Jornal Cruzeiro do Sul
Míriam Bonora
Tribunal de Contas orienta para a não distribuição de cheques para pais e alunos da rede pública
Seguindo orientação do Tribunal de Contas
do Estado de São Paulo (TCE-SP), a Prefeitura de Votorantim não vai mais
fornecer a "bolsa-uniforme" e "bolsa-material escolar" por meio de
cheques entregues aos pais como era feito desde 2005, quando foi
aprovada a lei 1.789, que autoriza a concessão do benefício. A partir
deste ano, os kits escolares e os uniformes serão comprados pela
Prefeitura por meio de licitação e repassados aos pais.
A
compra dos materiais era feita pelos pais em estabelecimentos comerciais
de Votorantim, credenciados pela Prefeitura. Os cheques eram entregues
no início e no meio do ano. Recebiam os cheques pais de cerca de 11 mil
crianças entre 3 a 11 anos de idade, alunos da Educação Infantil,
creches e Ensino Fundamental da rede municipal de ensino.
Segundo informações divulgadas pela administração municipal durante o
ano de 2013, os cheques entregues em junho do ano passado somaram R$ 624
mil, com valor de R$ 52 por criança para a compra de uniformes e
materiais escolares. No início de 2013, o valor divulgado foi de R$ 49
por estudante.
A Prefeitura informa que já adquiriu parte dos
produtos da lista de material escolar, que segundo a administração será
a mesma lista que os pais comprariam com o fornecimento do cheque. Essa
primeira cota de materiais já será entregue nas escolas no retorno às
aulas, em 05 de fevereiro e contém itens básicos como caderno, papel
sulfite, canetas, lápis, apontador e borracha, informa a Prefeitura.
A segunda parte dos materiais ainda está em processo de licitação,
assim como os uniformes, e a previsão é que sejam entregues até o final
de fevereiro nas escolas. O conjunto de vestuário terá camiseta e shorts
ou camiseta e shorts-saia para cada estudante, e os pais poderão
escolher os tamanhos das peças na primeira semana de aulas, na própria
escola.
Questionada sobre o valor previsto para a compra dos
produtos, assim como a previsão de publicação do edital, a Prefeitura
respondeu, por meio da Secretaria da Comunicação que o processo
licitatório ainda está em preparação e encontra-se em fase de
orçamentos, por isso não é possível fornecer tais informações por
enquanto.
A decisão do TCE
O TCE analisou a
questão da distribuição das bolsas na forma de cheques feitas pela
Prefeitura no ano de 2012, quando foram gastos R$ 1,04 milhão somando os
benefícios do verão (início do ano) e do inverno (meio do ano). O
procedimento de conceder os cheques, ao invés de comprar os produtos por
licitação, foi considerado irregular, assim como em decisão proferida
em caso semelhante em Araçariguama, em 2009.
"O procedimento
pretendido não se mostra eficaz do ponto de vista educacional, porque
não garante uniformidade na compra do material, quer na quantidade, quer
na especificidade e também na qualidade do material. Igualmente
ineficaz se mostra do ponto de vista de controle dos gastos públicos,
porque impossibilitaria ter-se se segurança quanto aos recebedores e
quanto à efetiva aplicação do valor recebido. O pretendido privilégio
para o comércio local mostra-se, também, ilegal, afrontando o princípio
da isonomia e a lei de licitações", afirma o TCE.
O TCE
também propõe que os valores indevidos gastos (R$1.046.515) sejam
recompostos ao erário pelos respectivos responsáveis, o que ainda deve
ser analisado e julgado pelo Poder Judiciário.
Comércio quer participar das licitações
Para tentar amenizar o impacto da mudança na bolsa-material e uniforme
escolar de Votorantim, os lojistas estão se organizando por meio da
Associação Comercial e Empresarial de Votorantim (Acev) para criar uma
cooperativa para disputar as licitações. A informação de que os cheques
não serão mais distribuídos aos pais, e sim os produtos finais, deixou
os proprietários dos estabelecimentos que vendem material escolar e
uniformes apreensivos, pois eles temem uma queda brusca nas vendas e a
falta de dinheiro para pagar fornecedores.
A presidente da
Acev, Francine Ferreira, comenta que a associação realizou reuniões
nesta semana, com a Prefeitura e com os lojistas, para tentar chegar a
uma solução. A única medida encontrada foi a decisão de criar uma
cooperativa, que está em processo de formalização e deve ser efetivada
ainda este mês para concorrer às licitações para compra de materiais e
uniformes escolares. O objetivo é que a cooperativa compre os materiais
dos comerciantes locais (que antes vendiam diretamente aos pais de
alunos) e os forneça à Prefeitura, caso vença a concorrência.
Porém, Francine não acredita que o comércio local venha a sofrer grande
prejuízo com a mudança. "O cheque em si não trazia tanto retorno
financeiro para os lojistas, pois o lucro era baixo. A vantagem maior
era que os pais iam até as lojas e acabavam comprando mais produtos".
Ela cita, por exemplo, que o uniforme de verão a ser entregue pela
Prefeitura contará apenas com uma camiseta e um shorts, e que as
crianças necessitarão de mais peças e vão continuar comprando no
comércio local, assim como itens do material escolar personalizados e
com maior qualidade.
Mas para a proprietária de uma loja na
Vila Garcia, que vende papelaria e uniformes, Juliana Cunioci, 34 anos, a
mudança não agrada e está deixando todos na loja nervosos. Ela diz que
já investiu em estoque, pois as compras são feitas antecipadamente, e a
loja corre o risco de não conseguir pagar os fornecedores, já que
contava com a demanda originada pelos cheques.
"Por que a
Prefeitura não preparou os comerciantes antes? Eles poderiam pelo menos
adiar essa mudança para o meio do ano, para que em fevereiro nós
conseguíssemos vender o que compramos para esta época. Eu tinha até
contratado duas funcionárias em dezembro, para ficarem até fevereiro,
mas vou ter que dispensá-las para conseguir pagar as contas", critica
Juliana.
Já alguns pais ainda não sabem se a mudança será boa
ou não. A dona de casa Vanessa de Araújo de Oliveira, 31, comenta que a
bolsa era uma ajuda de custo importante para a compra dos itens
escolares do filho Elias, de 10 anos, mas que sempre precisava
complementar os valores para comprar todos os materiais necessários. "Se
vier tudo o que ele precisa e forem materiais de qualidade, vai ser
melhor. O problema é se a qualidade for inferior e a gente precisar
comprar de novo".
A cabeleireira Lauren Martins, 28, conta
que conseguia comprar os itens básicos com o dinheiro do cheque para os
filhos Gabriele, 6, e Vitor, 5. "Se for entregue mesmo, não vai ter
problema nenhum, mas o cheque era garantido, já os produtos em mãos a
gente não sabe se vão chegar mesmo", diz receosa. (M.B.)




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