cidade - Por: Adival B. Pinto

Hoje é o último dia da "Feira na Cidade" em Votorantim. O evento, realizado desde sexta na praça "Lecy de Campos", gerou descontentamento entre os lojistas da cidade que fizeram um abaixo-assinado entregue à Prefeitura na sexta-feira pedindo a não realização da feira. Os comerciantes reclamam da concorrência desleal e afirmam que a procedência dos produtos comercializados é duvidosa. No local não havia pessoas da organização. Um representante do evento atendeu a reportagem pelo telefone e afirmou estar cumprindo todas as exigências do município. Procurada, a Prefeitura, por nota, também reafirmou a legalidade da feira mas não fez comentários sobre os produtos comercializados.

Apesar de logo na entrada da feira uma faixa informar aos visitantes: "Feira do Brás", a organização do evento afirmou que trata-se de uma feira itinerante que nada tem ligação com a realizada na Capital paulista, famosa por comercializar produtos mais baratos mas sem nota fiscal. Francisco Almeida, da empresa MKT Brasil, responsável pela organização dessas feiras, informa que em Votorantim estão 200 expositores, todos enquadrados dentro do programa de formalização Micro Empreendedor Individual (MEI). São vendidos roupas, acessórios e bijuterias. Almeida afirma que a dinâmica de vendas é definida pelos próprios comerciantes. Assim, diz ele, não há como a organização controlar a emissão ou não de notas fiscais.

Segundo ele a iniciativa existe há mais de um ano e uma associação está sendo formalizada para levar orientação aos lojistas e defesa de seus interesses. "É uma ação para fomentar a economia, melhorar a renda desses comerciantes. Pagamos todas as taxas para o município e cumprimos todas as exigências", comentou. Um ambulância e seguranças particulares estavam no local do evento. De acordo com Almeida, também foi seguido um plano de prevenção e combate a incêndio. "Estamos aperfeiçoando o evento. Como todo o processo, o aperfeiçoamento vem com o tempo", garantiu.

Sobre as dúvidas levantadas por alguns lojistas votorantinense sobre a procedência dos produtos, Almeida - que chegou a dizer que são peças artesanais e, por isso, não precisariam de nota fiscal - afirma ser uma questão cultural. "Mas são pais e mães de família que precisam tirar o sustento e estão fazendo isso com trabalho. Não há nenhuma irregularidade", comenta. Para ele é natural que os lojistas da cidade se sintam ameaçados com a presença de um evento oferecendo produtos com preços inferiores.

Insatisfação


Insatisfeito com a realização da feira, o comerciante Felipe Silveira, afirma que a Prefeitura levou a concorrência ilegal para a cidade. "Essa semana recebi uma vistoria da Prefeitura. Eles não pagam impostos na cidade e não sabemos sobre a procedência dos produtos vendidos. Trabalho com roupas e sei que é impossível uma blusa por R$ 10", afirma. Ele afirma que os organizadores da feira já haviam tentado outras vezes realizar o evento na cidade, mas não conseguiram.

"Agora que mudou a administração eles conseguiram. A organização foi feita na surdina pois ninguém estava sabendo do evento", afirma. O comerciante conta ter ido à feira para fazer compras, pediu nota fiscal dos produtos e não foi atendido. Silveira destaca que as regiões do Brás, Bom Retiro e José Paulino, em São Paulo, são famosas por venderem produtos fabricados com o uso de mão de obra escrava e com sonegação fiscal. "Vou procurar o Ministério Público pois o município acaba sendo conivente com essas situações", assegurou.

Orildo David de Oliveira, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Votorantim (ACEV), não foi encontrado pela reportagem para comentar o assunto. Em entrevista ao site do Jornal Ipanema, veiculada na sexta-feira, Oliveira posicionou-se contrário à manifestação da feira. "Nós que trabalhamos no comércio sabemos o quanto é difícil o mês de janeiro e fevereiro para vendas, daí vem a feira com produtos baratos e de má qualidade só para ouriçar os consumidores", teria dito o presidente.

Nota da Prefeitura

A prefeitura de Votorantim foi procurada pela reportagem para comentar o assunto e se manifestou por meio de nota afirmando que "toda a documentação exigida, bem como o recolhimento de taxas foi devidamente realizado pelos organizadores da feira que ocorre na praça de eventos "Lecy de Campos". A organização mantém também ambulância no local. O setor de fiscalização de posturas da Prefeitura também tem acompanhado o evento".

Ainda segundo a nota, o prefeito Erinaldo Alves da Silva recebeu uma comissão de comerciantes na última sexta-feira em seu gabinete. "Durante o encontro o prefeito ressaltou que após as eleições para a escolha da nova diretoria (para a Associação Comercial de Votorantim) o que deverá acontecer nos próximos dois meses, a proposta do governo municipal será de manter uma forma de incentivo e parceria entre Prefeitura e comércio local", continua o documento.

Para revender

As irmãs Valéria e Claudineia Aparecida de Almeida, aproveitaram os preços baixos para reforçar o estoque de mercadorias de Valéria. Ela conta que trabalha com artesanato e também vende cosméticos. "Normalmente eu vou uma ou duas vezes por ano na Feirinha da Madrugada em São Paulo. Como eles vieram aqui, aproveitamos", conta Valéria. Claudineia, além de ajudar a irmã, também comprou produtos para seu próprio uso. "Os preços estão muito bons. São os mesmos preços de lá (Feirinha da Madrugada"), disse. Além dos preços abaixo do mercado local, as irmãs não tiveram os custos e o cansaço da viagem.

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