Jornal Cruzeiro do Sul
Eric MantuanPrimeiro presidente da FPF vindo do interior, Alfredo Metidieri também comandou o São Bento por 15 anos
Comendador em entrevista para o Projeto Memória, da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA) - LUIZ SETTI / ARQUIVO JCS (2/10/2006)
A vitória do sorocabano na eleição para o cargo máximo da FPF, em 1976, começou a ser construída inicialmente com os votos dos times considerados "pequenos" -- América (São José do Rio Preto), Botafogo e Comercial (Ribeirão Preto), Ferroviária (Araraquara), Guarani (Campinas), Juventus (capital), Marília, Noroeste (Bauru), Paulista (Jundiaí), Ponte Preta (Campinas), Portuguesa Santista (Santos), São Bento (Sorocaba) e XV de Novembro (Piracicaba), o chamado "Grupo dos 13", que defendia mudanças dentro da Federação, como igualdade de mandos de campo e melhores condições para revelação de atletas. Naquela época, o governo estadual tinha total influência nas decisões da FPF e, por isso, o novo presidente da entidade deveria ser ligado à Arena, o partido governista, do qual Alfredo era membro.
O primeiro nome indicado para a eleição fora Nabi Abi Chedid, líder arenista na Assembleia Legislativa. Ele contava com o apoio do então governador, Paulo Egydio Martins, mas não obteve unanimidade entre os clubes. Metidieri, então, foi lançado candidato, e apesar de forte campanha contrária feita por parte da imprensa da capital, como o Diário da Noite, ou de pressões dentro do próprio partido, que chegou a ameaçá-lo de ser suspenso da legenda, conseguiu conquistar a confiança do presidente em exercício, José Ermírio de Moraes -- de quem fora empregado nas Indústrias Votorantim. Com o apoio de Palmeiras, São Paulo e Santos, Metidieri derrotou Chedid por 19 votos a 3. Só não votaram nele o Corinthians, a Portuguesa e o próprio São Bento -- porque Alfredo não quis votar nele mesmo.
"Fiz a melhor gestão que fizeram por lá até hoje" -- relembrou o ex-presidente, em entrevista concedida aoProjeto Memória do Jornal Cruzeiro do Sul em outubro de 2006. "Entreguei a FPF com uma média de 16 mil pessoas no Paulistão (a título de comparação, em 2014, a média de espectadores no estadual foi de 5.675 pagantes, enquanto o Brasileirão teve 16.555 torcedores por jogo). Quando entrei, o ingresso custava 20 cruzeiros. Quando saí, em 1978, era 30 cruzeiros e por conta da inflação. Quando eu saí, aumentaram para 80 cruzeiros e o público despencou", conta.
Para levar o público de volta ao Paulistão, Metidieri e sua equipe criaram uma nova fórmula de disputa. "Os quatro grandes eram cabeças-de-chave, e distribuía sucessivamente os outros, dos mais fortes até os mais fracos. E embora contasse a pontuação somente no grupo, todos jogavam contra todos. Tínhamos também duas premiações, a Taça Cidade de São Paulo e o Campeonato Paulista. Palmeiras, São Paulo, Corinthians jogavam mais, e também davam mais renda", exemplifica.
Traição
Apesar da evolução do campeonato, Metidieri não conseguiu a reeleição em 1978, perdendo o pleito para Nabi Abi Chedid. "A fórmula da eleição mudou. Quando venceu o meu mandato, eu fui desligado, e entrou um elemento para administrar a FPF por 15 dias, até que fosse realizada a eleição de acordo com o novo estatuto, que veio de Brasília. O presidente passou a ser eleito com o voto das ligas. O filho do Nabi era o presidente das ligas esportivas, e eu perdi por 12 pontos", lembra.
Após esse episódio, Metidieri começou a se desligar do futebol. Retornou à presidência do São Bento, substituindo Edson de Paula Gasbarro, até transmitir o comando para um grupo de empresários (Benedito Pagliato, Flávio Chaves e Luiz Ramires), em 1980. "Me afastei mesmo. Fiquei desiludido das pessoas que encontrei na Federação Paulista. Futebol, só pela televisão. Tenho cadeira cativa no CIC -- estádio que inaugurou em sua última passagem pela presidência do Azulão, em 1978 -- mas não entro, seja o time que for", afirma. A Indústria Têxtil Metidieri, empresa que fundou em Votorantim e chegou a ter 1350 funcionários, foi vendida na mesma época para um grupo do Nordeste. Atualmente, Alfredo vive em Sorocaba, no bairro de Santa Rosália.

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