sábado, 26 de abril de 2014

Circuito Sesc chega amanhã em Votorantim

Jornal Cruzeiro do Sul
Felipe Shikama


A programação é gratuita e terá música, teatro, artes visuais e circo
 
 
 Às 17h de domingo, é a vez da Cia. Teatral Turma do Biribinha - DIVULGAÇÃO / TATI PIRES

A praça Zeca Padeiro em Votorantim (localizada na avenida 31 de março) será palco amanhã de diversas atrações do Circuito Sesc de Artes. O evento, que começou na região ontem em São Roque e hoje se repete na Praça da Independência em Itu, é gratuito e terá música, teatro, artes visuais e circo. Nestas três cidades, o roteiro da programação é o mesmo e o destaque é o show do músico multi-instrumentista Hermeto Pascoal.

Com a ideia de conectar lugares e circular as ideias, o projeto, realizado em parceria com as prefeituras, prevê que os artistas se apropriem das praças para interferir no cotidiano das cidades e criar um diálogo com a população. "A ideia é levar uma surpresa e uma interferência no dia-a-dia e provocar os sentidos das pessoas daquelas cidades onde não há a estrutura de atendimento diário do prédio do Sesc", explicou o técnico do Sesc Sorocaba Wilian Villar na noite de quinta-feira, durante evento de recepção dos artistas que vão se apresentar nas cidades da região.

Além de São Roque, Itu e Votorantim, outras cidades da região de abrangência do Sesc Sorocaba que receberão espetáculos e intervenções artísticas são Itapetininga, Itapeva e Itararé. Em todo o estado de São Paulo, desde ontem até 11 de abril, o Circuito vai percorrer 102 cidades que não contam com unidade do Sesc, levando 591 apresentações em praças públicas, em 66 trabalhos produzidos por 370 artistas. Em cada cidade, segundo Villar, a expectativa é receber cerca de 3 mil pessoas.
Em Votorantim, a programação terá início às 16h de amanhã, com o projeto Todos podem ser Frida, da fotógrafa sorocabana Camila Fontenele de Miranda. A intervenção da fotógrafa faz uma homenagem à artista mexicana Frida Kahlo, uma das maiores pintoras do século XX, conhecida por sua vida de superações e sofrimentos que se refletem em sua obra. Em parceria com maquiadores artísticos, Camila propõe transformar homens e mulheres em Frida Kahlo, proporcionando um olhar poético sobre sua obra.

No mesmo horário haverá a intervenção teatral Do fundo do mar, da Cia. Fios de Sombra. Às 17h, o circo também marca presença no circuito com o espetáculo Apalahssadamuzikada... Uma sinphonia engrassada!, >apresentado pela Cia. Teatral Turma do Biribinha, de Alagoas. Inspirado pela palhaçaria nordestina, o espetáculo apresenta Biribinha e Pipoca, dois palhaços que desenvolvem números musicais convencionais e inusitados com instrumentos imaginários, sempre apoiados pela criatividade do público, que é convidado a participar.

Em seguida, às 18h, a Companhia São Jorge apresenta uma adaptação do texto clássico do escritor alemão Goethe, Fausto, lançando um olhar sobre uma geração perplexa, hipnotizada e indignada diante do lixo da sociedade. O espetáculo aborda o desejo de superar os limites do conhecido e do possível e expõe o ser humano "amortecimento da sensibilidade" nos sentidos físico, mental, emocional e social.

Fechando a programação, a partir das 19h, o multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal promete apresentar um show imprevisível junto de seu grupo formado por Aline Morena (voz), André Marques (piano), Itiberê Zwarg (baixo), Márcio Bahia (bateria), Vinícius Dorin (saxofone) e Fábio Pascoal (percussão).

A única certeza sobre o show de Hermeto é de que será imprevisível

Minutos antes de subir ao palco, Hermeto Pascoal se reúne com os seis músicos de seu grupo para definir o repertório do show. "A gente sempre faz uma lista com umas vinte músicas, mas até hoje nunca seguimos ela inteirinha", confessa o multi-instrumentista de 77 anos. Capaz de improvisar belíssimas melodias tanto em instrumentos convencionais como piano, flauta e sanfona quanto em objetos estranhos - pelo menos para a música - como chaleira, copo d"água e até mesmo a própria barba, o músico alagoano explica a razão de seus shows jamais se repetirem. "Eu sou um cara cem por cento intuitivo e tudo é troca de energia e vibrações." Por este motivo, a única certeza sobre o show de Hermeto que ocorre amanhã às 19h, na praça Zeca Padeiro, em Votorantim, é de que será imprevisível.

A criatividade inesgotável de Hermeto parece ser a principal razão para o fato de seus shows atraírem sempre um público com perfil variado, mas com destaque para o grande número de jovens. "Se eu tocar sempre a mesma coisa e do mesmo jeito, aquilo vai envelhecer junto comigo. Isso acontece com alguns artistas da minha idade que não inovam. Na plateia só tem coroa", resume.
Músico autodidata, Hermeto começou tocando flauta de pífano ainda pequeno em Lagoa da Canoa, em Arapiraca. Para evitar a exposição ao sol por causa do albinismo, passava os dias embaixo das árvores tocando para os passarinhos enquanto seus pais trabalhavam na lavoura. A carreira profissional, porém, começou 1950 como sanfoneiro de um grupo de música regional da Rádio Tamandaré, em Recife. Em 1966, ao lado de Heraldo do Monte (guitarra), Théo de Barros (violão) e Airto Moreira (bateria e percussão), Hermeto fez parte do lendário Quarteto Novo, grupo de música instrumental que entre outras bandas inspirou os Beatles.

Hermeto é criador da chamada música universal, definida por ele como a confraternização entre os povos através da música feita pela mistura sem preconceitos, mas com bom gosto harmônico, rítmico, melódico e tímbrico. "Se um cara vende só banana, ele vai agradar só quem gosta de banana. Mas se ele tem uma banca de frutas variadas, que também vende carne, sapato, camisa e chapéu de todo tipo ele vai agradar muito mais. A música universal é isso: uma loja grandona do tamanho do universo com muita versatilidade", compara Hermeto, comemorando a grande quantidade de grupos existentes que seguem a linha da música universal, inclusive no exterior.

O instrumentista, que lá fora já foi admirado por nomes como Miles Davis, Herbie Hancock, Wayne Shorter e Chick Corea, se mostra tão intuitivo que "vê" as notas musicais em uma aquarela multicolorida. "Quando toco um arranjo ou uma harmonia vou percebendo o clima. Ponho um azul claro, depois um branco... Às vezes coloco um amarelo", compara. "O segredo é saber misturar as cores", acrescenta.
Morando há dez anos em Curitiba, Hermeto aproveita a entrevista, realizada por telefone, para divulgar o primeiro CD solo da namorada e integrante do grupo Aline Morena, gravado recentemente mas que ainda não teve shows de lançamento. Intitulado Sensação, o disco tem 18 faixas, sendo sete composições de autoria de Hermeto e cinco de Aline, além de regravações de canções de Edu Lobo, Chico Buarque e Guinga. "O disco tá lindo. Ela vai levar para Votorantim para quem quiser comprar", diz.

Hermeto Pascoal, que já publicou o Calendário do som, um livro com 365 músicas, uma para cada dia do ano, é modesto ao dizer que aquela obra "foi apenas uma introdução". Atualmente, o músico reúne cerca de 6 mil músicas escritas, inclusive em papéis de guardanapo e em rolos de papel higiênico. "A cada música que eu escrevo, eu agradeço a Deus. Acho que ele está cansado de mim", brinca o músico.


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