Revolução mobilizou a população de Sorocaba

Jornal Cruzeiro do Sul

   A Fábrica Votorantim, por iniciativa do diretor-presidente comendador Antonio Pereira Ignácio também colaborou

Todas as doações feitas em Sorocaba para o movimento constitucionalista eram publicadas com detalhes em jornais da época - REPRODUÇÃO

 Cidadãos fizeram donativos em ouro, prata para o movimento constitucionalista


Sorocaba não foi palco de batalhas durante a Revolução Constitucionalista de 1932, mas a população esteve envolvida tanto na derrubada do governo provisório de Getúlio Vargas quanto na promulgação de uma nova Constituição. Calcula-se que mais de 700 sorocabanos forneceram donativos em ouro, prata, pedras preciosas e outros valores para reforçar os recursos financeiros do governo paulista durante os três meses de guerra. O valor chegou a aproximadamente 250 contos de réis.

Uma comissão chegou a ser organizada em Sorocaba para receber os donativos e encaminhá-los ao comando do movimento constitucionalista. Somente nos primeiros 30 dias de arrecadação, a cidade mandou duas gôndolas com 40 toneladas de metais - entre latão, cobre, chumbo e ferro - ao Serviço de Material Bélico de São Paulo.

Todas as doações feitas em Sorocaba para o movimento constitucionalista eram publicadas com detalhes em jornais da época. A lista inclui a entrega de balas de fuzis, sabres, caixas de espoletas, espadas e até granadas. Delelmo Filippini forneceu uma máquina de moer, Myriam Coló entregou um total de três sacos de arroz, Amaury, Benjamin e Nelly Santos cederam um alfinete de ouro para gravatas e João Feliciano presenteou com 20 quilos de milho. Já Zezé Bertoloti Avino destinou dois vasos, uma travessa de bronze e um cinzeiro do estanho.

Curiosamente, o farmacêutico Benedicto Pedroso Athanagildo doou dois livros para o movimento constitucionalista. Um exemplar foi destinado ao sorocabano que fornecesse o maior donativo ao tesouro da revolução. O outro foi vendido a "favor das famílias pobres".

Quem também ajudou a Revolução de 32 foi o Esporte Clube São Bento. A entidade, por meio do presidente Paschoal Ciardi, doou seis taças ao movimento constitucionalista. A maior e mais antiga delas, feita de metal, foi conquistada no Campeonato Sorocabano de 1922.

As doações eram feitas na Prefeitura e na Delegacia de Sorocaba. Um barril de madeira também foi colocado em frente ao Clube Recreativo, região central da cidade, para a população poder depositar os donativos.

O presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS), Adilson César, disse que os doadores eram recompensados pelo governo paulista. "As pessoas recebiam uma aliança de metal com a frase "Dei ouro para o bem de São Paulo"", conta.

Segundo Adilson César, as empresas metalúrgicas de Sorocaba ajudaram a confeccionar os capacetes de aço usados pelos soldados. A Santa Casa de Misericórdia também ficou mobilizada para atender os feridos nas batalhas.

A Fábrica Votorantim, por iniciativa do diretor-presidente comendador Antonio Pereira Ignácio, se prontificou a servir "lanches expressos" aos soldados que passassem por Sorocaba rumo ao sul. O cardápio continha três pastéis, dois sanduíches de carne de porco e presunto, um pãozinho com linguiça, um ovo cozido, queijo e banana. Por falta de garrafas, a empresa preferiu não entregar café aos combatentes - já que não havia "um bom vinho do Porto".

A falta de mantimentos durante a batalha também criou o chamado "pão de guerra". Um decreto estadual obrigou toda padaria a acrescentar fubá na receita com o objetivo de economizar na farinha de trigo e aumentar o rendimento da produção.

Após o término da revolução, parte das doações feitas pelos sorocabanos retornou à cidade. O dinheiro foi entregue à Santa Casa e a outros locais de caridade.

A revolução ocorreu em 32 cidades do interior de São Paulo. Houve três frentes de combate, nas divisas de Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. Os paulistas, sem aliados, entraram em guerra contra o restante do País.