Banhistas ignoram avisos e se arriscam em mergulhos

 Notícia publicada na edição de 08/01/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 8 do caderno A 
Andrea Alves

Salto em água rasa é um dos motivos do aumento do número de lesões medulares

 Placa na Cachoeira da Chave alerta para o perigo - Por: Erick Pinheiro

 O aviso de risco de morte é ignorado e o mergulham de cabeça na água pode ser fatal - Por: Erick Pinheiro

A chuva veio apenas no fim da tarde de ontem, mas enquanto o sol ardia, moradores da região do Vitória Régia arriscavam-se em banhos no lago onde há poucos dias duas pessoas morreram afogadas. Na Cachoeira da Chave, em Votorantim, apesar do alerta de três placas colocadas praticamente às margens do rio, muitas pessoas entraram na água e algumas pulavam das pedras que existem no lugar. No local também havia uma placa informando sobre a qualidade inapropriada da água, onde muitas crianças se refrescavam do calor forte de sábado à tarde. No período em que cresce a quantidade de banhistas em áreas de perigo, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo alerta para o aumento de casos de lesão medular por mergulho durante o verão.

O levantamento do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, ligado à Secretaria de Estado da Saúde, aponta o mergulho em água rasa como um dos motivos do aumento do número de lesados medulares e que nesse período do ano passa de quarta para a segunda causa de lesão medular. Segundo o ortopedista Alexandre Fogaça, a cada semana cerca de dez pessoas ficam paraplégicas ou tetraplégicas em consequência desta prática recreativa em todo o país. Saltos mal avaliados em rios, piscinas e mar são muito comuns durante o calor. "Geralmente este tipo de acidente está relacionado ao uso de álcool e drogas que deixam os usuários sem noção do perigo", diz Fogaça.

Sentado à beira da água na Cachoeira da Chave, o professor de tênis de 20 anos, Lucas Ferreira, bebia uma cerveja. "Mas eu não entro na água, apenas venho aqui para encontrar conhecidos, afirmou. "Infelizmente tem gente que abusa, toma muita bebida alcoólica e vai pular na água", comentou enquanto alguns banhistas, que ignoravam o aviso de risco de morte em destaque nas placas colocadas recentemente no local, saltavam das pedras, mergulhando na água de cabeça. "Tem muita pedra ali. É perigoso".

A queda num local raso com o alto da cabeça faz com que o pescoço se dobre e o resto do corpo continue a se mover, causando a fratura de uma ou mais vértebras, como informa Secretaria de Saúde. O mesmo levantamento do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP demonstra que entre as vítimas deste tipo de acidente 90% são jovens, na faixa etária dos 10 aos 25 anos. Dos pacientes atendidos na ortopedia do HC com lesão medular causada por um mergulho mal calculado, 66% têm dano neurológico e levam sequelas para o resto da vida.

"O mais alarmante é que são jovens com uma vida pela frente", ressalta o ortopedista Alexandre Fogaça. "Antes de dar um mergulho é preciso conhecer o local e a profundidade de onde se vai nadar. Procurar fazer o primeiro mergulho de pé para ter maior amortecimento do impacto, evitar brincadeiras de empurrar amigos para dentro de lagos, rios, piscinas e, principalmente, não consumir drogas ou álcool antes da recreação", orienta Alexandre Fogaça.

Campanha em blog

Depois de ficar tetraplégico aos 17 anos quando furava uma onda numa das praias de Ubatuba, Leando Portella resolveu criar um blog, o Ser Lesado (www.serlesado.com.br) para postar informações relacionadas à tetraplegia, inclusão social e demais informações. É no blog que ele divulga constantemente campanhas que ressaltam o risco do mergulho, como a Use a Cabeça, Mergulhe de Pé!, iniciativa do Instituto Mover que começou na região do Rio Araguaia, em Goiás. Recentemente Portella conquistou o primeiro lugar na categoria saúde do concurso Top Blog 2011 por suas postagens.