terça-feira, 20 de agosto de 2019

Flu acerta em demitir Fernando Diniz. Utopia virou estagnação

Do R7
COSME RÍMOLI

Clube com R$ 650 milhões em dívidas, está na zona do rebaixamento. Diniz insiste em fazer times fracos jogar como o Barcelona de Guardiola. Absurdo



Dez anos estagnado na utopia. Sem resultado não há como sobreviver no esporteReprodução Twitter

São Paulo, Brasil
As pessoas têm o direito a obsessões.
Mas precisam discernir.
Diferenciar.
O que é utopia e é realidade.
Ainda mais quando estão lidando com o orgulho, com a felicidade, ou com a frustração, a tristeza de centenas, milhares, milhões de pessoas.
E com a história, com o dinheiro de uma instituição.
Ousadia em exagero no esporte costuma ser sinônimo de suicídio.
Fernando Diniz foi um jogador habilidoso, veloz, de toques rápidos, precisos. Ficou longe de ser craque. Acabou útil ao Palmeiras, Corinthians, Fluminense, Flamengo e outras equipes.
Seu grande trunfo era a visão de jogo, diferenciada, as orientações táticas aos companheiros.
A transição, aos 35 anos, para o cargo de treinador era uma consequência mais do que esperada.
Só que em dez anos de carreira, ele atinge a marca de 13 trocas de equipe.
Acaba de ser demitido do Fluminense.
E com os dirigentes tendo o mesmo sentimento do dono do futebol do Athletico Paranaense, Maurco Celso Petraglia, e os outros clubes que o dispensaram.
O de enorme desperdício.
Diniz domina o vestiário. Tem o controle, a dedicação dos atletas. Eles compreendem e compram sua ideia tática de como o time irá se comportar.
Suas palestras são novas, corajosas.
Os dirigentes acreditam que ajudarão o treinador a fazer o Brasil sair do atraso tático, que está enterrado desde a década de 90.
Só que a cruel realidade atropela a utopia.
Fernando Diniz é obcecado.
O seu início de sua carreira, em 2009, coincide com o ápice do Barcelona de Pep Guardiola.
O time venceu a Champions League, o Campeonato Espanhol e a Copa do Rey.
Revolucionou o futebol do mundo com seu tiki-taka.
Por 70% a 80% do tempo de jogo, a equipe tinha o domínio da bola. Ficava trocando passes, encurralando o adversário.
Tudo tinha início na saída de bola, sem chutões, mas com toques rápidos, precisos. A bola chegava com qualidade ao seu verstátil meio-campo. A partir dali, ninguém tinha posição fixa.
Sem a bola todos voltavam para recompor.
Era um futebol brilhante e vencedor.
Serviu como referência para a Espanha campeã do mundo em 2010, na África do Sul.
Ter a alma impregnada com o que viu, e quis carregar para si, se tornou veneno para Fernando Diniz.


Festa do humilde CSA no Maracanã. Inaceitável derrota do FluminenseReprodução Twitter
O futebol do único país pentacampeão do mundo é impregnado pelo pragmatismo.
Ou seja, o time ganhou, o técnico fica.
A equipe perdeu, o treinador sai.,
O 'futebol de resultados' domina desde a base.
Técnicos de meninos de dez anos não estão preocupados na melhor formação dos garotos. Ensiná-los a chutar, driblar, se apaixonar pelo futebol.
Mas sim com os resultados.
Por isso, os futuros meias se transformam em volantes. Primeiro, todos marcam. E depois, atacam com 'consciência', com poucos atletas. Da maneira tradicional. Com cada um preenchendo seu espaço, como uma equipe de pebolim.
Fernando Diniz quer impor um esquema tático calcado no Barcelona de Guardiola. Pouco importa se o que o encantou ficou dez anos no passado. Nem o catalão usa a mesma estratégia no Manchester City.



Time que virou obsessão para Diniz. Pena que nunca teve Messi, Iiniesta...Barcelona
Imagine Diniz tentando fazer o mesmo com elencos limitados como o do Atlético Sorocaba, Audax, Oeste, Paraná, Votoraty, Paulista.
Assim como ousou fazer no Athletico Paranaense e no Fluminense. Lógico que não daria certo, por mais que houvesse encantado dirigentes e jogadores.
Diniz não tem Valdés; Puyol, Piqué, Touré e Sylvinho; Busquets, Xavi e Iniesta (Pedro Rodríguez); Messi, Eto'o e Henry (Keita). Esse foi o Barcelona que o encantou, campeão da Champions.
É preciso encarar a vida como ela é.
O último título de Diniz como treinador foi a Copa Paulista de Futebol, conquistada pelo Votoraty, equipe da provinciana cidade de Votorantim. Desde então, só fracassos.


Ganso. Absolutamente incompatível com a estratégia de DinizFluminense
O Fluminense perdeu o Carioca para o Flamengo.
Foi eliminado da Copa do Brasil pelo Cruzeiro nas oitavas.
Está classificado para as quartas da Sul-Americana, tendo o Corinthians pela frente.
Mas no Brasileiro, o vexame da utopia.
De 45 pontos disputados, o time conseguiu apenas 12.
O auge foi a derrota de ontem para o CSA, jogando no Rio.
Os jogadores se posicionaram a favor do técnico.
Alguns dirigentes também.
Só que o clube deve R$ 650 milhões.
Caminhar para o rebaixamento seria o pior que poderia acontecer.
Fuga dos poucos patrocinadores, diminuição drástica da cota de tevê, diminuição radical no preço dos ingressos, bancos negando empréstimo.
Esse era o cenário desenhado pelo time sob o comando de Fernando Diniz.
O elenco que tinha nas mãos é muito fraco.
Apesar da badalação em cima de Ganso, seu futebol dos anos 70, só prejudica ainda mais a utopia do técnico.
Muriel; Igor Julião (Miguel, 37’/2ºT), Nino, Yuri, Caio Henrique; Allan, Ganso, Daniel (Brenner, 15’/2ºT); Yoni González, João Pedro (Wellington Nem, Intervalo), Marcos Paulo.
Esse foi o time que escalou ontem no Marcanã, na derrota para o CSA, equipe de Alagoas fadada à Segunda Divisão.
A noite foi de agonia tosca.
Todos sabiam o final da história: agradecimento, dor na alma dos dirigentes.
Mas demissão sumária de Fernando Diniz.
Mano Menezes, Abel Braga, Jair Ventura, Enderson Moreira, Dorival Júnior.
Esses são os pragmáticos nomes que circulam nas Laranjeiras.
A utopia inconsequente já não existe mais.
Até quando Fernando Diniz será demitido?
Quando aprenderá?
O resultado é fundamental no esporte.
São dez anos de decepção.
A utopia virou estagnação.
Impossível não defender sua demissão...

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