sábado, 26 de abril de 2014

Caminhada da Penha chega a sua 16ª edição

Jornal Cruzeiro do Sul
Wilson Gonçalves Júnior
 Com status de romaria, evento religioso tem saída marcada para as 4h de amanhã, em trajeto de 20 quilômetros
¿O que traz as pessoas até aqui com certeza é a fé¿, afirma Beto Zen, organizador da caminhada - ALDO V. SILVA



"Baixará como a chuva sobre a relva, como aguaceiros que regam a terra. Em seus dias será a paz, duradoura como a lua." O trecho de fé explícita foi retirado de uma bíblia existente no altar da igreja de Nossa Senhora da Penha e da página em que estava aberta na manhã de ontem, quando a reportagem do jornal Cruzeiro do Sul esteve lá para entrevistar Paulo Roberto Ferreira Camargo, conhecido com Beto Zen, idealizador e organizador da Caminhada da Penha, que neste ano completa sua 16ª edição e ganhou conotação religiosa de romaria. A caminhada tem saída amanhã, às 4h, na Paróquia São José (ao lado da fábrica Fiação Alpina), no bairro da Chave e segue até o destino final na região da Serra de São Francisco, com chegada prevista para 8h, na tradicional Capela da Penha - construída no século XVII.

Milhares de pessoas devem amanhã testar sua fé - a mesma transcrita no trecho da bíblia - caminhando de madrugada por 20 quilômetros - 9 quilômetros no asfalto (entre os bairros Chave, Barra Funda, Santo Antônio II e estrada da represa Itupararanga) e 11 quilômetros de terra pela Serra de São Francisco, pela estrada da Capela da Penha. Entre pó, pedra, frio e necessidade de força física, durante todo o trajeto, os romeiros serão agraciados com a natureza. Beto Zen disse que no ano passado, a 15ª edição foi feita em baixo de chuva que caiu sobre a vegetação (relva) e também nos romeiros. "Este ano a previsão não é de chuva, mas vamos ver né. O frio é certeza que vai ter", acreditou, ao passar num trecho que será percorrido amanhã.

A Caminhada da Penha começou com uma brincadeira ou quase uma aposta feita entre amigos no bar de propriedade de Beto Zen. Naquele primeiro ano, o evento que começou, no dia 31 de março e terminou no 1º abril, teve apenas poucos participantes. "Foi conversa de bar, entre 20 amigos e acharam que era brincadeira. Fomos em cinco pessoas e depois juntou mais e nós fomos. No outro dia, as pessoas que não foram, acharam que era mentira, por causa do Dia da Mentira." O evento ganhou, da quinta edição em diante, uma finalidade mais religiosa e começou a ter missa campal, organizada primeiramente pelo padre Paulo Roberto Gonzales.
O caráter religioso ganhou mais força também quando a imagem de Nossa Senhora da Penha começou a acompanhar a caminhada. Ela é levada de caminhão da Paróquia São José até a Capela da Penha. Depois da caminhada, a imagem, de 1,20 metro, arte barroca talhada em madeira, esculpida por Chico Santeiro, fica alojada na igreja do bairro Carafá. No primeiro domingo de setembro, quando é aniversário de Nossa Senhora da Penha, a comunidade do Carafá leva em carreata a imagem para a Paróquia São José. "O que traz as pessoas até aqui com certeza é a fé. Fazer este trajeto, que é pesado, principalmente quando entra na parte de terra, tem que existir um sentido. A pessoa acordar às 3h da manhã."

A fé
¤Devota de Nossa Senhora da Penha, Filomena Aparecida Mendes de Oliveira Moraes é a prova clara do que pontuou Beto Zen. Dona Filomena vai participar da Caminhada da Penha pela décima vez e sempre pediu para comprar a casa que mora alugada no bairro Carafá, na Serra de São Francisco. "Sete anos fiz meu objetivo na caminhada e vou este ano para agradecer mesmo por ter comprado aqui minha casa. Viu que já tá abrindo poço e vai dá água. A fé remove montanhas."

Ela disse que no ano passado não pôde ir, devido a dores na perna por causa da artrose e também diante da chuva. A ausência da caminhada foi alvo de um comentário entre ela e o marido Heleno Monari. "Falei pra ele que achava que não era pra eu ir, porque ela (a santa) não tinha completado o objetivo desse ano. Chegou em junho eu comprei e a caminhada foi em abril. Depois de dois meses, eu consegui comprar. Então vou pra agradecer."

A dona de casa Filomena antes percorria os 20 quilômetros, só que agora diante dos problemas de saúde, por causa também do Lúpus (doença autoimune em que o sistema imunológico do corpo ataca tecidos saudáveis por engano), vai percorrer a pé seis quilômetros, ida e volta de sua casa até a Capela da Penha. Ela acredita que Nossa Senhora da Penha entende suas limitações em não mais poder fazer a romaria inteira. "Acho que ela fala pra mim que seis quilômetros eu posso fazer, de ida e volta."
Ela disse que já foi criticada por outras pessoas, que diziam que ela sempre fazia a romaria e não obtinha cura para sua doença. "O meu já caiu cabelo, tô com rosto tudo manchado e uso bloqueador solar 100. Só que eu não desisto. Só que toda pessoa tem que carregar uma cruz e um fardo na vida e o Lúpus não tem cura."

O local da sua casa - situada nas proximidades da Capela da Penha - e também o fato de ir morar na rua que tinha o nome do seu genro, Pedro Monari, não foram um mero acaso para dona Filomena. Ela acredita que Nossa Senhora da Penha foi quem a guiou até sua atual residência. "Foi o objetivo que ela que me trouxe, porque como que eu vim pra cá. É ou não é?"

Regionalização

Segundo Beto Zen, a Caminhada da Penha se regionalizou e hoje recebe romeiros de cidades como São Roque, Sorocaba, Mairinque, Piedade, Araçoiaba da Serra, Iperó e São Paulo. No ano passado, informou ele, os dados oficiais da Polícia Militar (PM) foram de que 3.800 romeiros percorreram o trajeto. Neste ano, citou o organizador, devido a falta de tempo, não deu tempo para organizar as camisetas e a troca de alimentos será espontânea, com a entrega na Paróquia São José.

Na chegada à Capela da Penha, a partir das 7h, os primeiros romeiros serão recepcionados pela orquestra de viola caipira. Haverá ainda queima de fogos e depois a missa campal no local. Haverá uma barraca com a venda de salgadinhos e refrigerantes, que será explorado por uma entidade beneficente. Por volta do meio dia, os romeiros serão levados de ônibus até o terminal de Votorantim gratuitamente, com apoio recebido da Auto Ônibus São João.

Além da São João, a Caminhada da Penha teve apoio recebido da prefeitura de Votorantim, por intermédio de várias secretarias. Durante todo o trajeto os participantes serão acompanhados pela Guarda Civil Municipal, além do apoio da Polícia Militar. Haverá ainda uma ambulância e carros de apoio pelo percurso.

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