quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O desafio de salvar vidas

 EDITORIAL - Jornal Cruzeiro do Sul


O verão é a época mais esperada do ano. As festas de Natal e ano-novo e o período que vai até o Carnaval movimentam as agendas das pessoas. E não só isso. É tempo de viagens, férias escolares, promessas de que o novo ano será melhor do que o ano velho. Para completar, tudo isso ferve em meio ao calor de temperaturas acima de 30 graus, o que é um convite ao lazer. As atrações mais concorridas são aquelas que têm as águas como elemento agregador. Lagoas, rios, piscinas, praias, represas, cachoeiras, vale-tudo na hora de se refrescar e driblar o clima quente. O problema é que também nesse período aumenta o número de mortes por afogamento. Em muitos casos, encontros de amigos e famílias à beira da água, que tinham tudo para acabar em festa, terminam em tragédias, dores e lágrimas.

A mais recente vítima dessa situação foi o jovem Maycon Roberto Garcia, de 22 anos, que morreu no último sábado na lagoa do Cubatão, na região da Capela da Penha, em Votorantim. Seu nome aumentou as estatísticas que têm dimensão de guerra. Somente em 2012 pelo menos 736 pessoas morreram afogadas no Estado de São Paulo, segundo informação do site da rádio CBN. No fim de 2012 o governo de São Paulo divulgou levantamento que mostrava que, a cada mês daquele ano, 77 pessoas morreram, em média, vítimas de afogamentos no Estado. Em 2010 foram registrados 931 óbitos por afogamentos no Estado de São Paulo, e em 2009, foram 922.

A morte do jovem Maycon Roberto Garcia, associada a outras vítimas fatais por afogamento nos últimos meses, mostra que o problema continua. Todo ano o Corpo de Bombeiros divulga dicas para evitar acidentes na água, mas elas não têm sido suficientes para conter os afogamentos. E o poder público tem tudo a ver com isso.

Primeiramente, devemos levar em conta que a procura por rios e lagoas nesta época do ano também é dado revelador da falta de condições de muitas pessoas para frequentar um clube. Atendendo a essa necessidade, a opção de criar piscinas públicas é uma alternativa adotada, por exemplo, em São Paulo. Apesar de os usuários geralmente reclamarem das más condições, as piscinas cumprem uma função social das mais requisitadas no campo do lazer. Quando abordamos esta questão em setembro do ano passado, neste mesmo espaço, concluímos que "é muito melhor ter uma piscina pública do que não ter nenhuma e permitir, como ocorre em Sorocaba, que crianças, jovens e adultos sem condições de frequentar um clube nadem em rios e lagos, expondo-se ao risco de afogamento."

Também em setembro passado, como resposta para a morte de um jovem de 15 anos, a Prefeitura anunciou o plano de cercar o parque do Éden, que dá acesso ao lago do Saae, local do afogamento. Foi uma decisão burocrática, já que os jovens poderiam procurar outros mananciais ou até mesmo continuar acessando o lago do Saae, pulando a cerca, o que significaria prevalecer o perigo de novas mortes.

A situação é tão grave que até as piscinas particulares não estão excluídas dos riscos. Em dezembro de 2010, um casal de gêmeos de 5 anos morreu afogado numa piscina em construção em um condomínio localizado na altura do km 107 da rodovia João Leme dos Santos. As crianças estavam em processo de adoção por um casal que tinha a guarda provisória delas. A mulher foi ao banheiro para dar banho nas crianças, mas deixou-as sozinhas por alguns momentos para ir à cozinha pegar um remédio. Quando voltou ao banheiro, os gêmeos não estavam mais lá. Os dois corpos foram encontrados no fundo da piscina de uma casa vizinha que estava em construção.

O que o poder público não pode é fazer de conta que não tem nada a ver com os afogamentos e se limitar a resgatar os corpos do fundo das águas. É preciso tomar medidas para reduzir de forma concreta os riscos de mortes. Os projetos de criação de parques desenvolvidos nos últimos anos não incluíram a possibilidade da inserção de piscinas públicas. Experiências poderiam ter evoluído para a construção de parques com piscinas e salva-vidas. Basta levar em conta que o lazer aquático é uma vocação natural de Sorocaba, devido a seu clima.

Nunca é tarde para agir quando o desafio é salvar vidas.

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