Cerca de 1,4 mil cubanos constituíram família no Brasil, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). G1 conversou com profissionais que permaneceram em Sorocaba e Votorantim após saída de Cuba do programa Mais Médicos.
Médico cubano trabalhou desde 2014 em Sorocaba — Foto: Carlos Dias/G1
Desempregado, a decisão do médico Yonel Cruz de ficar no Brasil trouxe um dilema em meio à época de comemorações: vender o que conquistou em quatro anos de trabalho para pagar as contas ou focar a esperança e as economias em um futuro incerto de oportunidade de emprego na área.
Aos 35 anos, o cubano trabalhava desde 2014 em Sorocaba (SP) e casou-se com uma brasileira. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), cerca de 1,4 mil profissionais constituíram família no país.
"Minha meta é voltar a usar o jaleco que está pendurado com carinho e tanta paixão que representa todos os anos de estudo. A esperança é a única coisa que a gente tem e, neste Natal, temos que celebrar com a família, mas não como nos anos anteriores. Tem que guardar o pouquinho [de dinheiro] que conseguimos guardar", diz Cruz.
Cuba confirmou na quinta-feira (20) o retorno de 7.635 médicos que integravam o programa Mais Médicos no Brasil e que atendiam principalmente áreas menos favorecidas. Em novembro, o governo cubano decidiu encerrar o acordo firmado há cinco anos com o Brasil após críticas feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Bolsonaro condicionou que houvesse a revalidação de diploma e contratos individuais com o governo brasileiro. Caso eles passassem pelo processo, os médicos receberiam o salário integral. Cuba repassava para os profissionais 30% do que eles recebiam pelo trabalho.
Os pais do médico Yonel Cruz estão em Cuba e recebiam ajuda financeira do filho. No entanto, atualmente ele conta com o apoio dos sogros brasileiros, que cederam um quarto na casa da família para ele e a esposa enfermeira morarem até conseguirem se estabilizar.
"No Brasil eu tinha encontrado trabalho e também consegui amor. Acho que o mais importante é a família e, de fato, por isso estou aqui [no Brasil]. Entendemos a situação dos desempregados no Brasil e é difícil porque todo mundo sabe que quem estuda medicina sabe fazer isso, sabe medicar e trabalhar como médico."
Cruz agora estuda para tentar a revalidação do diploma e retomar a carreira de médico no Brasil.
'O Natal vai acontecer'
A situação da médica cubana Liliana Alvarez, de 34 anos, é semelhante. Segundo a profissional, ela chegou ao Brasil em 2016. Na época, eram mais de mil médicos que tiveram que fazer a documentação e aguardavam a distribuição pelo país.
Liliana trabalhou em Votorantim, mesma cidade onde conheceu o marido em um shopping, se apaixonou e decidiu recomeçar a vida. Antes de conhecê-lo, foram sete meses de dedicação à população.
"Trouxe minhas duas filhas após um ano aqui. Depois que elas chegaram, nós nos mudamos para Sorocaba e casamos em agosto de 2018",
O marido sorocabano tinha um terreno onde atualmente está a casa semi-pronta do casal. Assim que o contrato foi encerrado, os dois se mudaram para o imóvel, mesmo não estando totalmente pronto.
Casamento foi realizado em agosto de 2018 — Foto: Arquivo pessoal
"Alguns detalhes de fora [da casa] ainda precisam ser feitos e graças a Deus essa fase conseguimos terminar. Mas tínhamos feito contas, porque eu tinha emprego. Crediário e outras contas básicas não vou conseguir pagar. O Natal vai acontecer e não vamos deixar de celebrar."
"Teremos limitações, não será igual aos outros anos, mas muito difícil conseguir, por exemplo, dar algo para minhas filhas. É uma época linda, a família se reúne e um dará força para o outro", completa.
Os cerca de 15 médicos cubanos que ficaram em Sorocaba e Votorantim montaram um grupo no WhatApp. A ferramenta, segundo Yonel Cruz, os auxilia em uma troca de informação todos os dias para se atualizarem sobre novas notícias sobre o futuro dos profissionais no Brasil.
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