Notícia publicada na edição de 14/05/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 9 do caderno A
Daniela Jacinto
Daniela Jacinto
Um estudante foi ameaçado com faca e uma professora recebeu uma pedrada
Uma reunião realizada pelo Conselho de Pais e Mestres, juntamente com a direção da Escola Estadual "Professor Daniel Verano", em Votorantim, decidiu ontem pela expulsão de cinco estudantes, a maioria com 15 anos de idade, que agrediram na quinta-feira passada, dia 5, diversos alunos do período da tarde, durante o intervalo das aulas. As vítimas foram crianças de 11 anos, matriculadas na sexta série do Ensino Fundamental. Durante a confusão, quem estava no caminho apanhou, inclusive professores.
Conforme relato dos pais dos alunos agredidos, uma das crianças foi ameaçada com uma faca e uma professora levou uma pedrada. Inconformados com o que aconteceu, os pais se uniram para pedir a expulsão dos agressores (foram identificados 11), durante reunião da qual participaram os professores e a direção escolar. No encontro de ontem foi decidido que cinco estudantes serão transferidos para outra escola, outros cinco somente não foram expulsos ainda porque aguardam vagas, e especificamente um dos adolescentes não voltará mais aos estudos. A mãe optou por não levar para outra instituição de ensino e fazer com que o filho trabalhe com o pai, caso que deve receber intervenção do Conselho Tutelar, já que o aluno está em idade escolar e não pode deixar os estudos, como determina a lei.
Ninguém soube dizer o que motivou a agressão, nem mesmo um dos alunos que foi expulso. O fato é que a violência estava planejada há pelo menos 15 dias, pois os estudantes maiores já tinham avisado aos mais novos para se prepararem que iriam "catar eles". As crianças levaram chutes, socos, foram pisoteadas, agredidas verbalmente e ameaçadas, uma delas com faca. Conforme os pais, seus filhos ficaram com medo de voltar à escola. Revoltados com a situação, os familiares das vítimas se uniram para tomar providências e realizaram duas reuniões, uma na quinta-feira e outra ontem, quando foram decididos os destinos dos acusados da agressão.
O único problema é que os outros cinco estudantes que aguardam vagas estão suspensos durante 10 dias, mas podem voltar para a escola, caso não haja vaga em outra unidade. Para C.T.S., mãe de um dos estudantes agredidos, as outras escolas estão se recusando a receber os alunos expulsos, por isso alegam que não há vagas. "Mas nós já sabemos por uma dirigente de ensino que tem vagas sim. Estou preocupada. Meu filho levou dois socos na costa e só não apanhou mais porque conseguiu se esconder no banheiro", afirmou.
Contra a violência
Todos os agressores identificados são adolescentes do sexo masculino que optaram por praticar violência contra estudantes menores do que eles e inclusive meninas. A.R.C., pai de um dos alunos que foi vítima da violência, disse que não vai tirar o filho da escola e sim irá ajudar a mudar essa situação. "Eu estudei nessa mesma escola e, na época, a Daniel Verano era muito conceituada. Lamento ver o que está acontecendo hoje", desabafou.
Para ele, o que está acontecendo na escola é um caso típico de bullying. "Os alunos agridem verbalmente e fisicamente professores e colegas", disse. O desrespeito, observa, ultrapassou os limites. "Eu mesmo presenciei outro dia uma situação constrangedora na porta da escola. Alguns alunos fecharam a entrada com as bicicletas, não permitindo que ninguém passasse, e quando veio a coordenadora, o estudante a humilhou e falou palavras de baixo calão".
Ainda conforme esse pai, o pior é que agora, depois do que aconteceu, os alunos expulsos estão ameaçando voltar para acertar as contas e fazendo ameaça pela internet. "Um dos agressores presente na reunião chegou a afirmar que se os outros não fossem expulsos e punidos também, que ele iria voltar para a escola e matar todo mundo. Nós não podemos deixar nossos filhos em casa porque a lei exige que eles estudem, mas o que a Justiça faz para a proteção deles?", questiona.
Uma das maiores insatisfações dos pais durante a reunião de ontem era a falta de apoio. Eles reclamaram não terem recebido nenhum apoio da Secretaria de Educação e nem do Conselho Tutelar. Também afirmam que a ronda policial não é feita com frequência na escola. "Nós nos unimos para encontrar soluções. Ficamos sabendo que dois alunos que praticaram a violência já tinham antecedentes pois estão com liberdade assistida."
Interessados em proteger seus filhos, os pais estão se organizando para garantir a segurança deles e gostariam que fossem instaladas câmeras na escola. "Se a gente não se unir e não tomar cuidado, pode acontecer nesta escola o que aconteceu em Realengo, no Rio de Janeiro." De outro lado, os pais dos alunos acusados de agressão mostraram-se ontem, durante a reunião, abalados com o ocorrido. Uma das mães, a que optou por punir o filho com a perda do direito de estudar, saiu chorando. Outra mãe, de um adolescente que já tinha sido expulso de outra escola, afirmou que a situação é complicada pois terá de levar seu filho a uma escola que fica mais longe. Ele, por sua vez, alegou não ter participado da confusão. "Eu gosto da escola e dos meus amigos", disse, com lágrimas nos olhos.
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