domingo, 14 de novembro de 2010

"Sou músico; o resto é traquinagem"

Notícia publicada na edição de 14/11/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno B


Oswaldo Montenegro com o elenco de
Léo e Bia: longa que marca sua estreia como diretor

Pretendo apenas exercer a liberdade de tentar, nesses tempos pós-modernos, imprimir uma impressão digital aos delírios que me vêm à cabeça
Desencanado e ao mesmo tempo consciente daquilo que faz, Oswaldo Montenegro responde à última das perguntas da entrevista que concedeu ao Mais Cruzeiro, sobre a continuidade do seu trabalho em cinema, de forma incisiva: Não sei. Sou músico; o resto é traquinagem.
Pois bem: o traquinas Oswaldo Montenegro, como ele mesmo se define, é um dos destaques da sétima edição do CineFest Votorantim. Estará na cidade quinta-feira, dia 18, para exibir e conversar com o público sobre Léo e Bia, longa que marca sua estreia como diretor. A exibição acontece no auditório Francisco Beranger, depois da apresentação dos filmes que participam da mostra competitiva, esta com início previsto para as 20h. A entrada é franca.
Adaptação da peça homônima que ele escreveu nos anos 80, o filme tem um componente autobiográfico, e conta a história de uma trupe que, nos idos de 70, decide viver de arte. A ação é ambientada em Brasília, na vigência do regime militar. O elenco reúne Paloma Duarte, Fernanda Nobre e Françoise Forton, entre outros.
Léo e Bia conquistou os prêmios de melhor atriz (para Paloma Duarte) e de melhor trilha sonora no Festival de Cinema de Pernambuco. A produção musical é um dos destaques do filme. Artistas como Ney Matogrosso, Zélia Duncan, Sandra de Sá, Zé Ramalho e Paulinho Moska interpretam canções compostas por Oswaldo.
Sonhei em ver minhas músicas cantadas por esses artistas porque têm marca. Adoro os artistas que não se parecem com ninguém. Foi uma honra tê-los cantando minhas canções, comentou o autor.
À reportagem Oswaldo Montenegro disse que não se considera um cineasta. Cercado por uma equipe de ótimos profissionais, fiz uma experiência audiovisual que chamamos ‘filme, relatou. Pretendo apenas exercer a liberdade de tentar, nesses tempos pós-modernos, imprimir uma impressão digital aos delírios que me vêm à cabeça.
Acrescentou que Léo e Bia é uma obra corajosa porque não recuou diante de nenhum limite. Quis fazer um filme que contasse uma história de forma hiper realista, num cenário inexistente, sem usar um único adereço. Botei músicos executando a trilha do filme ao lado dos atores e deixei que a história se misturasse com ensaios de teatro, a ponto de não serem mais separáveis.
Oswaldo decidiu adaptar o texto para cinema, depois de ter encontrado uma equipe de produção e atores que aceitaram a proposta estética proposta. Foi difícil achar alguém que topasse, contou.

Auto-suficiente, Oswaldo Montenegro não se considera, também, um produtor. Nunca captei grana para meus projetos. Não conheço as lei e não sei negociar. Ganho dinheiro com música e o uso prá fazer os projetos que me dão na cabeça.
A crítica detectou semelhanças entre Léo e Bia e Dogville, do dinamarquês Lars Von Trier, por conta da estrutura cenográfica. A produção brasileira foi rodada integralmente num galpão. Oswaldo Montenegro, porém, disse que com o filme europeu aprendeu outra coisa: coragem.
A trama fala, também, de idealismo, das expectativas da juventude de então. Quase quarenta anos depois, pode-se afirmar que a geração a que pertenceram Léo e Bia alcançou seus objetivos?, quis saber o repórter.
Os objetivos dos idealistas nunca são alcançados de forma total, mas sempre aparecem dentro das estruturas que eles tentaram transformar, contribuindo para que o mundo melhore. De cada projeto socialista que não foi viabilizado de forma total restam, dentro do próprio capitalismo, conquistas e avanços.

Oswaldo filosofa mais um pouco quando é lembrado de que o país testemunhou, na época em que o filme se passa, a repressão perseguir quem, como ele e os amigos, ousasse sonhar. O sonho não acaba porque faz parte do ser humano; apenas mudam as maneiras pelas quais o homem tenta ser feliz.
Serviço:
Léo e Bia
Filme escrito e dirigido por Oswaldo Montenegro com exibição marcada para a próxima quinta-feira, dia 18
Após a apresentação, o diretor comanda uma bate-papo com o público

A sessão acontece depois que forem exibidos os filmes inscritos na mostra competitiva (com início previsto para as 20h), no auditório Francisco Beranger, à Avenida Newton Vieira de Souza s/nº

A entrada é franca

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