A Secretaria da Saúde de Votorantim e representantes dos Conselhos Locais de Saúde da cidade participaram na semana passada da apresentação dos resultados de uma pesquisa realizada no Pronto Atendimento Municipal pelo Curso de Enfermagem da Universidade de Sorocaba (Uniso). O estudo científico avaliou a demanda do PA, entrevistando os usuários e observando práticas e condutas. A partir desta etapa de levantamento de dados foi apontada a necessidade de promover ações contínuas visando à orientação dos munícipes para o uso adequado da unidade de saúde efetivamente para os atendimentos aos quais está destinada.
Medidas para melhorias foram indicadas e a Secretaria da Saúde anunciou que já está trabalhando para a conscientização dos usuários e para que todas as unidades atuem de forma permanente para incentivar a mudança de hábitos e promover os esclarecimentos necessários aos munícipes.
"A busca do PA para casos que não são de urgência e emergência é um problema que não é exclusivo de Votorantim, é uma questão identificada em muitas cidades e já houve até uma campanha regional para orientar os cidadãos", comentou a secretária da Saúde, Izilda Maris Chiozzotto de Moraes, ao final da apresentação. Para os pesquisadores, as melhorias dependem do envolvimento não apenas dos gestores da saúde, mas de toda população e dos Conselhos Locais no papel de orientar, esclarecer dúvidas, acompanhar os serviços e atuar fazendo a ligação entre os usuários e os gestores.
Foram convidados para a apresentação os membros dos Conselhos Locais de Saúde que funcionam nas áreas de abrangência de cada UBS da cidade. Dos treze conselhos, seis tiveram representantes na reunião e puderam ainda esclarecer dúvidas, relatar situações observadas e saber como podem contribuir para que os usuários utilizem corretamente cada nível de atenção à saúde disponível na cidade.
Os conselhos que estiveram representados foram das UBSs Jardim Serrano, Antônio Angelo Raimundo e Damiana Silva Cruz; Itapeva, Amélia Milan Soares; Novo Mundo, Vanda Vital Teixeira; Vila Garcia, dona Helena e Parque Bela Vista, José Luiz Miranda e Daniel Sentelhas. Os vereadores também foram convidados, a vereadora Fabíola Pedrico enviou representante e o vereador Antônio Pereira, pastor Tonhão, esteve presente.
A secretária destacou ainda que, um serviço de urgência e emergência sobrecarregado com uma demanda inadequada - ou seja, com casos que deveriam ser atendidos em outras unidades de saúde, especialmente na rede básica - provoca um efeito em larga escala. "Por mais que o serviço esteja equipado e tenha profissionais para atender, o tempo de espera aumenta, ocorrem reclamações porque as pessoas desejam ser atendidas rapidamente, a triagem e classificação de risco nos ajuda a identificar os casos que precisam ser priorizados, mas a sobrecarga prejudica a rotina mesmo assim", comentou.
Conforme a secretária, medidas vem sendo adotadas para tentar direcionar corretamente a busca dos pacientes entre os serviços disponíveis, garantir informações e orientações aos usuários e também na gestão dos atendimentos no PA. Neste sentido, uma das sugestões apresentadas pelos pesquisadores da Uniso foi preparar equipes para identificar e melhorar a atuação em situações que são fora da rotina do serviço e, assim, ser dado o andamento mais adequado e mais rápido. Conforme Izilda, "Algumas das sugestões já estão sendo implementadas. A realização da pesquisa foi muito importante para conhecermos ainda mais os detalhes dessa demanda e todas as propostas de melhorias são viáveis", adiantou.
A pesquisa
Foram entrevistadas pelos estudantes 550 pessoas entre fevereiro e abril deste ano. O objetivo do trabalho foi fazer a caracterização da demanda e do perfil dos usuários. A apresentação dos resultados foi feita no auditório da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Jardim Serrano por dois estudantes representando a turma do nono período de Enfermagem, Iara Marchetti e João Santos. A supervisão foi do professor Irineu Contini, um dos docentes que atuou com o grupo durante a pesquisa.
Um dos resultados destacados pelo estudo foi a constatação de que a maior parte dos pacientes procura o PA por iniciativa própria, sendo que o índice de pacientes encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde foi de apenas 3%. "O indicado é que a pessoa procure a UBS e seja avaliada, se for mesmo necessário o atendimento de urgência, a unidade faz o encaminhamento ao PA ou a outro serviço que seja apropriado para o caso", frisou Iara, uma das envolvidas com o estudo.
Dentre os pacientes entrevistados, 40% declararam não ter comparecido à Unidade Básica de Saúde da sua região há mais de um ano, utilizando-se desta busca espontânea pelo PA quando necessitam de algum atendimento. Sobre o motivo de não procurar unidade de saúde, muitos assumiram ir ao PA visando à obtenção de um atestado médico, outros relataram que adotam essa postura por hábito ou informam motivos que foram checados e não confirmados, como acreditar que não há médico na UBS.
A Secretaria da Saúde informou no evento que todas as UBSs possuem serviço de acolhimento para avaliar o paciente que chega sem consulta marcada e classificar a necessidade de atendimento. O encaminhamento de cada caso leva em conta essa classificação e, dependendo do caso, o paciente pode passar por uma consulta na hora, por meio de um encaixe, também pode ter sua consulta agendada de acordo com a disponibilidade de vagas ou ser encaminhado para a unidade de urgência e emergência. Esse acolhimento é feito por profissional de enfermagem respeitando resolução do Conselho Regional de Enfermagem (Coren).
O uso de equipamentos de som nas unidades para informar e orientar os usuários foi uma das sugestões apontadas na conclusão da pesquisa e a Secretaria da Saúde informa que esse tipo de serviço já começou a ser feito. O grupo de pesquisadores também sugeriu a produção e distribuição de material informativo e de outras estratégias para divulgação e esclarecimento sobre o protocolo de classificação de risco. Fazer o agendamento do paciente em uma consulta na UBS quando ele procura o PA foi outra medida apontada, visando à criação ou fortalecimento de um vínculo do usuário com a unidade básica onde ele pode fazer acompanhamento de rotina, participar de ações preventivas e de programas para acompanhamento de hipertensão e diabetes, por exemplo.
Credibilidade dos dados
A apresentação foi acompanhada pela secretária da Saúde, diretores da Secretaria e coordenadores de unidades de saúde. Conforme a secretária, a realização da pesquisa de forma totalmente isenta e com a credibilidade da Uniso foi muito bem recebida. Dentre os itens apontados no diagnóstico do estudo, a secretária comentou que vários já eram de conhecimento, mas o rigor científico no levantamento de dados garante um maior balizamento para dar continuidade a algumas iniciativas já em fase de implantação e para a tomada de decisões e planejamento de novas intervenções visando às melhorias necessárias, especialmente no que se refere ao uso adequado do PA.
"Quando ocorre a busca inadequada de um serviço, todas as outras esferas de atendimento ficam prejudicadas", sentenciou a secretária. No que se refere ao PA, ela destacou que existem outros efeitos e prejuízos de curto e longo prazo, já que os pacientes não conhecem e não frequentam as UBSs onde poderiam estar participando de programas de saúde preventiva. "O reflexo disso pode ser, por exemplo, que esse paciente chegará ao serviço algum dia, mas já poderá apresentar complicações ou um estágio avançado de sua patologia, problemas que poderiam ter sido tratados, amenizados ou evitados", explicou.
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