segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Amigos querem ajudar haitiano a visitar esposa e filhas nas férias

Jornal Cruzeiro do Sul
Larissa Pessoa


O único contato que o haitiano tem com a família é através de redes sociais - PEDRO NEGRÃO


Trabalhar muito e conviver com a solidão e a saudade para proporcionar uma vida mais digna para a família é a rotina do haitiano Jackson Cilus, 35, que vive em Sorocaba há dois anos e trabalha como auxiliar de limpeza. Tomados por empatia, um grupo de amigos agora se mobiliza para arrecadar R$ 5 mil e assim financiar a viagem de ida e volta de Jackson para seu país de origem no mês de novembro, quando ele terá férias. "Sabemos que o sonho dele mesmo é trazer a família, mas primeiro vamos tentar arrecadar uma quantia para a viagem e depois, conforme a força da campanha, vamos ajudar de outras formas", conta Alexandre Anézio, 30, um dos envolvidos na vaquinha. Atualmente o único contato que o haitiano tem com a esposa, as três filhas e a mãe, é através de redes sociais.

Os 5.500 quilômetros de distância que separam Jackson da família, porém, não são capazes de tirar o sorriso de seu rosto e muito menos a esperança de reencontrar seus entes, que vivem em Bessin-Bleu, distrito de Porto de Paz, uma das regiões mais afetadas pelos terremotos que atingiram o Haiti em 2010. "Lá já era difícil e ai teve terremoto, que destruiu minha casa, destruiu tudo e ficamos sem nada, sem trabalho." Em sua terra natal, Jackson trabalhava como bancário e além do crioulo -- idioma oficial do Haiti baseado no francês -- ele também fala espanhol, o que facilita seu entendimento e sua comunicação no Brasil.

Deixar a família para trás, lembra ele, foi uma decisão difícil e exigiu, e ainda exige, muitos sacrifícios. Em 2014, quando decidiu procurar em Sorocaba um novo recomeço, ele conversou com um amigo e conseguiu estadia temporária na cidade. Para chegar até aqui foram necessários muitos dias de viagem, que o levaram até o Equador, depois para o Peru e depois para o estado do Acre. "Do Acre até São Paulo foram cinco dias de ônibus e depois segui para Sorocaba." Por alguns meses ele morou de favor na casa desse conhecido que o incentivou a deixar o Haiti, mas depois, conta, foi preciso morar sozinho, pagando aluguel no Jardim Tatiana, em Votorantim. Jackson tem um visto permanente de refugiado e sua situação no Brasil está legal.

A arrecadação da quantia necessária para a viagem, conta Ilgner Poliszuk Moreas, 24, que também está envolvido na campanha, é feita através do link http://bit.ly/2c8jcIR e foi iniciada em 16 de agosto. Até a última terça-feira (6) havia sido arrecadado R$ 2.715, ou seja, 54% da meta. "Até novembro, que é quando ele tira férias, acho que conseguiremos atingir o objetivo. Para conseguir trazer a família dele seria necessário o dobro disso, cerca de R$ 10 mil." Os amigos também pretendem criar uma fanpage no Facebook e realizar rifas. Todo o valor arrecadado será utilizado na compra das passagens de ida e volta, na alimentação e despesas locais. O plano é que a viagem dure 27 dias, com a ida no dia 1º e retorno no dia 27 do mesmo mês.

Jackson tem sonhado com o momento de voltar para a casa e conta que muitas vezes chora de saudade e anda de cabeça baixa. O haitiano demonstra gratidão aos amigos que se mobilizaram para realizar seu sonho. "São pessoas de bom coração e Deus preparou cada um deles para que me ajudassem." Ele conta que a situação no Brasil também está complicada, mas garante que se tiver a esposa e suas três meninas por perto, tudo será mais fácil. "Saudade dói demais e eu preciso ver que elas estão bem e abraçar cada uma."

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