domingo, 25 de março de 2018

Projeto Quintaneja divulga música sertaneja de raiz

Jornal Cruzeiro do Sul
Felipe Shikama

Como cortesia, é distribuída gratuitamente para o público paçoca de carne no pilão, iguaria de origem tropeira - ERICK PINHEIRO

Todas as noites de quinta-feira, o salão social da Associação de Moradores do Bairro Rio Acima, em Votorantim, se transforma em uma casa de shows voltada exclusivamente à música sertaneja de raiz. As apresentações de duplas da região, além de artistas convidados, fazem parte do projeto Quintaneja, realizado com apoio da prefeitura de Votorantim, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo (Sectur).

Idealizado há 13 anos pelo produtor, cantor e apresentador Diamantino, nome artístico de Luiz Ricardo Sutil, o projeto tem entrada gratuita e é exibido na televisão, pelo canal comunitário TV Votorantim.

Diamantino e Márcio Nunes são os anfitriões e recebem duplas convidadas de cidades da região - ERICK PINHEIRO

Segundo Diamantino, cada edição do projeto recebe um público que varia entre 100 e 150 pessoas. A maior parte é frequentador assíduo, como o aposentado José Maria dos Santos, que tem o hábito de chegar no salão com pelo menos uma hora de antecedência, "para pegar um lugar bom, porque lota".

José Maria dos Santos chega com antecedência - ERICK PINHEIRO

Morador da Vila Vasques, Santos considera o projeto como um dos últimos refúgios da música sertaneja raiz. "Eu gosto muito de ouvir uma moda de viola. Toda quinta eu venho aqui apreciar e me distrair", afirma, citando que além de abrir espaço para duplas da região, o projeto recebe cantores de renome nacional como Joaquim, que com a dupla Joaquim e Manuel alcançou enorme sucesso ao gravar pela primeira vez a canção "Boate azul", de Benedito Seviero. "Ele esteve aqui três semanas atrás", destaca. 

Aparecida Oliveira: ambiente descontraído e familiar - ERICK PINHEIRO



A aposentada Aparecida Maria da Silva Oliveira também possui cadeira cativa no projeto. "Gosto muito de música sertaneja, no estilo Tonico e Tinoco, porque me lembra do tempo do rádio, da infância e dos parentes que já se foram", comenta.

Além da música, Aparecida afirma que outro ponto alto do projeto é o "ambiente descontraído e familiar". A aposentada mora na mesma rua da Associação de Moradores, mas destaca que a paixão pela música de raiz a faria pegar conduções e até caminhar alguns quilômetros, se necessário.

Aliás, durante todo o ano passado, antes de retornar ao bairro Rio Acima, o projeto Quintaneja estava sendo realizado no Espaço Aquário Cultura "Claudir Calixto Mainardi", ao lado da Praça de Eventos Lecy de Campos. "E mesmo assim eu ia para lá toda quinta-feira", diz Aparecida.

Diamantino comenta que, desde a inauguração em 2005, o Quintaneja já passou por outros endereços, inclusive um estúdio de televisão, mas o salão da associação de moradores de bairro é o espaço que atrai público mais expressivo. Ele detalha que, diferentemente do Aquário Cultura, que é um prédio público, a sede do Rio Acima é equipada com cantina e o lucro da venda de pastel, salgados e bebidas é revertido para a própria associação.

O salão da Associação de Moradores do Bairro Rio Acima é o espaço que atrai público mais expressivo - ERICK PINHEIRO

Preservação estética 

O programa Quintaneja segue um formato fixo, no qual Diamantino e seu parceiro Márcio Nunes são os anfitriões e recebem duplas convidadas de Votorantim e cidades da região como Tatuí, Pilar do Sul, Salto de Pirapora, entre outras. O atual apoio da Sectur, segundo Diamantino, consiste no repasse mensal de verba de R$ 1 mil, que é usada para pagar o cachê dos artistas convidados. 

Na avaliação de Diamantino, o sucesso da iniciativa está na preservação das características estéticas da autêntica música sertaneja, por isso, ele é radical: instrumentos eletrônicos como teclados e batidas de samplers, por exemplo, são expressamente proibidos. "No máximo eu aceito um contrabaixo. Playback, nem pensar". 

A manicure Fabiana Mello Moraes, moradora de Sorocaba, destaca que o Quintaneja mantém viva a "verdadeira música de raiz" que, segundo ela, está sendo esquecida nas produções fonográficas das duplas sertanejas da atualidade. "Hoje em dia está tudo muito diferente. Eu gosto daqui por que eles não deixam morrer a coisa tradicional". 

Entusiasta da música sertaneja, especialmente da sonoridade da viola, Fabiana assumiu o papel de uma espécie de promotora do projeto e ao longo da semana se dedica voluntariamente na divulgação do evento nas redes sociais. "Como cortesia ao público que vem prestigiar, a gente distribui gratuitamente paçoca de carne no pilão, que é uma iguaria de origem tropeira", diz. 

As apresentações do Quintaneja são gravadas e exibidas na TV Votorantim (Canal 3 da Supermídia e 6 da Net) na semana seguinte. Os programas, inéditos, vão ao ar às quintas-feiras, às 20h, e são reprisados em outros dias, em horários alternativos.


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